Há já alguns anos que tenho manifestado o meu desagrado pelo modo como as árvores são tratadas em Santa Maria da Feira. Refiro-me às podas radicais de que são alvo. Infelizmente a situação matem-se e não é caso único. Em outros concelhos, alguns vizinhos, também fazem o mesmo, mas como se costuma dizer com o mal dos outros podemos nós bem.
Se estivermos atentos, constatamos que, ano após ano, há ruas e praças onde as árvores são autenticamente ‘degoladas’, é o termo, pois é-lhes deixado apenas o tronco. São inúmeros os exemplos e só quem não está minimamente atento não constata o óbvio. Quando passo, por exemplo, na estrada junto ao Largo das Airas, fico com a sensação que ouve ali uma batalha campal e, no fim, só restaram corpos mutilados e desmembrados, tal as atrocidades que provocaram nas árvores. Um lugar onde podia ser prazeroso estar, bastava para tanto que deixassem crescer as árvores naturalmente. Assim, passa-se por lá num domingo à tarde e não se vê uma única pessoa. Não admira, ninguém gosta de estar num lugar que lhes faça lembrar uma guerra, pela energia negativa que isso encerra. Como é possível os moradores não se indignarem?
Também posso referir exemplos de boas práticas no que à educação ambiental e defesa das árvores diz respeito e se fazem no concelho. Aliás num desses domingos que passei nas Airas foi para me dirigir até às Caldas de São Jorge e Fiães para fazer os bonitos passadiços junto ao Rio Uíma. Até parece que não estamos no mesmo concelho. Ou então os responsáveis não são os mesmos.
Há três ou quatro anos enviei um e-mail para a divisão do ambiente da Câmara Municipal a manifestar o meu repúdio relativamente ao tratamento que é dado às árvores ornamentais. Um dos responsáveis respondeu-me dizendo que era especialista e vinha agora um leigo opinar sobre este assunto. Sou um leigo, mas não deixo de me interessar por outras áreas que não apenas as de índole profissional. Como disse Abel Salazar, médico, professor, investigador, artista plástico, escritor… “o médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe”. Podia citar dezenas de artigos de especialistas a dizer que as árvores ornamentais não precisam ser podadas. Aliás as podas, por norma, tornam as árvores mais vulneráveis aos agentes infecciosos, sobretudo as radicais, porque lhes são cortados ramos já com um diâmetro considerável. Também não preciso ser especialista para saber que a vegetação ripícola não deve ser retirada junto às margens dos rios ou ribeiras como aconteceu nas margens do rio Cáster junto à Escola EB 2,3 de Fernando Pessoa. Também duvido quando alguém precisa de puxar dos galões para justificar algo.
Desafio os Feirenses a fazerem um pequeno exercício: quando passarem pelas ruas do Porto, nomeadamente na zona do Campo Alegre, Fluvial, Foz, zona de Serralves etc., se detenham um pouco para que possam verificar o tratamento que lá é dado às árvores. Irão constatar que é respeitado o seu crescimento, mesmo junto às fachadas dos prédios, mantendo-se exuberantes, de boa saúde… Na Feira, junto às fachadas, ou são abatidas ou “degoladas” para não tapar as vistas. O que é que será melhor? Abrir uma janela e ver uma árvore ou ver betão do outro lado da rua? Aprender a respeitar as árvores deve começar desde muito cedo. Não é a derrubar árvores no recreio de escolas do primeiro ciclo, como aconteceu ao bonito e saudável cedro que existia no espaço de recreio da EB1 do Montinho, que vamos educar as crianças a amar as árvores e o ambiente. Como disse Jacques Cousteau, “só defendemos aquilo que amamos, mas só amamos aquilo que conhecemos”. Se os portugueses conhecessem melhor a importância das árvores não seríamos o país da Europa com mais área ardida, ano após ano. Os incêndios florestais previnem-se, sobretudo, com mais educação ambiental.
Há também quem justifique as podas radicais por evitarem, em dias de vento, que algum ramo possa cair por cima dos carros. Em primeiro lugar, em dias de vento não devemos estacionar debaixo das árvores. Por outro lado, as árvores são muito mais valiosas que os carros. Sem estes podemos viver até porque poluem e podem contribuir para encurtar a nossa esperança de vida. Sem as árvores não sobreviveríamos.