O Dia Internacional da Mulher celebra-se há 110 anos e atualmente é comemorado em mais de cem países.
Desde a década de 1960, houve uma certa pressão para que se comemorasse o Dia Internacional do Homem, tendo como fundamento as contribuições masculinas para a humanidade. Vários países aderiram à comemoração do Dia Internacional do Homem a 19 de novembro, mas a sua divulgação foi insuficiente e não teve o aval das Nações Unidas.
A escolha do dia 19 de novembro, embora careça de fontes fidedignas, aponta para a decisão tomada por um professor de História na Universidade das Índias Ocidentais, em Trinidad e Tobago, por se tratar do dia do aniversário de seu pai e pelo facto de nesse dia, em 1989, a seleção de futebol do seu país ter sido classificada pela primeira vez para o Campeonato do Mundo, o que, na opinião do professor, foi um fator determinante para a união do seu povo.
A escolha do dia 8 de março para celebrar o Dia da Mulher é bastante diluída no tempo, uma vez que a sua génese decorre de múltiplas manifestações de luta das mulheres pelo mundo.
Sabe-se, no entanto, que esta escolha se associa à luta das mulheres operárias por mais direitos e melhores condições de vida nas fábricas, ao movimento sufragista que reivindica o direito de voto, às manifestações das mulheres russas em 1917, à greve no sector têxtil nos Estados Unidos e até à ocorrência de um incêndio de grandes proporções, numa fábrica de Nova Iorque onde pereceram dezenas de operárias.
Lamentavelmente, apesar de muitas lutas e conquistas, nenhum país atingiu ainda a plena igualdade de género.
Muitas mulheres continuam desvalorizadas pela cultura dos seus países, o que se traduz em salários inferiores, violência física ou sexual, nomeadamente casamentos forçados de menores e mutilação genital.
Por outro lado, as convenções sociais e os preconceitos impediram o destaque das mulheres no domínio político, empresarial e até artístico, ao longo dos tempos.
Em Portugal, embora a igualdade de género esteja contemplada na lei, é um facto que os salários das mulheres se mantêm inferiores aos dos homens em alguns setores, e as estatísticas relativas a violência doméstica são pouco animadoras.
A estes fatores, acresce o trabalho doméstico da mulher, não remunerado, e o apoio à educação dos filhos cujas estatísticas apontam para uma maior incidência por parte das mulheres. Esta constatação poder-nos-ia levar a uma análise profunda de hábitos conjugais decorrentes de uma cultura machista camuflada, que não se vê, não é palpável nem quantificada, mas que por se ter entranhado há tantos anos no ar que se respira, se tornou “algo que faz parte do quotidiano”.
Efetivamente, não basta legislar, porque as mudanças de mentalidade demoram muitos anos até se alterar o que sempre pareceu natural.
Apesar de tudo, foram tantos os avanços relativos aos direitos das mulheres, que as gerações mais novas têm dificuldade em conceber a sociedade sem esses direitos adquiridos.
Talvez por isso, tenho vindo a constatar pareceres controversos sobre esta matéria.
Há mulheres, que pelo facto de nunca se terem sentido discriminadas no mundo dos homens, chegando a mesmo a suplantá-los no campo intelectual e profissional, consideram um despropósito a comemoração do Dia da Mulher.
Quanto a estas, aplaudo as que conseguiram atingir esse patamar sem terem nascido em berço de ouro, mas lamento que vejam o mundo à luz dos seus privilégios e conquistas, esquecendo que o mundo não se resume aos países de cultura ocidental.
No que se refere aos homens, as redes sociais estão inundadas por homenagens masculinas de gratidão às mulheres que fizeram parte das suas vidas, e quero acreditar que muitos têm acompanhado o evoluir dos tempos sem atitudes discriminatórias.
Porém, alguns homens parecem sofrer de um certo ressabiamento. Estes questionam, por exemplo, o facto de as mulheres defenderem igualdade de direitos e de salários, mas não exercerem os trabalhos duros dos mineiros, pedreiros ou pescadores, entre outros.
A meu ver, falta-lhes a consciencialização de que não pode haver igualdade de género sem o respeito pela diferença. Parece um paradoxo, mas não é. Basta estudarmos um pouco de Biologia.
Senão vejamos: por que razão esses homens tão durões não concorrem para o desempenho de tarefas domésticas, de limpeza dos hospitais ou babysitters? Não seria menos duro?
Homens e mulheres devem ter igualdade de direitos, sem que isso seja um obstáculo à sua identidade, à sua liberdade de escolha profissional e à sua orientação sexual.
Posto isto, se o Dia Internacional da Mulher se deve manter como símbolo de uma luta que nos permitiu viver num mundo melhor, talvez não seja despropositado pensarmos num Dia do Homem, partindo do pressuposto de que o mundo carece de homens bem formados que contribuam para uma sociedade mais igualitária, mais segura e menos violenta.
Afinal não fomos nós, mães e esposas, que tanto contribuímos para a educação dos homens com o nosso amor e os nossos erros?
No fundo, precisamos dos homens para, numa luta conjunta, lutarmos contra qualquer tipo de discriminação seja de género, racial, sexual, cultural ou económica.
Se eu fosse homem sentir-me - ia injustiçado pelo facto de se comemorar o Dia dos Avós, do Pai, da Mãe, da Mulher, do Idoso e da Criança e não se celebrar o Dia do Homem como se o seu papel fosse insignificante no evoluir das gerações.