Ao longo destes últimos anos foi-se criando uma atenção mediática em torno da Black Friday. Este termo, de origem americana, surgiu para denominar o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, um feriado americano após o qual se iniciam as compras de Natal. A introdução deste dia no nosso calendário faz parte de uma americanização que se tem tornado visível, por exemplo, na preferência que damos aos franchisings de marcas americanas.
Esta afirmação crescente dos Estados Unidos da América e a sua elevada influência sobre os outros países deve-se ao facto de serem a maior potência económica, apesar de cada vez mais perderem terreno para países como a China. No entanto, é importante lembrarmo-nos de que este é um país com um nível de desenvolvimento social comparável a países como Cuba e Bulgária (dados do The Conversation), com uma democracia defeituosa e onde cada vez são mais notórias as desigualdades.
A verdade é que, com ou sem influência dos Estados Unidos, vivemos numa sociedade de consumo na qual todos querem encontrar o melhor negócio. Quantos de nós não percorremos os diferentes hipermercados das redondezas só porque ‘aqui a carne é mais barata’ e ‘ali a fruta tem um melhor preço’? Quando, na realidade, a diferença de preço é perdida em deslocações. Assim, a Black Friday torna-se a oportunidade perfeita para alimentar este espírito consumista com as suas promoções ‘exclusivas’.
De certa forma, podemos também falar de pressão social. Primeiro, a época Natalícia é naturalmente consumista, pois parece que não descansamos enquanto a árvore não está cheia. Segundo, há sempre aquele amigo que nos conta de um achado incrível da Black Friday de não-sei-quando, o que nos faz criar a ilusão de que também o iremos conseguir. Estes dois fatores alimentam também os nossos comportamentos consumistas durante a Black Friday, pois “sempre tinha que comprar e tinha”. Esquecemo-nos é que ainda falta um mês para o Natal e que, até lá, iremos encontrar muitos mais negócios, igualmente ilusórios, e que irão alimentar o dito ‘espírito natalício’.
Este pensamento pode também ser explicado à luz da ciência. O nosso corpo possui determinadas estruturas neuronais que, quando ativadas, conduzem a uma compensação biológica, nomeadamente hormonal, que nos irá fazer sentir prazer. O acionar deste mecanismo está muitas vezes associado a palavras-chave como ‘venda’, ‘promoção’ e ‘desconto’, que vão influenciar o nosso julgamento relativamente à necessidade de uma determinada compra. Depois, temos também o fator tempo. O facto de a Black Friday acontecer a um dia de trabalho, condiciona-nos em termos de tempo e faz-nos sentir a pressão do ‘é agora ou nunca’, conduzindo também a uma compra inconsciente.