Chegámos aquela época do ano em que são lançados os virais anúncios da NOS, Vodafone, Worten, etc.; inauguram-se vários eventos relacionados com o Natal, como é o caso do Perlim; as estradas iluminam-se de luzes cintilantes; e as pessoas saem à rua para comemorar e fazer compras para aqueles que mais gostam e para pessoas que, provavelmente, já não veem desde o Natal do ano passado. Tudo para manterem a tradição acesa e se sentirem um pouco mais realizadas, ou um pouco menos culpadas.
O Natal é a época escolhida para as pessoas demonstrarem o afeto umas pelas outras, para se sentarem juntas à mesa, para conversarem e contarem anedotas, esperando até à meia-noite para abrirem os presentes. Estes surgem fruto de horas intermináveis nas filas dos centros comerciais à procura de adquirirem ofertas “imperdíveis”, comunicadas pelas marcas nos meios de comunicação tradicionais, no digital e em banners de grande dimensão espalhados pelas lojas e espaços comerciais. Isto tudo porque querem agradar aos amigos, familiares, mais próximos ou distantes, comprando itens e/ou experiências que acham “perfeitas”. Caso não surja nada na mente, quer por falta de conhecimento ou por indiferença, há sempre uma solução: cartões-presente.
De acordo com a revista NiT (Bento, 2022, dados de um estudo da Cetelem), os portugueses pretendem gastar, em média, 239€ nas suas compras de Natal, sendo que em 2021, este valor foi de cerca de 319€. Numa abordagem mais concreta, os maiores gastos centram-se na população com uma faixa etária entre os 55 e 74 anos: 273€. Já os mais jovens (18-24 anos) não pretendem gastar mais do que 182€. Isto reflete o poder de compra mais elevado de um estrato da população mais solidificado; parte dele já em idade de reforma, logo com mais tempo de lazer, e mais propício às compras (numa visão mais negativa pode-se observar que tais valores podem derivar de um maior arrependimento por ações realizadas no passado, querendo proporcionar uma espécie de compensação aos afetados).
O estudo também avaliou as despesas previstas a nível nacional. Os inquiridos da região norte estimam gastar um total de 237€; seguindo-se o sul do País, com 221€, e os do centro, com um valor médio de 201€.
Contudo, há muitas pessoas que nem isso tem, quer seja por não terem família, por estarem internados, por não terem um lar, por efeitos da pandemia da COVID-19,...Sales (in Diário de Notícias, 2021) destaca o seguinte: “Longe das grandes cidades são centenas as pequenas aldeias e aglomerados portugueses onde a calma reside e os habitantes são cada vez menos e, na sua maioria, já idosos. Por aqui, vale a presença das autoridades como a GNR que vai passando para conversas de circunstância e ver se está tudo bem com os locais”. A autora salienta ainda o facto da problemática da solidão ser já considerada um caso de saúde pública pelo forte impacto comprovado na saúde mental de todos, estando espalhada pelos diferentes grupos etários.
Para fazer face a este cenário, estão em marcha projetos nacionais que dão resposta à solidão e isolamento social das comunidades: a associação SOS Voz Amiga, a Cruz Vermelha Portuguesa, entre outras. Estas iniciativas trabalham junto da comunidade, com atividades que se estendem do apoio emocional por telefone, cuidados de saúde ao domicílio, estimulação de competências cognitivas, apoio nas atividades do quotidiano, ou até promoção de companhia através de animais de estimação, entre outras formas de apoio especializado.
Com isto, quero ressalvar a importância de celebrar esta época do ano não a desperdiçar dinheiro e recursos supérfluos, só para tentar corrigir os males realizados ao longo do ano; mas para concentrar os esforços naquilo que é mesmo necessário, ajudando outras pessoas (e nós próprios) a serem mais felizes, na esperança que estas ações se alastrem ao longo de todo o ano, e não só na efemeridade do Natal.
Votos de Boas Festas a todos os leitores. Até 2023!