Não me cabe cá nas minhas, que os utentes dos lares, creches e outras instituições de acolhimento de idosos, sejam os culpados de lá entrar o Covid-19. Se eles estão ali, tão sossegadinhos, não saem à rua, nem apanham correntes de ar, como se explica que sejam ‘atacados’ por esta pandemia? Talvez, os responsáveis por estes estabelecimentos tivessem acordado tarde, para os cuidados a ter na prevenção sanitária, que foi sendo transmitida pela Direção-Geral de Saúde. Talvez, julgo eu, que isso terá acontecido em alguns casos. Noutros, talvez não. Mas, então, como se explica a onda de infeções que se foram verificando, num grande número de lares e outros? De pouco adiantará uma boa higienização de tudo o que faz parte do interior das instalações, se não houver o cuidado de não se transportar o ‘micróbio’ lá para dentro. O coronavirus não vai por si próprio, à procura dos lares, nem vai levado pela corrente de ar. Ele deixa-se agarrar às coisas, às pessoas, e assim se dissemina por todo o lado. Sem darem pela sua presença, os utentes são “apanhados” pelo covid-19, e naquelas idades frágeis, torna-se difícil resistir. – E então? … Como se explica, que tantos casos fossem acontecendo, de infiltração da Covid-19 nos lares? Apenas encontro uma explicação para este fenómeno: – quem entra e sai, (trabalhadores, visitas ou outros) são os transportadores do vírus para estas casas. As regras existem, mas, basta que alguma coisa falhe, no escrupuloso cumprimento das mesmas, e o covid entra sem ninguém dar por isso. Pode-se desinfetar as mãos com frequência, mudar o calçado à entrada, mas, basta que se tenha tocado em alguma coisa que esteja infetada, e ‘ele’ aí vai. E depois de estar lá dentro, facilmente se dissemina por entre os utentes. Quando se dizia que as vacinas protegiam os maiores de 80 anos, afinal, parece que nem sempre isso acontece, como se viu pelas últimas notícias. Todos os cuidados são poucos - sempre.
Mal daqueles que não tiveram escolha e foram ‘atirados’ para os lares, indefesos e entregues à sua sorte. Mas, esta pandemia também veio pôr a descoberto muita miséria que existia em alguns lares, de maus-tratos, de falta de higiene e limpeza dos utentes. E alguns lares eram uma fonte de negócio para os donos, em que os idosos eram os ‘trastes’ rendosos que, quanto menos gastassem com eles, mais davam lucro. E, daqueles que, para lá entrarem, tinham os familiares de entrar com verbas avultadas, que não se sabe para onde eram encaminhadas.
‘Porca miséria!...’ Ainda dizem que é bom ter-se uma vida longa. Sim, é bom, para quem tem a sorte de ter alguma saúde, boa cama e boa mesa, e quem lhes assista, para se gozar da vida. Agora, para aqueles que não têm essa sorte, que não têm quem lhes dê assistência, apoio e carinho, nas suas próprias casas, para esses, que são ‘depositados’ nos lares, a longevidade, na maioria dos casos, é um infortúnio, uma antecâmara para a morte. Noutros tempos, os velhos eram tratados em casa, assistidos e acarinhados até ao fim da vida. Eram outros tempos, em que a maior parte das mulheres não tinham (outro) emprego, que não fosse tratar da vida de casa e dar assistência aos mais velhos. A educação das pessoas, naquele tempo, fazia-as sentir a obrigação de dar os fins aos seus entes queridos, com todo o desvelo e carinho. Os velhos sofriam mais fisicamente, porque não havia um Serviço Nacional de saúde, mas beneficiavam do carinho familiar, que lhes atenuava o sofrimento. Mas, as condições de vida para as mulheres mudaram muito, (e ainda bem), e, quem chega a velho, e as (ou os) não tem, para lhes dar assistência, fica sujeito à sua sorte. E os velhos, nos lares, (muitos abandonados dos próprios familiares), sofrem quietos e calados, até que a morte os leve. Que Deus me perdoe, mas, para muitos, a covid-19 veio retirá-los do sofrimento e levá-los para o eterno descanso.