1.ª Parte
Acabadinhos de chegar de uma viagem de inspecção à Namíbia, desejo partilhar convosco um dos mais impressionantes lugares que visitámos, neste vasto país da África Austral, que faz fronteira a norte com um país nosso irmão, Angola, razão para frequentemente encontrarmos pessoas que nos falavam em português, havendo até uma rádio que dedica algum tempo da sua transmissão à nossa língua passando música com ligação a Angola e Portugal.
Se visitarmos a Namíbia e optarmos pela via terrestre são horas agarrados a um volante conduzindo por estradas de terra batida e de gravilha. Devido à seca de cinco anos que atinge a Namíbia, encontrámos as estradas em muito bom estado. Esta opção oferece a possibilidade de apreciarmos melhor a paisagem, não nego que é cansativa, mas na verdade só damos conta desse cansaço quando relaxamos no conforto das belíssimas e singulares unidades hoteleiras por onde nos hospedámos. Enquanto dura a viagem estamos completamente absorvidos com a beleza da paisagem e quando não é a beleza que nos impressiona é a grandeza das planícies que parecem não ter fim conduzindo-nos a outras sensações; solidão, tranquilidade, paz tão necessária para uma boa reflecção.
O percurso de Etosha até ao nosso próximo destino garantiu-nos uma viagem com as características referidas anteriormente. Após mais de seis horas de carro, chegámos ao nosso destino, Twyfelfontein, atrasadíssimos porque as paragens pelo caminho, na tentativa de “roubar” esta, aquela e mais outra paisagem com as câmaras dos nossos telemóveis eram uma constante, apesar das muito boas fotos captadas, (pelas mãos amadoras), nunca consigo encontrar alguma que revele a beleza que registo na memória.
O nosso próximo hotel encontra-se enquadradíssimo na paisagem, totalmente construído, como que aconchegado nas rochas, com umas vista deslumbrantes para o vale Aba Huab.
Apesar de deslumbrados com aquela construção e com a beleza da paisagem, só tivemos tempo para cumprimentos da gerência e apresentação do guia que nos ia acompanhar durante a nossa visita às impressionantes pinturas rupestres, que são uma das razões que levam tantos turistas a este lugar tão isolado e árido do continente africano. Uma das razões, não a única.
Este importante lugar arqueológico com mais de seis mil anos é o maior no continente africano e foi descoberto em 1921 por um geólogo alemão Reinhard Maack. Nos anos quarenta, do século passado, um colonizador de nome David Levine tentou fazer deste lugar uma fazenda, mas a falta de água e a aridez dos terrenos rapidamente ganharam a batalha. Dele e das suas tentativas de captar agua, deriva o actual nome, Twyfelfountein, a região era anteriormente conhecida como Damaraland.
Com o objectivo de preservar as pinturas, que começavam a ser procuradas por turistas que nem sempre respeitavam estes importantes vestígios arqueológicos, pertencentes a dois grupos étnicos diferentes e com milhares de anos de diferença, foi implementado um turismo responsável que hoje é essencial para a sua preservação e importante fonte de receita para as pequenas comunidades locais.
A maioria das pinturas é uma representação muito perfeita de animais: girafas, zebras, rinocerontes, elefantes avestruzes, leões, antílopes e, claro, não falta a própria representação humana.
Enquanto visito este imenso complexo arqueológico no meio de um deserto e vou escutando as explicações do nosso guia, referindo-nos a necessidade que o Homem demonstra na criação de registos, não posso deixar de concluir que a nossa necessidade de registrar não é de hoje sempre foi uma característica intrinsecamente humana.
Visitar esta galeria de arte exposta em pleno parque natural, com milhares de anos é como realizar uma viagem pelo tempo que começa na arte rupestre exposta nestas pedras até aos nossos dias onde registamos tudo o que nos vai acontecendo no nosso telemóvel para mais tarde partilharmos nas redes sociais ou neste jornal centenário.
Maravilhoso este mundo e as vidas nele registado.
(continua)
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