Há um provérbio árabe que diz que "a árvore se entristece ao perceber que o cabo do machado é de madeira". Não vai há muito tempo (quatro ou cinco anos) que vi serem cortadas algumas árvores na Rua Ferreira de Castro, ali por trás da Escola Secundária da cidade. Estavam, como muitas outras, em cima do passeio público e não estorvavam ninguém, mas decidiu-se que, para o seu lugar, melhor seria a calçada portuguesa. Alguém, provavelmente ligado ao ambiente, preferiu o calcário à arvore, ou então algo de muito grave se deve ter passado para que se deitasse fora o que a natureza nos oferece de tão valioso, sem a preocupação de o substituir.
“Para mim, a natureza é sagrada, árvores são o meu templo e florestas são as minhas catedrais.” – Mikhail Gorbachev.
Agora, mais recentemente, é o arbóreo da Rua 1.º de Maio a sofrer impiedoso ataque, não que o removam pela raiz, mas pelo que sofre por todo o resto do corpo. Posso até não ter razão para a crítica, mas se pela via do conhecimento admito poder não estar à altura para a fazer, já os olhos não perdoam. O que deveria ser uma poda, na verdadeira acepção da palavra, o que vejo, ou melhor, o que vi, não passou de uma tosquiadela, brutal e generalizada a todas as arvores daquele sítio. Fica-se sem saber o porquê de semelhante ataque. Se por alguma maleita arbórea, se por qualquer cruel instinto podador. Tudo a eito, sem dó nem piedade. Primeiro, como sucedeu na Ferreira de Castro, arrancam-nas, como se a sua acção fosse apenas de estorvo. Agora, insatisfeitos, vão a outras e depenam-nas, deixando-as nuas, frágeis e desprotegidas, numa intervenção de estética que só as torna menos atraentes, para não dizer feias. E não é a primeira vez que o “vegetal” sofre este tipo de “ataque” e não parece, pelo menos em aspecto, que a saúde seja o melhor resultado obtido das razias dos outonos passados. Atribuam as razões que melhor se entendam, mas para mim há 2 coisas na poda que, para ser bem feita, se exigem: nunca ser drástica, nem exagerada. Isto, contado por gente bem mais antiga do que eu e que sei desde os bancos da escola.
Tem toda a razão a bióloga da Universidade de Aveiro, quando diz "que as nossas árvores continuam à mercê das vontades e não do conhecimento".
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia