(Mais do que a corrupção, o fascista pratica a maldade)
Numa destas manhãs chuvosas, navegando na net, deparei com esta inquietante afirmação:
“1 enfermeiro para 20 pacientes x 50 assessores para 1 deputado – essa é a grave doença!”
Não sei qual é a intenção do autor, contudo encontro-lhe a subjetividade. Que, literalmente, é no mínimo inquietante, pelas inúmeras interpretações que sugere.
A mim interessa-me, sobretudo, alertar para o ‘convite’ inequívoco que sugere, que nos pode conduzir para caminhos cujo retorno é penoso.
É, no entanto, um oportuno aviso à classe política, que se deve preocupar mais com o bem geral, em detrimento do favorecimento próprio!
Esta disparidade de recursos entre governantes e prestadores de serviços é vergonhosa.
Numa altura em que a pandemia que nos absorve quase por completo suscita todos os cuidados, não faz nenhum sentido haver um enfermeiro para 20 pacientes, quando o legislador utiliza 50 assessores para exercer o seu cargo.
São estes absurdos que abrem o caminho e alimentam os populismos.
Em artigo de opinião do ‘Público’, de 1 de Janeiro, Armindo Azevedo, Grão-Mestre da GLLP/GLRP, considera, e cito, que “esta retração provoca populismos, nacionalismos e egoísmos, de pessoas, organizações, instituições, Estados e governos, criando uma forte crispação nas relações e comportamentos. Uma situação muito perigosa para a estabilidade e a paz mundiais, num mundo onde os mais ricos ou fortes tendem a impor as suas decisões ou a criar fatos consumados em proveito próprio e claro, em desrespeito ou prejuízos dos mais fracos e desfavorecidos. Esta situação faz com que os governos enveredem por caminhos restritivos que frequentemente levam a sentimentos de xenofobia, autodefesa e reforço dos arsenais bélicos, fruto de receios dos vizinhos ou de potências vistas como adversárias. Basta fazer leituras atentas sobre o rearmamento acelerado mundial em muitas zonas geográficas do planeta, com países a produzir ou a adquirir, em massa, armas e equipamentos cada vez mais destrutivos. Já não parece haver respeito ou limites, nem organizações internacionais capazes de suster esta escalada. E sucedem-se os avisos, as picardias, as ameaças, as escaramuças e as quase confrontações que, a ocorrerem de fato, irão acelerar a destruição planetária”.
Nada como uma crise de saúde pública para facilitar a colocação de uma trela no pescoço dos cidadãos que, lembrados dos interesses coletivos, mas esquecidos da vulnerabilidade gerada pela negligência dos interesses individuais, se deixam manobrar e submeter mais facilmente. O ser humano é um explorador nato. Procura continuamente impor o seu domínio sobre a natureza. Porque não sobre o próprio ser humano?
O despotismo é, sem dúvida, a forma mais simples de governo. É baseado em um conceito simples: o poder detém a razão. Numa sociedade despótica, o poder é mantido inquestionavelmente por aqueles que detêm o poder sobre as forças armadas e consequentemente, podem reforçar as suas ordens.
“É em tempo de crise que podemos e devemos fazer a diferença, tendo sempre por referência a defesa do bem comum, da equidade, da dignidade de todo o ser humano e da paz”, escreveu Armindo Azevedo, no seu artigo acima citado.
Estamos, neste início de 2022, no dealbar de uma encruzilhada que vai dar às eleições de 30 de Janeiro, que essencialmente vai eleger os novos legisladores, que por sua vez vão ser o sustentáculo do novo poder executivo, por mandato popular. É a essência de um regime
democrático como o nosso, que nos cabe preservar e defender de todas as tentativas totalitárias que vão estar aí expostas na praça pública.
Depende de todos nós. Do nosso discernimento no exercício de um direito que também é dever: fazer a escolha entre a esperança de uma vida melhor ou, por abdicação, de um penoso regresso às trevas.