Sem nos apercebermos, estamos a caminho, para um outro mundo, bem diferente deste, que vai nascer depois da tragédia da pandemia dos nossos dias. E pode perguntar-se: será melhor ou será pior? Não sabemos. Ninguém sabe, com certeza. Quanto à propagação deste virus, o mais certo é ele poder durar alguns anos ou mesmo décadas, como nem os cientistas saberão. E tudo vai depender das escolhas, das apostas, das decisões ou indecisões, que hoje fizermos ou que não fizermos.
Na sequência de uma pandemia, que se disseminou através do Mundo, e que está agravada por duas outras “pandemias”: o ressurgimento de nacionalismos populistas a conduzir-nos aos regimes totalitários; e uma ambição sem limites para aprofundar a cooperação global e garantir, em liberdade e democracia, o pluralismo de opinião, a estabilidade e confiança; estamos a viver uma época de enorme complexidade e angústia.
Esta é uma tragédia, que terá começado na cidade de Wuhan, na China, e pouco depois, o terror invadiu as grandes cidades e disseminou-se até às aldeias do além, que poder-se-ia dizer: - à margem da civilização. Ao avaliar os primeiros sinais da pandemia e suas consequências, exigiram-se respostas para enfrentar a evolução do problema.
O sistema do Serviço de Saúde teve de sofrer uma política de reformulação, com o intensificar de cuidados médicos e hospitalares, a introdução de uma rede de serviços a funcionar por todo o país; as autarquias a reestruturarem o acompanhamento dos doentes, e as intervenções de solidariedade, junto das vítimas e das famílias.
Muito longe estamos de cantar vitória, (se é que algum dia isso poderá acontecer), mas devemos reconhecer os contributos bem significativos, que em Portugal foram dados para impulsionar a investigação, identificar os surtos e restringir os contágios.
A ansiedade é uma constante, gerada pela incerteza, que causa grandes preocupações, mas também pode levar-nos a ultrapassar rotinas, para sairmos deste marasmo em que vivemos.
O medo deve ser enfrentado com energia, a insegurança e as indecisões devem ser ultrapassadas. É preciso coragem para lutar, para se tomarem decisões de inovação, com capacidade imaginativa para agir e escolher as soluções mais adequadas para cada situação que se nos deparar.
É preciso construir e remodelar hospitais, apostar numa boa formação de novos médicos e enfermeiros, de assistentes operacionais e mobilizar muitos outros recursos, que sirvam para proteger a vida humana. “Os nossos super-heróis são os cientistas dos laboratórios”, disse alguém.
E encaixa bem aqui, uma frase de Elvira Fortunato, uma das cientistas portuguesas com projeção internacional, que já foi indicada para o Nobel, com a opinião de que - “Se o futuro não se prevê, inventa-se; o seu percurso pode bem ser o exemplo, que se torna cada vez mais premente, perante os desafios que enfrentamos”. E disse mais: “A palavra impossível não entra no laboratório, porque os materiais, às vezes podem surpreender-nos. Não há maus materiais. Todos são bons. Depende da aplicação. O nosso caixote do lixo está sempre vazio”.
Em cada dia é feito o ponto da situação, e há um momento para refletir questões primordiais e rever interpretações controversas, a fim de acertar a construção do futuro.
O número de infetados multiplicava-se, dia a dia, bem como o número de mortos, que, embora mais reduzido, devido ao efeito das vacinas, teima em continuar a assinalar a presença deste virus “maldito”.
Fomos envolvidos numa das catástrofes que atingiram o Mundo, como advertiu Goethe: “Não se cumpre amanhã o que hoje não foi feito. E nem um só dia se deve perder”.
Esta pandemia já causou um número de mortos, em Portugal e no Mundo, que excedeu o número de vítimas da II Guerra Mundial. Há cientistas, e são muitos, a admitir que esta pandemia só vai ser atenuada, quando a maioria da população estiver vacinada. E isso já está provado em Portugal.
A velocidade de propagação deste virus é constante, e os acidentes de percurso, ligados à aplicação das vacinas, alertavam para que se mantivessem as medidas recomendadas para conter a sua propagação, até que ficasse concluído o processo de imunização. Segundo as previsões científicas mais autorizadas, este é um processo que só deverá ocorrer dentro de alguns anos ou de algumas décadas, quando a vacinação cobrir toda a humanidade.
Até que isso aconteça, o virus vai estar sempre presente.
E não é ainda do conhecimento científico, se a vacinação impedirá a transmissão e mesmo, nem quanto tempo durará a imunidade que é introduzida através da vacina.
Com tantas dúvidas e constantes interrogações, que temos, (uns mais outros menos), só nos resta uma certeza: - continuarmos, por assim dizer, no “olho do furacão”.
Talvez, daqui a dois, três ou quatro anos, estaremos mais preparados para enfrentar este “ciclone”. Mas, se for daqui a 15 ou vinte anos, já ninguém se lembrará. O certo é que – caminhamos para um outro Mundo, bem mais diferente do passado, que será melhor, ou pior – quem sabe?
Tudo pode depender de as apostas que forem feitas agora, ou não. E essas apostas implicam a participação de todos nós.
Para se conseguir vencer este inimigo comum e invisível, teremos todos de travar uma batalha, que é feroz e arrasadora.
-Estamos nessa onda, ou temos medo?