Roberto, não estarei seguramente entre as pessoas que melhor te conheciam…, mas não me sais da cabeça.
Roberto, o teu rosto, apesar de não o ver com vida desde o verão… — sim porque as fotografias, flashes isolados e estáticos de ti, não contam — teima em vir e voltar quando a música que toca evoca a tua, quando à minha volta as pessoas se exaltam, quando os homens ‘fazem horas’ à espera do jantar de consoada…Às vezes parece até que te vejo passar por entre a multidão.
Roberto, anima-me a ideia do tanto que foste na tua breve viagem na terra…um pensador, um artista, um profissional exímio, colega, amigo, filho, irmão, sobrinho, afilhado, neto, primo, padrinho… que a todos orgulhavas sem exceção. Do tanto que deixaste… os poemas, a música, o teu exemplo como pessoa…
Roberto, a tranquilidade da tua expressão amainava qualquer tempestade entre os mais fleumáticos: assistias à mais tórrida discussão com a mais determinada serenidade de quem sabe que a paz há de regressar… (e regressava!)... como quem tem sempre presente que as ondas do mar vão e voltam e que o mundo é assim mesmo: tempestuoso para logo ficar límpido, em que a seguir à noite, vem o dia, onde às alegrias se vêm juntar a dor e a tristeza e em que a seguir à agitação e correria da vida, vem o silêncio e a calma da morte…
Roberto, nesta quadra natalícia já não vieste a nossas casas, pôr a conversa em dia, beber o teu vinho do Porto, fazer sentirmo-nos importantes com a tua visita… fomos nós ao teu encontro…Todos choramos porque te queríamos aqui, VIVO!...muito mais tempo… e porque é injusto, mais do que isso…: inconcebível, estúpido até!... porque não podia ter acontecido.
Mas Roberto, havemos de manter o teu delicioso sorriso na memória, a tua gentileza e generosidade no coração, apaziguar o sofrimento da tua partida, conciliarmo-nos com ‘ISTO’… reviver-te no teu legado… porque cem anos que vivamos, a maior parte de nós nunca conseguirá a tua profundidade, a tua sabedoria, a tua sagacidade, a tua doce intensidade… Ser, tão pouco, um vislumbre de ti.