A palavra poluição quando chegou aos meus ouvidos, soou de uma forma tão estranha que agora, à distância, atrevo-me a dizer que vivi num tempo quase imemorial, já que este termo nem sequer constava nos dicionários.
É sabido que a poluição se converteu num problema para a humanidade após a Revolução Industrial; porém, quando este conceito surgiu nos nossos manuais escolares, apresentou-se à nossa compreensão como algo difuso e distante, porque pertencia aos países desenvolvidos e, como tal, no nosso entendimento eram eles os culpados dos seus próprios males.
Com o transcorrer dos anos, os mais velhos habituaram-se a novas palavras e expressões como poluição ou aquecimento global, entre outras e, embora muitos deles não consigam compreender na íntegra estes conceitos, apercebem-se de algumas consequências decorrentes das novas condições ambientais, porque têm saudades do tempo em que não havia calor no inverno nem frio no verão e nos rios deslizavam águas cristalinas.
É provável que muitas das novas tecnologias não tragam consigo tanto saudosismo, porque aos poucos, grande parte dos mais velhos se foi familiarizando com computadores, internet, smartphones e redes sociais.
Todas estas mudanças por muito estranhas que tenham sido nos seus primórdios, fazem parte da evolução do mundo.
Contudo, sem pretender ser defensora acérrima de uma pureza da Língua Portuguesa com total desdém por estrangeirismos e, tendo plena consciência de que a Língua sendo dinâmica, não pode impedir a multiplicação do seu léxico, fico consternada com a falta de consideração que alguns dos nossos comunicadores dos media e até certos intelectuais têm por aqueles que na sua escolaridade usaram uma lousa em vez de tablet.
Não estaremos perante uma forma de discriminação dos mais idosos, sempre que os meios de informação usam termos especificamente digitais sem recurso à tradução, nem que fosse em rodapé? Bem sei que, no meio informático, vocábulos como bluetooh, podcast, stream, briefing, meeting e tantos outros, são banais, o que os torna espontâneos no quotidiano dos seus utilizadores. Mas, a meu ver, um programa televisivo, por exemplo, não cumpre a sua missão de serviço público se abranger apenas uma audiência restrita – os que dominam os vocábulos da era digital. Pelo contrário, quanto mais abrangente for a compreensão, maior a informação das massas.
Será que aqueles que nasceram antes da era do plástico e que são acusados de não respeitarem o ambiente, precisamente por aqueles que usufruíram das benesses do plástico e afins, não têm direito de acompanhar os tempos modernos para poderem evoluir com sentido crítico? Sei que tudo isto é um paradoxo, mas dá que pensar.
Até que ponto, alguns jovens que devem a possibilidade de terem adquirido competências ambientais, digitais e tecnológicas ao suor do trabalho dos mais velhos, não os estão a menosprezar, usando de certa arrogância ou até exibicionismo intelectual?