O jovem de hoje é um dos melhores formados de sempre. Ativo, conhecedor, com capacidades literárias e académicas, domínio digital e preparado para todas as necessidades de mercado, vê no seu País um beco sem saída laboral que lhe permita ter estabilidade financeira, familiar e profissional.
O jovem tem o direito a sonhar com um emprego estável e que lhe permita começar a construir o seu projeto de felicidade. Mas, apesar de o sonho comandar a vida, Portugal mostra-nos uma situação laboral instável, empresas com pouca possibilidade financeira, contratos precários, recibos verdes prolongados, salários espremidos e rara possibilidade de progressão. Qualquer jovem gostaria de poder viver melhor que a sua geração anterior e, ao longo da história, as gerações seguintes sempre viveram melhor do que as anteriores.
O jovem de hoje prolonga os seus estudos académicos até mais tarde na procura de um lugar raro no mercado de trabalho. Quando entra no mercado de trabalho é-lhe exigido experiência profissional numa área em que tudo o que aprenderam se baseia na teoria e com pouca formação prática. Devido à sua precariedade mantém-se em casa dos pais durante vários anos porque o seu salário não lhe permite ter uma vida independente, a não ser que divida a casa e despesas com outro jovem. Constitui família após os 30 anos e, por questões financeiras, férteis e receio que o seu contrato se extinga, fica-se pelos ‘filho único’. Trabalha cada vez mais horas e é-lhe pedido que tenha disponibilidade total para a sua empresa em detrimento do seu tempo pessoal e familiar. Entrega o seu filho numa creche e mal o vê crescer. Quando tem tempo não tem paciência porque está cansado e inundado com a pressão da sua entidade laboral.
Ao jovem de hoje não lhe é dada a oportunidade de ocupar um lugar de relevância social, cultural, financeira ou política porque é um jovem sem experiência de vida, sem conhecimentos e sem ideias. O jovem desanima, revolta-se, reduz-se à sua insignificância e não se interessa pela sua voz ativa na sociedade. Cala-se, deixa-se estar no seu canto e é então apelidado de malandro e de desinteressado.
Maldito jovem este que só quer saber do seu umbigo, do seu futuro e da sua ambição pessoal e profissional.
Maldito jovem que só vê oportunidade noutros países e imigra na procura de progressão na carreira.
Maldito jovem sem rosto e expressão de sucesso. Sem procura de crescimento pessoal e coletivo.
Maldito jovem que, sem amizades na estrutura, não pode levantar a sua voz e arregaçar as suas mangas por si, pelos seus e pelo seu País.
Será culpa da pandemia? Não me parece.
Maldito jovem sem futuro e sem ambição!