Tudo aquilo que refiro passou-se num País que festeja anualmente um golpe de estado democrático e que se encontra integrado na união europeia desde a segunda metade da década de oitenta. É algo que ultrapassa os limites mínimos da dignidade de qualquer cidadão. E não se trata de uma questão exclusiva do lado esquerdo ou exclusiva do lado direito. É, acima de tudo, de todas as pessoas que, por terem consciência social e cívica, jamais conseguem aplaudir algo assim.
Há já vários anos, um jovem da Figueira da Foz entrou numa das escolas do Instituto Politécnico de Coimbra, para o primeiro ano curricular de um certo curso.
Mais tarde, já a frequentar o segundo ano curricular – e devido ao hostil ambiente que era gerado semanalmente desde o início – pediu transferência para uma das escolas do Instituto Politécnico de Beja, onde continuou o curso e o concluiu.
Um jovem da Figueira da Foz - sem ter cometido irregularidades tanto com colegas como com professores – foi indirectamente forçado a mudar de Coimbra para Beja.
E qual o motivo por trás do sucedido?
Simples. Este aluno, à altura do ingresso nesta unidade do IPC, optou por não participar numas ditas actividades tradicionais e históricas - cuja frequente designação não é digna de ser referida -, que forçam, intimidam, mentalizam, articulam, controlam e direccionam cegamente a movida recém-chegada, servindo elevados interesses.
Largas dezenas de colegas sofreram ameaças e constantes chantagens, sob pena de exclusão, no sentido de consigo não terem um saudável e normal contacto, ficando este adolescente rotulado como alvo a abater e pagando bem caro pela íntegra atitude que havia tido.
Trancado no interior de um poço de silêncio, não encontrou outra solução para colocar um fim a este inferno e finalmente poder recuperar a paz e o sossego (vitais à concentração e à rotina escolar).
Quando numa democracia europeia, um aluno - sem ter cometido a mais pequena infracção - se vê forçado a abandonar a instituição de ensino (para onde foi com o intuito de se formar), devido a pressões, difamação, sabotagem, marginalização, ostracização – é mau, é feio, é triste, é grave, é um crime.
Este procedimento dos agentes da opressão, instala a insegurança e o medo, num método anual para reduzir ao máximo o número de alunos não participantes e os dissidentes, salvaguardando as colossais mobilizações.
Trata-se de algo comum em determinados institutos politécnicos e em determinadas universidades do nosso país e naturalmente traz à ideia a recordação das listas, das perseguições, das detenções, dos exílios e dos saneamentos que - nos idos tempos do regime fascista e dos anos pró-totalitaristas - semearam o sobressalto e o pânico, sobrepondo-se ao raciocínio, censurando as evidências e liquidando a verdade.
A sociedade portuguesa, no geral, desconhece que aquilo que mantém de pé este dia-a-dia de escravatura em campus e noutras imediações académicas, não é a tão aclamada tradição nem a integração. A estrutura que fomenta e sustenta estas actividades, são o comércio e a indústria que por trás delas se encontram instalados e aí têm o gigantesco e imprescindível motor para a canalização e obtenção de novos clientes. – Um monopólio.
Veremos nos próximos tempos, se a delicada questão de saúde à escala mundial, que atravessamos, irá ou não eliminar por completo aquilo que uma das duas maiores revoltas de século XX português infelizmente não conseguiu arrumar em definitivo. Práticas que levam ao transtorno dos desconsiderados professores das turmas de primeiro ano (havendo um vastíssimo e vergonhoso rol de ocorrências nas últimas décadas, que jamais deve ser justificado por casos simpáticos de outros estabelecimentos).
O descaramento dos frequentemente autoproclamados defensores da liberdade chega a atingir tamanho ponto, que acontece aos lesados - após demonstrarem óbvia indignação - serem apodados por dito oportunismo mercantilista e processados por dita calúnia (tudo como estratégia de abrandamento, silenciamento e arquivamento das denúncias).
Tal tem tido sempre o consentimento por parte de elementos da classe política e de outras pessoas que passaram pelas comissões, associações, federações (estatutos, ascensão social) e que com esta situação são coniventes – pois, os mesmos, igualmente deixaram pegadas, evitando ser detectados.
Este é apenas um, no meio de milhentos casos.