Foi com entusiasmo e alegria que aceitei o convite do Parlamento Europeu a marcar presença, no dia 15 de dezembro, na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov do ano de 2021, em Estrasburgo, França.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, lançado e atribuído pela primeira vez em 1988 a Nelson Mandela e Anatoli Marchenko, é o maior tributo prestado pela União Europeia ao trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos — tendo alguns dos laureados do Prémio Sakharov, como Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Nadia Murad, ganho o Prémio Nobel da Paz posteriormente.
Este ano, o Parlamento Europeu entregou o Prémio Sakharov a Alexei Navalny — advogado, ativista anticorrupção e grande opositor político do presidente russo Vladimir Putin. No entanto, e devido ao facto de o mesmo estar preso na Rússia, foi a sua filha Daria Navalnaya, acompanhada por Leonid Volkov — um dos seus principais conselheiros políticos e chefe de gabinete da sua campanha para as presidenciais de 2018 — que recebeu o prémio em nome do seu pai.
Depois da cerimónia oficial, juntamente com os meus quatro colegas convidados — uma colega natural da Síria, outra da Alemanha e os outros dois da Letónia — reunimos com a filha de Navalny e tivemos a oportunidade de ouvir, partilhar, discutir, questionar sobre a sua situação pessoal e familiar.
Daria avançou-nos que tem pouco contacto com o pai desde que foi preso no início do corrente ano, mas que o mesmo tem-se demonstrado determinado e otimista, e que receber o Prémio Sakharov atribuído pelo Parlamento Europeu é um sinal positivo de reconhecer a luta pela anticorrupção e transparência como uma luta pela dignidade e pelos direitos humanos.
A filha de Alexei, de 20 anos, disse-nos que está a estudar nos Estados Unidos da América e que não tem como objetivo enveredar pelo caminho político do pai, mas que dar a voz pelos direitos humanos continuará, certamente, a ser parte do seu caminho. Disse-nos também que hoje são encaradas com normalidade as perseguições à sua pessoa e à sua família, e o medo da possibilidade de ser envenenada é uma constante no seu dia a dia. Quanto à comunicação social e outras redes de comunicação foi-lhe perguntado como é que, pessoalmente, se gere a
desinformação, as notícias falsas e manipuladas sobre o seu pai, ao que a mesma responde que qualquer notícia sobre o seu pai é uma boa publicidade.
Navalny pediu à sua filha para enaltecer no seu discurso o facto de a Rússia ser parte da Europa e que, por isso, a mesma se continue a esforçar em garantir que os seus ideais são promovidos e alcançados, em prol da democracia, da integridade, dos direitos humanos.
Infelizmente, não é pouco comum a cadeira do laureado estar vazia e, por isso, não nos esqueçamos de outros laureados do Prémio Sakharov, de outros presos políticos, de outros ativistas pelos direitos humanos que continuam presos e sem acesso a direitos fundamentais.
O atual presidente do Parlamento Europeu, David Sassolli, no final do seu discurso exigiu a libertação imediata e de forma incondicional de Alexei Navalny e elogiou a sua coragem.
Foi um dia mentalmente desafiador e emocionante, não só por ter ouvido na primeira pessoa a sua realidade próxima e diária, mas também pelo que profundamente fez refletir.