É uma interrogação que se pode fazer, porque muitas dúvidas andam na mente das pessoas, com os meses a passar, e o virus a insistir numa resistência “feroz”, com variantes assustadoras. As pessoas têm medo de se aproximarem umas das outras, (e o caso não é para menos), quanto mais, saudarem-se com beijos e abraços, como dantes. Quantas vezes, ao aproximarmo-nos, hesitamos até, de dar uma cotovelada, ou uma socada de mão fechada com mão fechada. E que dizer daquele gesto de costas com costas, como sendo uma forma indireta de sentir o corpo, um do outro? Realmente, será caso para se dizer, (como no fado da Amália) – “Que estranha forma de vida” – a nossa!
O certo é que, ou vivemos num isolamento quase total, ou não há outra forma de procurarmos fugir do perigo que espreita, por todo o lado. E mesmo assim, ninguém está livre de ser infetado quando menos se espera. Como aconteceu com um ex-colega meu, em Lisboa, que foi atingido, e foi internado em estado grave, sofreu, mas “safou-se”, embora tenha sequelas para o resto da vida. E então, disse-me ele: “É pá, não sei como apanhei o virus … talvez tenha tocado em algum lado onde ele (o virus) estava ativo. O certo é que aconteceu e passei mal. Vi a morte à minha frente”. Pois é … trata-se dum inimigo traiçoeiro, que nunca se sabe onde pousa ou por onde circula, de forma que, se não tivermos todos os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias, estamos sujeitos a ser atacados por ele.
Mas, voltando aos abraços e beijos, há pessoas que estavam tão habituadas a partilhar esta forma de vida, que agora, a pandemia trocou-lhes as voltas e, vivem uma situação por demais confrangedora, com a falta deste lenitivo. Sentem a necessidade de afetos, de tal ordem, que, em muitos casos, são levadas ao desespero. E é mau. É muito mau. Chegar a esse estado de desalento, é meio caminho andado para a morte. Não, não nos podemos deixar vencer assim, por um “micróbio” tão insignificante, mas que é forte para matar pessoas. Desculpem-me, falar (escrever) assim, mas é o que sinto.
No entanto, há quem não pense desta forma e continue a viver, como se nada se passasse. Dizem: – ”Sempre temos de morrer! … Se não for da pandemia é doutra coisa qualquer, por isso, deixem-nos viver a vida”. Sim, senhor! … Viver a vida, está certo. Todos queremos viver a vida, mas não desta maneira. E aqui, devia prevalecer o direito à liberdade de cada um. Com o comportamento de desrespeito pelas regras sanitárias, de uns, vão sofrendo muitos outros, com a alimentação da permanência do virus na sociedade.
Não se fala nas notícias, do dia-a-dia, (nas rádios e televisões), daquilo que dizem aqueles que passaram pelos cuidados intensivos e se “safaram” da morte, naquela hora. Talvez, se muitos dos que se julgam “fortes” contra o virus, se ouvissem o que dizem os recuperados da pandemia: - “O que eu passei naquelas horas … em que vi a morte à minha frente! …Não o desejo, nem ao meu maior inimigo” – Talvez tivessem outra postura de comportamento na sociedade.
Beijos e abraços, afetos e testemunhos de amor, fazem falta na vida de muitas pessoas, fazem parte do comportamento humano e social.
De muitas pessoas, que agora têm dificuldade de passar sem eles. E quem vive só, então ainda pior. Agora, quem não era tão afeito a beijos e abraços, nesta situação de pandemia, também não lhe tem sido tão difícil passar sem eles. É tudo uma questão de maneira de ser de cada um. Ninguém se fez a si próprio.
Mas, voltemos à problemática: voltaremos a poder ter beijos e abraços, como dantes? Há quem diga que não. Quando dermos por vencida esta pandemia, pelo menos, em toda esta grande extensão, voltaremos a uma nova normalidade, mas que não será como dantes.
No entanto, há quem diga que a normalidade voltará. Há quem acredita que assim será, porque, (dizem): - “O ser humano está formatado para o contacto social, que é inato em nós. Logo, quado nos sentirmos seguros, adotaremos, de novo, essas formas de cumprimentos”.- Será que vai ser assim? Quem sabe? …
Mas, também é verdade que, para muitas pessoas, o cumprimentar alguém que se acaba de conhecer, com beijos e abraços, foi sempre um grande desconforto. Logo, para essas pessoas, a nova normalidade será facilitada.
Não podemos distrair-nos e, esquecermos que a pandemia veio obrigar a mudanças de hábitos na vida das pessoas, e ninguém estava preparado para isto. Logo, manifestações de afetos com beijos e abraços a alguém … com certeza, mas só quando o virus estiver dominado pela vacinação.