Não era para escrever isto, mas depois de ouvir alguns autarcas pronunciarem-se tantas vezes que as freguesias estão melhor nas uniões, resolvi vir também dar a minha opinião que é muito contrária.
A experiência destes últimos oito anos são a prova disso, as receitas das freguesias foram-se à vida, e obras, nem vê-las. Mas achava melhor que não fosse só eu a pronunciar-me sobre isto. A própria comunicação social devia pedir opiniões aos ex-autarcas, antes das uniões das freguesias, porque esses é que sabem verdadeiramente se as freguesias ganharam ou perderam com isto, as outras pessoas pouco sabem sobre este assunto.
Alguns autarcas ainda tentam confundir as pessoas com as pavimentações nas ruas como sendo obras suas, quando na realidade são da Câmara Municipal, com o seu orçamento, e aqui louvo também a Câmara Municipal porque tem correspondido ao entaipamento das ruas do Concelho.
Depois é evidente também que os autarcas (presidentes de Junta das uniões) gostam de deixar a sua marca, e se possível até com a construção de equipamentos etc., mas sempre na sua freguesia que é a maior.
Pergunto: O que é que ganharam as freguesias pequenas com isso?
Ou seja, as freguesias grandes querem ser maiores à custa das mais pequenas, isto assemelha-se muito a um expansionismo soviético, mas enquanto as receitas de cada freguesia não forem gastas nos seus locais isto nunca funcionará bem. E não me venham com histórias da carochinha que as freguesias pequenas não têm receita para determinadas obras, porque
se não puderem construir num ano, constroem em dois ou três, e a Câmara, por norma, também dá a sua ajuda.
Portugal é um país democrático, e nas uniões de freguesia, por norma, as mais pequenas fazem união com as maiores. Falta-me saber, se durante estes últimos oito anos foram contempladas obras nas freguesias pequenas de acordo com as suas receitas. Tenho dúvidas, porque na minha não foi. E tenho dúvidas também que um candidato de uma freguesia pequena possa
concorrer em pé de igualdade a umas eleições autárquicas com o outro da freguesia maior, onde tem a maioria do eleitorado. Posso estar enganado, mas não me parece. As pessoas não aceitam um candidato de fora, caído ali de paraquedas. Provavelmente, também os autarcas que defendem as uniões de freguesias, se tivessem de pertencer às mais pequenas já não
queriam as uniões. É tudo uma falácia.
Compreendo também que há freguesias que não podem ser independentes. É necessário ter condições financeiras, sede de Junta e outras coisas mais, portanto essas mesmo, têm de estar nas uniões. Mas há também muitas neste país, (agregadas) com centenas de anos e tudo o que é necessário para serem independentes. Acho que deve ser respeitada a vontade das populações até mesmo porque a maioria destas mesmas populações ainda não está mentalizada para perder a sua identidade histórica e cultural.
Estou a escrever isto porque vi há dias no jornal Correio da Feira que a população de Espargo, através de um abaixo-assinado, se manifestou também pela sua independência. No entanto, foi chumbada pela assembleia da união de freguesias. Aqui, pergunta-se. Espargo não tem condições para ser independente ou houve falta de democracia?
Nós sabemos que a reversão das freguesias terá de ser tratada até ao final de 2022, porque se não fizermos nada agora, subentende-se que está tudo bem nas uniões, quando na realidade sabemos que nem sempre está tudo bem, nem é essa a vontade da maioria das freguesias, embora haja algumas uniões bem-sucedidas.
Quanto às assembleias nas uniões de freguesias, e não falo apenas da minha união, porque também frequentei outras assembleias quando se tratava de discutir e votar a reversão de outras freguesias, era engraçado porque havia elementos das ditas assembleias a votar pela união de freguesias e a sua própria freguesia estava abandonada há anos sem se fazer nada. Cheguei à conclusão de que estes mesmos elementos estavam mais ao serviço do seu partido do que da sua freguesia. Não foi isso que prometeram em campanha eleitoral, e se calhar até prometeram viagens à lua, mas ainda bem que mudaram de opinião, primeiro para não ficarem com encargos de consciência, e segundo também porque isso era trair os seus conterrâneos.
Eu fui autarca há poucos anos, pouco antes das uniões de freguesias, e estou à vontade para dizer aquilo que referi. Acho melhor as freguesias serem independentes, desde que tenham condições. Além do mais, a nível diocesano, as freguesias têm a sua igreja, cemitério e as pessoas não lidam bem com isto de pertencerem a outras freguesias.