Para muitos, só quando a pandemia nos deixar.
Há quem ande eufórico com a ideia de ir de férias, e há quem não queira sair de casa para férias, este ano. Muitos vivem numa grande incerteza, com medo de viajar, e não é uma doença. É o medo, o medo de apanhar a covid-19. Isto, naquelas pessoas que têm condições financeiras para poderem gozar férias. Porque, neste tempo de pandemia, (ainda mais que nunca), há muita gente que, mesmo que quisesse “arriscar” gozar férias, não tem condições para o fazer.
Mas, o senhor Zé Maria, um homem que vivia só com a sua gata-preta, até tinha ainda uma máscara, como recordação, com que se protegeu da poeira atmosférica da Índia, quando por lá passou umas férias. Ele, que sempre gozou férias cá dentro e lá fora, com esta coisa da pandemia, está assustado e não quer arriscar. Não quer pensar em férias, com medo da covid-19. Criou pânico com os aviões, os testes e as máscaras.
Ao ouvir as sirenes das ambulâncias a passar ao longe, já ficava incomodado, e por vezes tapava os ouvidos, e até sentia arrepios. Tal era o trauma que sentia com a pandemia. Saía à rua uma vez por semema, sempre bem mascarado, para depositar o lixo no contentor. E de resto, não saía para mais nada. Tudo o que precisava, encomendava via telefone, e iam-lhe levar a casa. Estava a fazer uma vida de autêntico eremita em isolamento. Era um homem de trabalho intenso, mas com a ansiedade em relação ao virus com transmissão comunitária, levou-o a deixar de separar os próprios resíduos de casa, “para não ter de manusear as tampas”. Vivia num susto constante, com medo de ter de ir parar ao hospital, de urgência, por qualquer motivo e, estar sujeito a não ser atendido e poder morrer sem assistência. Como tinha uma grande casa e uma quinta anexa, resolveu começar a fazer caminhadas sozinho, por caminhos entre as árvores, mas sempre pensativo no que lhe podia vir a acontecer. Entrou em sofrimento psicológico, deixou de se alimentar devidamente, e caiu na fraqueza. Até que um dia, a fraqueza deitou-o abaixo, de tal forma que, na última caminhada que fez, caiu desamparado, desfalecido, e não teve quem lhe valesse. (Foi o que vieram a apurar as autoridades). Um dia mais tarde, quando a gata-preta começou a andar aos saltos numa janela, talvez com fome e saudades do “amigo”, alguém teve a curiosidade de levantar a dúvida: É estranho! O senhor Zé Maria estará bem?
Foi lançado o alerta e deram conhecimento às autoridades, que entraram na propriedade, e acabaram por encontrar o senhor Zé Maria já em decomposição, na sua quinta.
Esta foi a história do senhor Zé Maria. Mas, neste tempo de pandemia, quantos Zés Marias haverá por aí, também com medo de ir de férias?
Não quer isto dizer que são todos Zés Marias, com medo de ir de férias.
Há os que não têm medo de nada destas coisas, e depois, até vão de férias, acabam por contrair o virus, vão parar ao hospital, sem retorno de vida, e não voltam a ter férias.
E há aqueles que continuam a pedir dinheiro no Banco, para ir de férias. “Lá pensam com os seus botões”, deixa-me aproveitar enquanto posso… Depois, logo se vê. Esses não têm medo da covid-19. Para eles, já é passado, depois de terem tomado a vacina. “Já se pode fazer vida livre, sem máscara, sem manter distâncias, sem desinfeção de mãos, sem nada”, já assim pensam os incautos. E há muitos a pensar assim, para mal de todos quantos continuam a defender-se da “praga” do coronavirus.
As pessoas mais sensatas, defendem-se o melhor que podem da pandemia, e não pensam em férias, neste estado de medo e de ansiedade em que se vive.
Talvez, quando se conseguir ultrapassar tudo isto, cada um poderá ir de férias, (ou não), cá dentro ou lá fora, conforme as suas possibilidades.
Mas, o trauma da pandemia vai deixar muitos de “rastos”, para toda a vida.