“Ficar a ver passar navios” — também relacionado com as invasões francesas, esta expressão conta a intenção de Junot entrar em Portugal, em marcha forçada, para prender D. João. Mas o príncipe regente e a corte portuguesa já tinham embarcado, rumo ao Brasil. Junot terá ficado no alto de Santa Catarina, em Lisboa, a ver os navios a passar a barra do Tejo.
Também se associa a expressão à longa espera pelo Rei D. Sebastião.
Significa que uma pessoa esperava ansiosamente por algo, que nunca chegou a acontecer. Como se, em vez de andar de barco, se ficasse desiludido apenas a vê-los passar, sentado no porto.
Por cá, em Terras de Santa Maria, adaptou-se a expressão para “Ficar a ver passar comboios”. Sim, ficamos sentados a ver passar comboios lentos, degradados e sem futuro, sentados numa estação abandonada ou transformada num restaurante ou pousada.
Por cá, continuamos a ver operações de cosmética numa linha histórica, Linha do Vouga, que deveria ser um enorme fator de desenvolvimento da Feira e dos concelhos vizinhos, uma mais-valia na mobilidade e na aposta na sustentabilidade ambiental.
Quando nos tempos de hoje se exige servir as populações eficazmente, tirando o peso dos combustíveis do bolso do cidadão e ao mesmo tempo menos pressão ambiental, continuamos a não ter soluções de mobilidade ao nível dos transportes coletivos.
O que continuamos a ter é um sistema de transportes desadequado aos dias de hoje. Sistema sem rotas adequadas às necessidades do cidadão e das empresas. Um sistema assente em combustíveis fósseis, em automotoras (Vouguinha) degradadas e sem conforto, incapazes de seduzir alguém para as utilizar.
No entanto, ainda fomos mais longe por cá na expressão “Ficar a ver passar comboios”. Em Santa Maria da Feira temos o “Ficar a ver passar comboios de trotinete”. Sim, uma das soluções de mobilidade anunciadas pela Camara Municipal é adotar um sistema de trotinetes e bicicletas elétricas.
Ver as fotos da ação da propaganda protagonizada pelo presidente Emídio Sousa e respetivo executivo, somos levados a crer que o futuro será transformar a Linha do Vouga numa ciclovia e resolver de vez os problemas de mobilidade que enfrentamos.
Pelas fotos este sistema terá um custo adicional. Para além do valor da compra da bicicleta/trotinete ou seu aluguer é necessário adquirir fato e gravata, acrescentando ainda fogo de artifício.