Há já algum tempo que não levamos os nossos leitores a ‘visitar’ um lugar sagrado. Hoje, o destino que vos propomos é a Turquia, a cidade é a histórica e sempre bela Istambul e o lugar é um dos mais sagrados e, sem dúvida, dos mais famosos da cidade, a Mesquita Azul.
Em 1609, o Sultão Ahmed I, com apenas dezanove anos, ordena ao arquitecto da corte, Mehmet Aga, a construção de um edifico que confrontasse com a basílica de Santa Sofia e tivesse as seguintes características: maior, mais imponente e de beleza e riqueza incomparáveis. No lugar existia o antigo hipódromo da cidade e um palácio imperial bizantino, que foram demolidos para que se concretizasse o desejo do jovem monarca. Contam as estórias, que na ansia de ver a obra concluída, o sultão fazia ali frequentes visitas, chegando mesmo a trabalhar junto com os operários.
Geralmente, aquele género de construções tinha o objectivo de prestar serviços às populações podendo dividir-se em vários complexos tais como: madrassa, (escola de estudos islâmicos), hospital; escola primária, mercado, imaret, (cozinha onde geralmente se preparava a comida a ser distribuída pelos menos favorecidos da sociedade) e túmulo do fundador. Na Mesquita Azul, infelizmente, a maioria desses complexos não chegou aos nossos tempos, mas a sua sumptuosidade não ficou comprometida pela perda de algumas das suas antigas valências.
O Azul que lhe dá o nome não é a razão pela qual ficamos extasiados, quando apreciamos o exterior desta obra de arte singular; o que mais impressiona são o número de minaretes e o belo jogo de cúpulas.
Consta que o numero de minaretes existentes na Mesquita Azul, está na origem de um erro de interpretação. Quando ordenou a construção, o monarca terá desejado que os minaretes fossem de ouro, (Altin) o que foi confundido pelo arquitecto por Alti (Seis).
Seja qual for a razão da existência de seis minaretes, o resultado foi um escândalo com repercussões internacionais no mundo islâmico. Normalmente as mesquitas estão acompanhadas de um, dois, ou quatro minaretes, exceptuando-se a Mesquita de Haram, em Meca, o local mais sagrado para os muçulmanos, com seis minaretes. Para acalmar os ânimos que se avolumavam, o Sultão comprometeu-se enviar o seu arquitecto para Meca, custeando a construção do sétimo minarete na sagrada mesquita, na Arábia Saudita.
Na Mesquita Azul, o jogo de cúpulas está construído em forma de cascata, tendo a superior a maior dimensão, como que advertindo os mortais dos vários patamares e dificuldades que enfrentamos para atingir a casa de Deus.
A entrada Oeste está reservada aos crentes, mas não podemos deixar de a visitar para apreciarmos a sua belíssima decoração. A nossa porta [outras religiões] é a norte, já fora do hipódromo. Logo à entrada, penduradas na guarnição superior das portas, encontram-se correntes de ferro encadeadas, para obrigar a quem entra a curvar-se, em reverência, como primeiro gesto de respeito.
No interior, deparamo-nos com um tecto alto, coberto com belíssimos exemplares de azulejos decorados ao estilo Iznik, do seculo XVI. Ao todo são vinte mil azulejos azuis, o que imediatamente nos remete para a origem do nome Mesquita Azul.
Nos azulejos mais antigos, observamos a representação de árvores e padrões abstractos, oferecendo um efeito que elegemos como um dos mais impressionantes na cidade de Istambul. A representação da forma humana é proibida na religião Islâmica, sendo as construções ricas em representação geométrica, flora, fauna e textos do Sagrado Corão.
Exemplares de azulejos Iznik podem ser apreciados também nas galerias e na parede norte, acima da entrada principal.
Duzentas e sessenta janelas são a entrada da luz natural que penetrava por belíssimos vitrais do Séc. XVII que foram descritos por viajantes como dos mais belos do mundo, infelizmente perdidos e substituídos por réplicas inferiores.
Se a intenção do jovem monarca era impressionar e superar o até então construído, pois conseguiu o seu intento, não só na sua época, como nos nossos dias e decerto também no futuro, porque o resultado deixa-nos completamente rendidos à sua obra.
Ahmed I morreu muito jovem, com apenas 27 anos de idade, um ano após a conclusão da sua magnifica Mesquita Azul, onde se encontra sepultado com a esposa e seus três filhos.
Jorge de Andrade
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