Marcelo Brito
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No âmbito da Festa das Fogaceiras, o Salão Nobre da Câmara Municipal encheu, no dia 20, para testemunhar a outorga das duas distinções honoríficas atribuídas a D. Florentino de Andrade e Silva e à Associação de Dadores Benévolos de Sangue de Santa Maria da Feira.
Constituída em 1991, a Associação foi distinguida pelo “trabalho notável no Concelho, tendo colocado Santa Maria da Feira na lista de municípios que mais contribuem para o stock nacional de sangue e, consequentemente, um dos de maior influência decisiva para que a auto-suficiência de sangue seja uma realidade em Portugal”. A Associação, na qual se envolvem centenas de voluntários e inúmeras entidades locais e nacionais, conta com 32 núcleos e 36 locais de recolha de sangue. Albano Santos, presidente da Associação, destacou “o trabalho árduo totalmente voluntário” e agradeceu “a todos os dadores de sangue porque estão a dar um pouco de si”. A Câmara Municipal teve em conta a recente comemoração dos 25 anos da Associação para prestar homenagem.
D. Florentino “ao serviço do povo”
De seguida, exaltaram-se os muitos feitos de D. Florentino de Andrade e Silva ao serviço da Igreja Católica Apostólica Romana. Nascido em 1915, abraçou desde cedo um ideal ao qual se entregou com total generosidade. Em 1937 foi ordenado sacerdote e destacou-se como educador, o que o levou a ser designado docente do Colégio dos Carvalhos. Tornou-se Perfeito e Professor do Seminário de Vilar e foi estabelecendo, na sua relação com os jovens, um sentido humano da existência e a orientação fundamental para a verdade. Estabeleceu contactos com a Abadia Cistercense de San Isidro de Dueñas, em Venta de Baños, na vizinha Espanha, e, oportunamente, comunicou ao então Bispo D. Agostinho de Jesus e Sousa a sua vontade em retirar-se, com o propósito de se dedicar inteiramente à oração. No entanto, a frágil saúde da mãe e a vontade de D. Agostinho mantiveram o sacerdote ao serviço da Diocese do Porto.
Não deixou de dedicar parte do seu tempo à escrita, tendo publicado cinco obras. Nos finais de 1954, foi surpreendido por uma carta da Nunciatura Apostólica em Lisboa, dando-lhe conta da decisão do Santo Padre Pio XII em nomeá-lo Bispo Titular Heliosebaste e Auxiliar do Bispo do Porto. Em 1959, D. Florentino é nomeado Administrador Apostólico da Diocese do Porto, com todos os poderes de Bispo Residencial. Com o regresso do Bispo Residencial termina a administração de D. Florentino e, de Roma, recebeu uma carta do Santo Padre Paulo VI, elogiando-o pelo trabalho e dedicação à Diocese. D. Florentino recolheu-se em casa do seu irmão Antero, na Vila da Feira, quando sofre um grave acidente vascular, que lhe provocou danos na visão. Em 1971 é nomeado Bispo de Faro e Assistente ao Sólio Pontifico mas pouco tempo depois sofre novo acidente vascular que o incapacitou de continuar a prendar a Igreja daquilo que, na sua óptica, ela necessitava. Em 1977, apresenta a sua resignação de Bispo de Faro ao Papa que lhe concede pelos serviços prestados à Igreja Católica e ao povo de Deus o Título de Cavaleiro Grande Oficial da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Termina os seus dias na Quinta de S. José Fontiscos onde vem a falecer a 07 de Dezembro de 1989.
Jorge de Andrade, sobrinho-neto de D. Florentino, recebeu a distinção em nome da família e, num discurso emocionado, referiu-se a D. Florentino como “Um Bispo que esteve sempre ao serviço do povo de Deus, Fiel à sua Igreja e ao Vigário de Cristo, nunca se apresentou contra ninguém, viveu o sofrimento que lhe estava destinado em recolhimento e em silêncio.”
Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal Emídio Sousa começa por confessar que aprofundou o seu conhecimento sobre D. Florentino e que rapidamente compreendeu a extensão do seu legado. “Ao estudar melhor a sua história, “…compreendi a sua grandeza. Nos momentos mais difíceis da nossa história, incluindo a [falta de] liberdade de expressão e os constrangimentos da Igreja, era extremamente difícil fazer algumas coisas, mas D. Florentino soube fazê-las. Não podemos esquecer as pessoas que mais trabalharam nesses momentos”, disse. Por fim, ‘tirou o chapéu’ a esta ilustre figura feirense, deixando-lhe vastos elogios. “A sua procura incessante do bem e do belo é de uma grandeza extraordinária. [D. Florentino] Soube recusar aquilo que queria para se dedicar inteiramente aos homens. Soube recolher-se e esperar. E essa é a grande mensagem que a Igreja nos dá”, terminou.
Agradecimentos
Agradecemos ao Município de Santa Maria da Feira na pessoa do senhor presidente a homenagem que atribuiu a título póstumo ao Senhor D. Florentino de Andrade e Silva.
Não queremos deixar de dar uma palavra especial de agradecimento aos proponentes desta homenagem, os senhores vereadores do Partido Socialista.
Reconhecidamente,
a família Andrade e Silva.