Durante a semana da leitura, decorrida de 7 a 11 de março, veio-me ao pensamento que provavelmente a maioria dos nossos conterrâneos desconhece que no nosso país existem diversas atividades no âmbito da promoção da leitura, levadas a cabo nessa semana e muitas delas online, pese embora o excelente trabalho desenvolvido pela Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira o que, até certo ponto, vai minorando a parca existência de uma única livraria nesta cidade.
Outra coisa não seria de esperar uma vez que as estatísticas nacionais indiciam que na população adulta apenas uma ínfima parte tem o hábito de ler por fruição ou prazer. Em inquéritos realizados pelo Plano Nacional de Leitura constatou-se que uma grande parte dos adultos nunca teve hábitos de leitura e outros já leram alguns livros em tempos idos, mas agora pura e simplesmente deixaram de ler.
Honra lhe seja feita, o Plano Nacional de Leitura tem sido uma mais-valia no que respeita a atividades promotoras da leitura nas nossas escolas, bem como no âmbito de outros projetos enriquecedores da sociedade civil. Com efeito, esta entidade além de colaborar em clubes de leitura em parceria com algumas universidades seniores, também tem direcionado a sua atenção para outros públicos, nomeadamente o empresarial.
Todos sabem ou, pelo menos, deveriam saber, que são inúmeras as vantagens do ato de ler para o desenvolvimento cognitivo, emocional e intelectual do indivíduo.
Também acredito que a maioria das pessoas está ciente de que a motivação para a leitura começa na infância e que, graças ao esforço de muitos professores, as crianças vão lendo integralmente e com prazer as obras abordadas na sala de aula. Porém, a partir da adolescência, outras motivações se levantam e, na idade adulta, parafraseando o filósofo sul coreano, Byung – Chul Han, os cidadãos deixam-se embrenhar pela dita “sociedade do cansaço” que hipervaloriza a eficiência e a produtividade, ao mesmo tempo que vai subjugando o ego, a autoestima e os êxitos pessoais aos contínuos likes e legendas digitalizadas em fotos postadas nas redes sociais.
Dito isto, fica a sugestão de que o sector empresarial tente implementar, gradualmente, pequenas atividades promotoras da leitura e do pensamento, capazes de desenvolver a literacia e o enriquecimento pessoal.
Os clubes de leitura são importantes, mas são maioritariamente frequentados por quem, tendo já hábitos de leitura, se compromete a ler um livro e a partilhar o seu ponto de vista sobre o que leu.
Existem outros desafios que carecem, acima de tudo, de vontade, alguma imaginação e coragem de experienciar. A título exemplificativo, deixo o repto de uma experiência levada a cabo por certas empresas do nosso país, as quais dedicam semanalmente, dentro do horário de trabalho e no início da manhã, meia hora à análise/ discussão de um texto sobre determinado tema, enviado previamente por e-mail aos seus trabalhadores. No início, estranhou-se a experiência, mas depois entranhou-se no hábito e no prazer. Um pequeno texto lê-se em dois minutos e partilhar o conhecimento e diferentes pontos de vista sobre o que se lê, vai desenvolvendo a capacidade de comunicação, de raciocínio e até a empatia. Dizem os entendidos que trabalhadores felizes são mais produtivos.
Quanto ao hábito de leitura dos mais velhos, sem pretender profetizar uma vida terrena eterna para os leitores compulsivos, ouso acreditar que por cada meia hora que lemos mais vivemos.