O Ministério da Educação publicou recentemente uma panóplia de restrições à oferta alimentar nas escolas, contrapondo uma listagem de géneros alimentícios a disponibilizar em ambiente escolar.
Sem pretender menosprezar qualquer medida educativa que promova uma alimentação saudável, sinto-me muito grata pela minha condição de professora reformada, porque pertenço à velha guarda para quem imperava a máxima: “no meio termo é que está a virtude.” Na verdade, ao ler a listagem exaustiva das restrições alimentares, perdi de imediato o apetite, imaginando-me a comer pão com peixe, já que as minhas maleitas intestinais me iriam impedir de colocar feijão no pão, apesar do alto valor nutriente das leguminosas.
Ironias à parte, parece-me que a listagem de alimentos a disponibilizar é reduzida e pouco apetecível para quem não é vegetariano, pelo que já não me espanta que na ânsia de transformar hábitos alimentares, se chegue ao ponto de retirar dos programas escolares a leitura de Eça de Queiroz cujos romances referem comidas pouco saudáveis como ovos com chouriço. Pudera! Se eu fosse aluna e tivesse tantas restrições alimentares, ficava com água na boca e perdia a capacidade de concentração.
Com todo o respeito pelos mais variados gostos e tendências gastronómicas, sou levada a cair na tentação de pensar que estas medidas foram “cozinhadas” por algum amante de sushi já que o peixe é rico em fósforo e ilumina a mente.
Posto isto e os factos, o que vão colocar as escolas nas caixas de venda automática? Uma cenoura em formato de barrita de cereais? E quando o diretor de turma detetar, no intervalo, um aluno a comer uma bolacha trazida de casa? Vai confiscá-la para verificar o teor do açúcar ou instaurar um processo disciplinar por desobediência às novas regras alimentares?
É sabido que a par dos combustíveis, os produtos alimentares, nomeadamente, a fruta, têm registado aumentos de preços desde o início da pandemia, e estou em crer que as medidas de apoio às famílias carenciadas não são suficientes. Quem pode, com o ordenado mínimo, pagar renda de casa e colocar na mesa fruta e legumes em todas as refeições?
Contudo, as mentes iluminadas da nossa educação e cultura não se ficaram por aqui. Pelos vistos, a não ser que se trate de uma fake news, publicada nas redes sociais por uma empresa jornalística e editorial conceituada, o Ministério da Educação também proibiu os “ Lusíadas” ou, pelo menos, o último canto desta obra, porque Camões mostra os navegadores portugueses a enfardarem comidas calóricas na Ilha dos Amores. No meu tempo de aluna, este canto também era proibido, mas por motivos de cariz sexual. Mudam-se os tempos, mas as mentalidades obtusas reaparecem, embora por motivações diferentes.
Eis porque os defensores acérrimos de uma alimentação saudável consideram que as leituras de Margarida Rebelo Pinto são mais recomendáveis, graças às saladas de endívia e ao sushi referenciados nos seus livros.
Está certo! Viva a cultura!