Inúmeros cidadãos naturais ou simplesmente residentes no concelho de Santa Maria da Feira ponderam mudar de ares por acharem que as condições de vida aqui usufruídas estão bem longe de ser satisfatórias, mormente se em confronto com alguns concelhos da vizinhança.
Mesmo admitindo o direito de opinião distinto, por mim penso não ser esta a melhor solução. Por muitas e justificadas razões.
Desde logo porque a descrença conduz inevitavelmente à indiferença anulando a consciência crítica e a participação na ordem política, quando presentes, proporcionando uma ausência de vontade no seu surgimento, quando ausentes, enfraquecendo assim a democracia que, apesar das protecções que enquadramentos vários possam oferecer, poderá estar à mercê de poderes “fortes” que dificilmente serão combatidos por cidadãos excluídos de um sistema político com o qual não comunicam. É nesta reflexão que importa determo-nos e, imbuídos do mesmo espírito, considerarmos que o Servir a sociedade a que pertencemos é claramente uma forma superior de doação e de afirmação enquanto seres humanos.
O nosso concelho, mesmo pondo de lado o plano sentimental do bairrismo, reúne condições para nos unirmos e lutar pelo seu engrandecimento.
Mesmo admitindo que em muitos sectores há uma actuação diversificada, desde logo e falando de um bem essencial como é a água, o comportamento da concessionária Indaqua deixa muito a desejar com uma actuação que deixa antever uma desigualdade consoante o território em que actua.
Assim, dizem alguns cidadãos, a Indaqua/Feira está a enviar faturas de três anos para cobrar água que sabem já terem prescrito, mas quem não estiver atento irá pagar porque foi mencionado que foram muitas enviadas.
Já no concelho da Maia a situação foi bem diferente, com redução de 50% na factura da água, embora a empresa que presta o serviço seja a mesma Indaqua. E o mesmo se verificou no vizinho concelho de Oliveira de Azeméis.
A este respeito, sustentam, que tal acontece porque a gestão do município se arrasta penosamente desde o primeiro mandato autárquico pós 25 de Abril, não evidenciando posição reivindicativa que inverta a situação. Márcio Correia, presidente da concelhia socialista, considera que esta é “uma questão complicada, pois a Câmara não está a ter uma posição reivindicativa junto da empresa”, revelando uma passividade que é bem sentida nas suas reuniões, com o presidente da Câmara a “utilizar argumentos como se fosse o presidente do Conselho de Administração da Indaqua”. Em sua opinião há condições para a redução da tarifa, que devia ser aplicada de forma mais generalista e universal às famílias que possam beneficiar disso.
Outros e bem diversos são os motivos que provocam o descontentamento, surgindo à cabeça o eterno caso da P. Parques, que continua bem vivo e a ameaçar projectar-se no futuro; o caso da “estabilidade financeira da Feira Viva”, pedindo a demissão da sua administração e, mais recentemente, a crise instalada nas Termas de S. Jorge.
Preocupante igualmente a intolerância patenteada pelo presidente Emídio Sousa, que diz um cidadão “apela tanto a liberdade de opinião e coloca um munícipe em tribunal por se expressar contra ele?”
Mesmo ponderando todos estes motivos de preocupação, parece-me que a maneira mais funcional de tentar corrigir desigualdades, não seja a deserção, antes reunir argumentos e projectos que vão ao encontro da maioria dos eleitores do Concelho.
O desligamento só por si não será nunca panaceia adequada!
É necessário saber transferir para a política as coisas que valem a pena, percebendo o que é passageiro e irrelevante como hipótese de superar o desencanto, porque as condições adversas não são naturais, nem eternas, ao contrário do que nos fazem acreditar.
A esperança é, afinal, a representação de um desejo de mudança, já presente no subconsciente individual ou colectivo. É a manifestação de uma verdade que já existe, mas ainda não ganhou expressão definida.
É preciso, por isso, discuti-la e atribuir-lhe sentido.