As horas passam, o tempo desaparece e, lamentavelmente, pouco ou nada surge que nos atenue a sensação de cada vez estarmos pior. Desde o início desta catástrofe mundial, de origem duvidosa, chamada Covid e que, facilmente, entrou no vocabulário de toda a gente, até de crianças, que não se fala de outra coisa. Passámos um ano inteiro, desde Março, em constantes mutações, na procura desesperada da melhor fuga à convivência com esse estranho ‘bicho’, invisível, perigoso e mortal.
Não tem sido fácil esta desequilibrada luta, que, entretanto, e infelizmente, para muitos, se vem tornando muito difícil, até impossível. A sensação, que hoje se tem, é que o cerco está cada vez mais apertado e próximo, evoluindo assustadoramente, sem que surja algo que o enfrente, contrarie e faça parar. Parece não haver forma, nem remédio de o ‘bicho’ enfraquecer. Bem pelo contrário!... Cínica e impunemente, semeia o veneno, cravando as suas garras pelo mundo inteiro, pelo país, pelo distrito, pelo Concelho e, agora, até mesmo à ‘porta’. Sem contemplações, nem com idade, nem com sexo. Face ao natural instinto de defesa diante de semelhante inimigo, que sempre existe, ou devia existir, são poucos os que descansam.
Contudo, apesar da ténue esperança que encoraja a vontade de reagir, é, agora, o medo, o enorme aliado dessa ‘peste’, que tolhe e encrava consciências, fragilizando-lhes o seu ímpeto reactivo e criando sérias dúvidas sobre como e o que fazer. Sei não estar só neste combate sem tréguas, e que toda a informação e medidas criadas constituem ajuda preciosa, ajuda essa que só não aproveita quem não quiser. É claro que a vida é feita tanto dos que a querem, como dos outros, aqueles que não lhe ligam nenhuma, sendo que, sobre estes, o que mais sinto é pena de NÃO estar sozinho.
Gostava muito de não voltar a cruzar com gente sem máscara, como, quando dentro do café ou restaurante, o que mais apreciava era não ter que conviver, na mesa ao lado, com a irresponsabilidade de alguns que, sem estarem a consumir, inventam que o uso da mascara é só obrigatório para quem estiver de pé.
Gostava muito, por exemplo, de estar sozinho, sem contactar, ou cruzar, com alguém, que tivesse saído, sem ser testado, sob ‘alta’ de internamento hospitalar e por outras razões que não Covid, apesar de o ter sido à entrada. Essencialmente, e porque a abordagem é “protecção e segurança”, eu e todos os da minha provecta idade, gostaríamos muito, também, de nos sentirmos mais apoiados, reconhecidos e protegidos se, por exemplo, nesta Cidade e neste Concelho onde vivemos, pudéssemos ter tido a sorte de não ‘bater com o nariz na porta’ das farmácias, para o exercício de um direito que nos assiste – vacinação contra a gripe – só porque o presidente do Município e o seu executivo deliberaram não aderir ao protocolo que, para o efeito, a ANF [Associação Nacional de Farmácias] havia criado. Que bom seria estes decisores terem de passar pelas longas esperas à porta dos Centros de Saúde, ao frio, ao vento e à chuva, provando do próprio veneno. Pudesse, enfim, ter tido a sorte de viver num sítio, administrado por uma Câmara Municipal, que estendesse a sua generosidade, na distribuição gratuita de kits de máscaras cirúrgicas, às escolas, sim, mas também à população em geral, principalmente à mais carenciada.
Enfim, se por um lado preferia estar sozinho, mais imune à patética irresponsabilidade social, apreciava, por direito, não ficar tão longe da boa consciência solidária, por parte de quem tem obrigações de a trabalhar e distribuir.