Reuniu em sessão extraordinária, na sua sede, a Assembleia da União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca, Sanfins e Espargo. Em cima da mesa estava a apreciação, discussão e votação da proposta para a desagregação da extinta freguesia de Espargo.
Ao abrigo da oportunidade concedida pela Lei n.º 39/2021, que possibilita a reversão da reorganização administrativa de 2013, os Esparguenses decidiram encetar a luta pela recuperação da sua autonomia, tendo em conta que nada beneficiaram com a atual situação. Convém esclarecer que a União de Freguesias derivou de uma imposição do governo de então constituído pela coligação PPD/PSD e o CDS/PP em obediência a uma exigência da Troika.
Inconformados com a situação, nomeadamente pela dificuldade em preservar diferentes espaços e edificações, perda do transporte escolar e o alargamento da distância entre os eleitores locais e a sede de freguesia em atendimento permanente, consideraram chegado o momento de pugnar pela recuperação e consequente preservação da sua identidade histórica, cultural e social.
Depois de um trabalho e entrega absolutos, uma comissão de eleitores andou incansavelmente a recolher assinaturas num contacto porta a porta, entre outros trâmites legais, conseguindo reunir toda a documentação necessária para solicitar a realização da já referida assembleia extraordinária e dar o tiro de partida para fazer avançar o processo.
Assim, na noite de 16 de novembro, nem a chuva torrencial que caiu conseguiu demover uma parte interessada da população Esparguense que fez questão de marcar presença e de se fazer ouvir através do seu interlocutor, Fernando Carvalho, que expôs, no tempo limitado que lhe foi concedido, as preocupações que os atormentam.
Estranhou-se, apenas, o mutismo da representante da União, Sara Viseu, eleita por boa parte das pessoas que ali se encontravam, que não teve uma palavra de apoio, de empatia ou mesmo de crítica face à petição dos seus fregueses.
Da mesma forma, provocou desconcerto a intervenção apaixonada de defesa da manutenção do atual estado de coisas, por parte de elementos da assembleia eleitos pelo PSD que, focando o discurso apenas na sua vontade própria e não na dos habitantes de Espargo, se esqueceram que a vontade de um povo devia ser soberana e estar por cima de qualquer interesse pessoal, demonstrando o que é uma verdadeira Democracia — a soberania exercida pelo povo, como a entenderam os gregos há muitos séculos —, mas que na atualidade parece revestir-se de um outro significado, difícil ou talvez não, de decifrar.
Votaram contra a proposta os nove representantes do PSD e da Iniciativa Liberal e a favor os quatro membros eleitos pelo Partido Socialista. Carla Adriana Pinto, representante do grupo do PS, realçou que, como membro da assembleia, e atendendo à oportunidade legal que se proporcionava, considerava legítima a petição apresentada e que não via outro caminho que não fosse respeitar a vontade da população. O desalento dos Esparguenses presentes foi visível e, em alguns casos, a desilusão deu lugar à revolta, demonstrando incompreensão pela atitude passiva e distante de quem os devia ter apoiado.
Desta feita o povo e os seus representantes no “poder” não estiveram de mãos dadas como deveria ser em “demokratía”. Porém a estória não termina aqui, certamente. O povo continuará atento e quiçá, mais exigente com aqueles que clamam ser os seus representantes e porta-vozes e que o são efetivamente, mas tão só no período eleitoral.
Espargo promete não baixar os braços!