O Dia do Idoso, celebrado em todo o mundo, a 1 de outubro, visa alertar os cidadãos para o cumprimento dos direitos das pessoas idosas, nomeadamente, através de sistemas sociais e de saúde que lhes garantam viver com dignidade.
Pena que muitos países, entre os quais se inclui Portugal, não tenham programas suficientes de atenção aos idosos e que a precariedade da nossa Assistência Social deixe em aberto grandes lacunas no apoio não só aos idosos, mas também às suas famílias e aos seus cuidadores. Restam-nos os lares para quem consegue vaga e pode pagar, os quais, volta e meia, nos vão surpreendendo, com notícias degradantes ou de maus tratos, seja por falta de condições logísticas, seja por falta de recursos humanos, seja apenas por incúria e desumanidade.
É deveras preocupante que se coloquem os interesses económicos acima da dignidade humana, o que de certa forma está implícito na mensagem de Christine Lagarde, a Presidente do Banco Central Europeu, ao referir que os idosos são um entrave ao desenvolvimento económico.
Não sendo eu uma expert em finanças, percebo que as reformas possam acarretar situações complexas na Segurança Social e em outros sistemas de apoio aos idosos, mas sei que, como cidadãos, os idosos trabalharam e cumpriram as sua obrigações fiscais. Além disso, o comum dos mortais sabe que a riqueza anda mal distribuída e que há lucros exorbitantes em vários setores da economia.
Envelhecer é um processo complexo e diferenciado.
Veja-se a diferença entre ser idoso e ser velho.
Ser idoso é ser antigo e não nos esqueçamos que as antiguidades são relíquias a preservar.
Ser velho é estar gasto, muito usado e, como tal, deteriorado. Neste ponto de vista, há que não esquecer que muitas coisas, sendo recentes, se tornaram velhas, ou seja, estragadas, o que também acontece a muita gente em idade madura, para não referir alguns jovens.
Há muitos idosos para quem cada dia ainda é o sonho do amanhã. São relíquias cuja alma se mantém produtiva. São os que nesta etapa da vida percebem que ainda há tempo para fazer coisas interessantes e sãocapazes de passar mensagens enriquecedoras aos vindouros. Mas também há velhos, cujas doenças ou estado de alma são tão castrantes, que cada noite é a espera da morte. São pessoas aferrolhados nas saudades de um passado sem retorno e que merecem todo o nosso respeito e consideração.
A bem da verdade, uns envelhecem mais rapidamente do que outros, mas o processo de envelhecimento está relacionado com as condições materiais, sociais, familiares e, naturalmente, com o estado de saúde de cada um.
Não podemos escamotear a realidade. Para a maioria de nós, envelhecer é de facto uma etapa da vida difícil. E, acima de tudo, não podemos esquecer as necessidades dos acamados ou portadores de doenças incapacitantes.
Por outro lado, há quem afirme que é provável que os seres humanos atinjam os 120 anos no final do século XXI. Portanto, sobre longevidade estamos conversados. A questão reside na promoção de estilos de vida que permitam manter uma vida saudável, o que levanta enormes desafios políticos, económicos e sociais.
Veja-se a este propósito, o que acontece nos lares onde idosos com doenças do foro fisiológico, mas com a mente sã, ficam enclausurados e rodeados de doentes com distúrbios psíquicos e mentais muito graves. Não estarão a acelerar o processo degenerativo do seu cérebro e da sua alma ?
À medida que a idade avança, ouvimos frequentemente manifestações de desalento com a vida. De maneiras diferentes, quase todos apontam no mesmo sentido: no tempo deles não era assim, já não servem para nada e ninguém lhes liga.
Não posso deixar de alertar os mais novos para uma certa culpa implícita nestas reações. No fundo, os idosos precisam de ser ouvidos, para sentirem que a sua vida não foi banal, porque, salvo raríssimas exceções, todos lutaram, cada um à sua maneira, para que os seus sucessores tivessem uma vida melhor. Os idosos precisam de ser ouvidos não no sentido de imitarmos todos os seus conceitos sobre a vida e a sociedade, mas para lhes facilitarmos o acompanhamento da atualidade e valorizarmos duas coisas: a primeira é fazê-los sentir que valeu a pena viver tantos anos; a segunda tem um único nome- gratidão.
Com efeito, apesar de alguns ingratos iluminados considerarem que os idosos são um empecilho ao desenvolvimento económico, foi graças ao trabalho dos idosos que hoje os mais novos têm possibilidade de acompanhar a modernidade.
Vivemos numa sociedade profundamente injusta para com os idosos, sobretudo para aqueles que têm parcos rendimentos. Descartá-los é desumano e cruel. É a memória curta dos que se esquecem de que para lá caminham, porque ninguém escapa à velhice.