Quis o acaso do calendário que este ano, o Dia da Mãe, celebrado tradicionalmente no primeiro domingo de maio, coincidisse com o Dia do Trabalhador, o que me leva a pensar, com uma pontinha de ironia, que em 2022 poder-se-ia chamar àquela efeméride: o dia da mãe trabalhadora.
Efetivamente as mães do século XXI sentem-se exaustas. O cansaço das mães que trabalham dentro e fora de casa, tornou-se um estado crónico acumulado, lentamente, ao longo do tempo. É um cansaço sem remissão, porque é uma consequência inevitável de um ato de amor incondicional. Quando uma mãe diz que está cansada, esta afirmação nunca acarreta arrependimento da sua escolha em ter procriado. É como se um filho fosse um prolongamento do seu corpo e da sua alma.
As mães vivem a correr como se estivessem sempre atrasadas no tempo. Dito isto, o cansaço das mães nunca desaparece, mas poderia ser atenuado se a sociedade lhe criasse condições que lhe amenizassem o stress do quotidiano.
Em abono da verdade, não obstante as conquistas recentes inerentes à licença de maternidade quer do progenitor quer da progenitora, ainda há um grande caminho a percorrer, para que a igualdade entre os géneros seja uma realidade.
Até aos dias atuais, continua a existir a discriminação profissional em relação às mulheres, que mesmo exercendo a mesma função que os homens, auferem, geralmente, um salário inferior. Consta que na União Europeia, as mulheres ganham, em média, menos 15% que os homens, e a pandemia veio evidenciar estas desigualdades. As mães assumiram a maioria das tarefas não remuneradas associadas à família e aos filhos e enfrentaram maior risco de perder o emprego.
Todavia, existe uma outra culpa imputada aos hábitos do século passado, enraizados em muitas famílias. Por outras palavras, ainda há quem considere que a mãe tem sorte quando o marido ajuda a cuidar das crianças e das tarefas domésticas, enquanto ela não faz mais do que a sua obrigação.
Não deixa de ser contraditório que a mãe, sendo a educadora - mor aos olhos da sociedade, permita que os filhos — futuros pais — venham a dar continuidade a este machismo disfarçado. Até que ponto não existe, também, uma culpa geracional das mães?
A sociedade patriarcal em que vivemos nos últimos anos (e que ainda não se extinguiu em muitos aspetos das nossas vidas) considerava e decidia que a missão primordial da mulher, para não dizer divina, era trazer vida ao mundo, numa conjuntura familiar tradicional. Porém, no atual cenário mundial, muitas mulheres vão decidindo mais sobre os seus próprios destinos.
Fruto da evolução da ciência e de profundas mudanças na mentalidade da mulher moderna, assiste-se em vários países ao crescimento do número de mães solteiras, não por descuido ou por força do destino, mas por opção. Entenda-se, neste contexto, que o termo solteira se refere à inexistência de alguém com quem partilhe a vida e desempenhe o papel de pai. Na sua maioria, estas mulheres engravidam através de inseminação artificial, sujeitando-se a elevados custos financeiros e enfrentando grandes desafios sociais, culturais e até legais.
Por oposição a este grupo de mães empenhadas em criar seus filhos sozinhas e, contrariamente ao espectável no século passado, há cada vez mais mulheres que optam pelo contrário: não querem ser mães.
Ter filhos implica uma responsabilidade a longo prazo, quase vitalícia, e o mercado de trabalho nem sempre permite tempo para que se possa pensar em ter filhos São muitas as jovens que adiam a maternidade com enorme frustração, devido à sua instabilidade económica e profissional. Outras, pura e simplesmente, não querem abdicar da sua liberdade. São, em geral, trabalhadoras focadas nos seus sonhos, nos seus planos pessoais e na sua carreira, sofrendo muitas delas de burnout profissional. Diga-se de passagem, que se um homem não pretende ter filhos porque se quer focar na sua carreira, é tolerado e considerado um homem responsável, porque mais grave seria ter filhos e abandoná-los conjuntamente com a mãe. No entanto, estas mulheres, cuja escolha pessoal de não querer ter filhos deveria ser encarada com respeito e compreensão, à medida que vão abandonando a idade fértil, são olhadas com estranheza e desconfiança. Até a ginecologista se encarrega de as alertar para o relógio biológico, como se ter filhos fosse a etapa essencial na vida de todas as mulheres, sem exceção.
Muito mais haveria para dizer sobre a temática “ser mãe”, se não esquecermos (o que acontece com mais frequência quanto o desejável), que vivemos numa era mais liberal onde outras orientações sexuais, que não a heterossexualidade, se fazem ouvir, mas seria um assunto merecedor de uma análise mais complexa e mais profunda.
Em mote de conclusão, não posso deixar de reiterar, que não obstante a tendência atual para reduzir os nascimentos, a maternidade, quando desejada e concretizada, é algo sublime.
Assim sendo, se no primeiro domingo de maio, os filhos aproveitam para demonstrar e reforçar o seu amor pelas suas progenitoras, quem é a mãe que não gosta de ser homenageada pelo seu amor incondicional, pelo seu empenho e pela sua dedicação?
Não é por acaso que escritores e poetas evocam as mães como deusas protetoras que se tornam anjos eternos quando deixam a vida terrena.