Se o 25 de abril é mais um feriado na lista de tantos feriados nacionais, (e este ano até calha ao domingo), e mais do que isso, pouco ou nada representa para a maioria dos portugueses, (uma grande parte deles já nascidos durante estes quase quarente e sete anos); é porque a história não é estudada desde os bancos da escola, sobre o antes e o depois da Revolução dos Cravos!
Salgueiro Maia, um dos oficiais mais importantes da Revolução e, no processo democrático subsequente, iniciou assim dois depoimentos, que lhe foram solicitados, um dia, para a História de Portugal, pouco tempo antes de morrer, em 4 de abril de 1992: – “Filho de uma família de ferroviários, é a situação de guerra nas colónias que me permite o acesso à Academia Militar, pois o conflito fez perder as vocações habituais, e assim a instituição foi obrigada a abrir as portas.”
A minha geração, talvez por ter nascido ainda com o cheiro da II Guerra Mundial, teve a característica de ser saudavelmente gregária, assim, e em confronto com as novas gerações, o sentimento coletivo dominava o individual. Desde os bancos da escola que nós organizávamos de modo a fazer face ao ‘inimigo comum’, os professores e todo o tipo de autoridade; este sentimento foi a base de tudo o que fizemos a seguir.
Podemos afirmar que a nossa capacidade criadora foi orientada face à ditadura do Estado Novo, para as aspirações coletivas, marginalizando todos aqueles que se colavam ao poder ou o adulavam. A geração que na década de sessenta entra na maioridade, com facilidade recebe do exterior, cujo El Dorado é Paris, as influências que consolidam o seu espírito de abertura e ânsia de justiça, fermentos da luta contra o autoritarismo e o conservadorismo.
O idealismo subjacente, continuou até aos nossos dias, sendo interessante verificar que a generalidade dos que se defrontaram contra a ditadura, continuam arredados do poder e pouco interessados em pactuar com politiquices. Apesar de tudo isto, entro na Academia Militar em 1964, acreditando na possibilidade de podermos constituir uma sociedade multirracional e multicontinental. Durante o tempo de permanência na Academia Militar, verifico o sucessivo afastamento dos meus antigos colegas de carteira, ao ponto de, quando em 1968 entro em Moçambique, verificar através dos documentos de informação militar, que um número muito significativo deles tinha passado para o outro lado. (E continuou o seu depoimento, narrando a história da sua participação na Revolução dos Cravos e no processo democrático … que muito nos pode fazer compreender a razão de comemorarmos o 25 de abril).
O princípio do Estado Novo foi importante, porque ‘aguentou’ o País à beira de um precipício sem salvação à vista! No entanto, depois enveredou pelo caminho errado, o caminho da ditadura, em que o povo foi subjugado ao poder absoluto, sem ter direito, nem sequer de opinião, quanto mais, de decisão. Falar em democracia no tempo do Estado Novo era falar do inimigo. E o inimigo era controlado pela PIDE, a força política do regime. Ora, o jugo que o povo carregou durante tantos anos, tornou-.se cada vez mais difícil de se aguentar no cachaço dos portugueses. Até que um dia a vontade de liberação foi de tal ordem, que se decidiu: – “o povo unido jamais será vencido”! E em boa hora isso aconteceu., graças aos militares, que também se sentiram cada vez mais subjugados, e na segunda tentativa, os Capitães de Abril tomaram conta do poder e entregaram-no aos Políticos, que se tornaram e foram aceites, representantes do povo. Uma revolução sem sangue derramado, que nem deu para desenferrujar os canos das armas, e na ponta dos mesmos foram colocados cravos vermelhos, em sinal de paz. Foi o 25 de Abril de 1974!
É certo que hoje, muita coisa está longe do espírito do 25 de Abril, e por vontade de alguns, já estaríamos de novo subjugados, sei lá … a que regime! … Por isso, vamos acordar, vamos refletir no 25 de Abril e ver o que devemos fazer para que ele não seja defraudado e não sejamos de novo sujeitos … sei lá a quê?! … O feriado do 25 de Abril, que este ano até calhou ao Domingo, não é para ser vivido com “explosões”, protestos ou reivindicações, seja do que for. É um dia para ser vivido com festa e alegria, pelo povo, porque é o dia comemorativo da conquista de liberdade – o 25 de Abril de 1974. – Viva o 25 de Abril!