‘Pão e Circo’, corresponde a um modelo de sustentação político criado pelos Romanos para a manutenção da ordem social do Império. Na prática esse modelo correspondia à garantia da existência de comida e diversão para o povo, com o objectivo de apaziguar eventuais movimentos de insatisfação social contra os governantes e as suas políticas.
Ao olharmos para as sociedades de hoje, não será difícil chegarmos à conclusão que, neste particular pouco ou nada parece ter mudado.
Creio que não se possa sustentar que este tipo de estratégia seja deliberada, como porventura não o terá sido em Roma. Porém e uma vez que acaba por se manifestar, o efeito ‘pão e circo’ tem servido os intentos de algumas ‘elites’ ou grupos que governam e influenciam os destinos de uma sociedade, enquanto modelo de manutenção da coesão social.
Estou em crer que a elevação dos índices de esclarecimento e formação do povo, teriam como resultado directo o aumento da qualidade das pessoas que lideram os vários setores de governação, dos seus projectos e políticas. Doutra forma, continuaremos a correr o sério risco, da não implementação de iniciativas que tendam à preparação de cidadãos mais interessados, preocupados, com espírito objectivamente crítico e participativos nas grandes decisões relativas à sociedade de que fazem parte.
Tenho a convicção que esta cultura de ‘pão e circo’, não torna as populações mais participativas, não resolve os problemas das pessoas, não torna as pessoas mais felizes. Os problemas das pessoas perduram no tempo, e as sociedades, mais ou menos manipuladas, assumem como quase normal, o incumprimento de direitos básicos e fundamentais, conquistados por gerações anteriores.
Enquanto o modelo de ‘pão e circo’ se propaga em diversos setores da nossa sociedade, temo que se ofusque um certo movimento de formação de massas que possa contrariar esta tendência.
O ‘pós’ pandemia e o ambiente de guerra a que estamos expostos hoje, colocam sérios desafios a todos os intervenientes na organização social. Os problemas já existentes não foram minimizados e surgiram entretanto novos desafios que carecem de respostas rápidas e eficientes.
Senão vejamos:
…As crianças iniciam a sua primeira experiencia de socialização nas escolas com medo de viver com o próximo. Começam a aparecer teses em que o nosso próximo foi abolido e que esta nova forma de estado, fundada sobre o medo, possa funcionar num registo online, em se troquem apenas mensagens digitais e que onde for possível as máquinas substituam todo o contato entre os seres humanos. As escolas não podem dispensar o corpo, as emoções ou a tangibilidade da relação enquanto prática comunitária. Não é possível excluir o corpo da escola, pois é através dele que damos significado ao mundo, maturando os diversos saberes e exercitando a responsabilidade pela inteira existência.
…as gerações mais jovens vivem pressionados pelas novas tecnologias viciando-se no online constante, tornando a vida dos seus pais num sobressalto permanente. Os cursos já não são garante de nada e a precaridade laboral limita-os e não lhe abre perspectivas de futuro. O jogo, o álcool e as drogas continuam a oferecer momentos de plena alucinação, servindo como analgésico para a dura realidade que tem de enfrentar.
…as gerações mais idosas lutam contra a solidão de viver e morrer sozinhos, perdidos em demências precoces e sem saber se terão alguém que os ampare no final da sua vida. Por outro lado, as famílias que conseguem amparar os seus idosos, vivem angustiados pelos novos desafios da velhice, não encontrando nas poucas respostas sociais, apoio e orientação para essa tarefa.
Perante tudo isto, e querendo acima de tudo acreditar que é possível provocar mudanças e restaurar a esperança, urge uma resposta concertada. É hora das comunidades se unirem e se mobilizarem para o efeito. É hora dos políticos mobilizarem as suas freguesias, os seus concelhos, o seu país e enfrentarem este desígnio comum.
As pessoas, são o nosso mais valioso património. Temos a missão de cuidar dele.
Acredito que alternando o ‘pão e circo’ com programas de formação e intervenção social e cultural, poderemos potenciar novas competências á população que originarão novos hábitos e novos estilos de vida em sociedade e com certeza, pessoas mais felizes.