Américo Joaquim Costa Ribeiro é natural de Santa Maria da Feira e figura incontornável do movimento associativo concelhio, graças a três décadas de intervenção de grande valia em acções de cariz social, humanitário e desportivo, em que tem deixado a sua marca de dinamismo e entrega solidária.
Desde 2005 assume a Presidência do Concelho de Administração da Obra Diocesana e Promoção Social da cidade do Porto. Trata-se pois, de um acaso feliz, este que permite que seja um feirense a pronunciar-se acerca da relação institucional da Obra que dirige, no âmbito das Comemorações do Centésimo Aniversário de D. Florentino Andrade e Silva, justamente o seu criador. De salientar que esta instituição também se encontra de Parabéns pois festeja este ano o seus Cinquenta anos de existência.
É nessa dupla condição de representante máximo da instituição e como feirense que Américo Ribeiro, intervém nesta edição, correspondendo de imediato ao convite que lhe foi endereçado e apresentando-nos um depoimento sobre D. Florentino de Andrade e Silva. De notar que o facto de o nosso articulista convidado não ter conhecido pessoalmente o ilustre Bispo feirense, não o inibiu de contribuir para um préstimo de sincera e justa homenagem à memória da personalidade a que esta obra ficará para sempre ligada.
A direcção
Um nome? uma nascente social e humanitária
Conforme me foi solicitado, sinto copiosa alegria e até alguma emoção em proferir o nome de D. Florentino de Andrade e Silva, pois várias evocações me reportam a ele? Foi um importante feirense, natural de Mosteirô, nascido a 09 de abril de 1915, tendo sido Bispo Auxiliar do Porto, na década de cinquenta, mais precisamente, desde 13 de dezembro de 1953 e Administrador Apostólico da Diocese do Porto, nomeado para o cargo em 08 de outubro de 1959, desempenhando esta função até 1969.
A razão de uma afetividade gerada, naturalmente, não resulta do meu conhecimento direto com a pessoa em causa, até pela diferença de gerações, mas sim pelo facto de D. Florentino ter sido o elemento chave na criação da Obra Diocesana de Promoção Social da cidade do Porto, onde assumo a presidência do Conselho de Administração, há já alguns anos. O feito de D. Florentino, só por si, evidencia a visão humanista e cristã, que lhe atribuía um cariz muito especial, fazendo infundir admiração e apreço.
Foi ele o grande dinamizador e impulsionador, o grande obreiro para que em fevereiro de 1964, então Administrador Apostólico da Diocese, fosse fundada uma obra com o propósito, bem marcante, de exercer uma ação apostólica e social junto das populações desenraizadas e mais fragilizadas, que residiam em ilhas, no centro da cidade, e tiveram de ir viver, sem alternativa, em bairros camarários, situados na zona periférica do Porto.
Este empreendimento sentiu os seus primeiros impulsos dentro do Secretariado Diocesano de Ação Social até se formar a ?Obra dos Bairros?, que, progressivamente, se autonomizou e se desenvolveu, mediante as possibilidades e interiorizando, de modo contínuo, o enfoque sobre as necessidades da comunidade abrangida, que se afiguravam e se caracterizavam de diversa natureza, tal como hoje acontece, a fim de lhes oferecer as respostas adequadas.Os seus estatutos foram aprovados, por despacho ministerial de 17 de abril de 1967 e alterados em março de 1985.
Vários relatos, consubstanciados em testemunhos vivos, de pessoas que com ele conviveram, estando também associados à construção filantrópica, que ele protagonizou e desenvolveu, como por exemplo, o Dr. João Alves Dias e o Dr. Bernardino Chamusca, referindo-o, inclusivamente, nos seus livros, respetivamente: ?Nos Alvores da Obra Diocesana? e ?Obra Diocesana, 40 anos de Promoção Social? asseveram que D. Florentino encarava a Obra como ?a menina dos seus olhos?, a alma do seu sentir, querer, e crer. Com a inteligência e olhar de coração, que lhes eram peculiares, vislumbrava, antecipadamente, os extraordinários efeitos do seu empreendedorismo social.
Esta Obra, que tem como parceiros a Câmara Municipal do Porto e Segurança Social, como é compreensível, ao longo dos anos superou múltiplas dificuldades, correspondeu às exigências e mutações dos tempos, evoluiu nas diferentes áreas e edificou, desde a sua génese, trabalho excelso no universo da solidariedade e da benignidade, afirmando-se na contemporaneidade como uma Instituição paradigmática.
O tempo decorreu, velozmente, numa linha cronológica, e talvez profecia desse mesmo tempo e de uma correlação com um pensamento situado na mesma latitude, que faz ver, sentir e mover, cinquenta anos depois voltou um feirense a gerir os rumos desta grande (em dimensão física e em dimensão social e humanitária) Instituição de Solidariedade Social, que é a Obra Diocesana de Promoção Social.
D. Florentino merece todo o mérito no trabalho que alicerçou, encetou, multiplicou e promoveu. Apenas por curiosidade, apresento uma resenha sobre a atual Obra Diocesana, que a ele lhe deve eterna gratidão.
Semeando, quotidianamente, o Bem, que é o móbil da alegria, da esperança, da razão e sentido de vida de uma numerosa população desfavorecida, ela presta serviço a cerca de 2.600 clientes distribuídos pelos 12 Centros Sociais, que entram na sua constituição e que estão inseridos nos Bairros Sociais da cidade do Porto, designadamente: Carriçal, Cerco do Porto, Fonte da Moura, Lagarteiro, Machado Vaz, Pasteleira, Pinheiro Torres, Rainha D. Leonor, Regado, São João de Deus, São Roque da Lameira e São Tomé.
Cada Centro Social reúne as valências: Creche; Pré-Escolar; Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), no apoio à Infância.
Centro de Dia; Centro de Convívio; Apoio Domiciliário (nos dias úteis da semana e aos fins de semana e feriados), no que concerne ao apoio à Terceira Idade.
Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP).
A nossa realidade anual:
215 mil Pequenos-almoços em merendas;
580 mil Almoços;
505 mil Lanches;
125 mil Suplementos;
650 toneladas de Roupa;
485 mil Kms percorridos por toda a Frota.
Além dos Centros Sociais, a nossa Instituição possui um Armazém para acondicionamento de géneros alimentícios e outros; uma Lavandaria, que trata e cuida de toda a roupa dos utentes; agrega-se, também, a ela uma Central de Costura.
Acrescem-se a todo este aglomerado, os Serviços Centrais da Instituição, que se localizam na Rua D. Manuel II.
Os serviços diferenciados são operacionalizados, realizados e monitorizados por 389 Colaboradores, mediante as suas funções e responsabilidades. Eles são determinantes nas respostas requeridas, nos resultados que se desejam, no sucesso pretendido, o qual é tão abrangente e diversificado que deixa sempre dúvidas e reservas, pois trata-se de uma matéria tangível e intangível, concomitantemente.
É, inerentemente, difícil mensurar a geração do seu valor social e humanitário, mas permite efetuar um balanço, uma consideração, uma avaliação? e estes são imprescindíveis na cuidada e criteriosa gestão e no prosseguir da sua caminhada proficiente e tão necessária.
D. Florentino de Andrade e Silva criou, incrementou e deixou um legado grandioso. Este legado material e imaterial foi, sucessivamente, objeto de reflexão, ação, motivação e inovação, mostrando a todos a importância, que assume o serviço socio caritativo organizado, envolto na dinâmica de Amor ao Próximo, que é imparável, não possui fronteiras, recruta sempre recursos e não esquece quem realiza com sentimento e despretensão.
Américo Ribeiro
Presidente do Conselho de Administração Obra Diocesana de Promoção Social
Evocado exemplo de D. Florentino
Ontem Mosteirô engalanou-se para receber D. João Lavrador, Bispo Auxiliar do Porto que foi àquela vila do sul do concelho presidir à cerimónia anual do Crisma, cujos participantes lotaram por completo a igreja paroquial.
Cumprindo a tradição e os ditames da Igreja, dezenas de jovens confirmaram a sua Fé em Cristo, na obediência à Igreja Católica, recebendo do Bispo e do seu pároco testemunhos de um exemplo de vida de um grande mosteiroense a quem este semanário tem vindo a prestar homenagem desde o inicio do ano, a propósito das comemorações do centenário do seu nascimento.
D. Florentino de Andrade e Silva foi a evocação central da cerimónia, e a sua obra o mote de incentivo para uma vivência plena não só da Fé cristã, como dos compromissos que tal atitude implica.
A cerimonia plena de significado, que encheu de orgulhos os mosteiroenses, terminou em romagem dos celebrantes e crismados ao túmulo de D. Florentino, junto do qual D. João Lavrador e o Padre José Carlos estiveram em breve oração e fizeram depois, questão de cumprimentar os familiares de D. Florentino presentes.
Na ocasião, o Padre José Carlos informou que encontra-se entretanto, agendada uma cerimónia de homenagem para o dia 12 de Agosto, data do baptizado de D. Florentino com a presença de D. Antonio Francisco dos Santos, Bispo da nossa Diocese.