A empresa concessionária do estacionamento pago na cidade de Santa Maria da Feira continua a sua saga de originalidade. Após ter simulado estar atenta aos problemas causados pela pandemia, decidindo libertar os utentes do pagamento da ocupação dos lugares, veio decretar a passagem à “normalidade” ao retomar a cobrança nos parquímetros.
É por demais evidente que a primeira decisão de isentar o pagamento não se tratou de um acto de bondade, como à primeira vista se pretendeu dar a entender. Tratou-se, isso sim, de um grotesco gesto simulado já que, como escrevi na altura, não havia nada para isentar. Os lugares de estacionamento estavam simplesmente às moscas por falta de viaturas a circular. A população e bem, seguindo as indicações das autoridades sanitárias, decidiu ficar em casa para proteger as suas vidas.
Como escreveu Sara Dias de Oliveira, numa abordagem esclarecedora, “nem foi preciso a comunidade científica descobrir a vacina, nem o patrão da P. Parques andar à cabeçada a ver se matava o bicho, bastou o país passar do estado de emergência para o estado de calamidade (se bem que o país passou de um estado para o outro no início de Maio e não no início de Junho - mas o patrão da P. Parques não tem de saber tudo, não é?) Os fusos horários das offshore dão cabo da mioleira de qualquer pessoa.”
Fica assim provado que a P. Parques se serviu de um expediente ridículo para justificar uma decisão inócua, sem qualquer efeito ou sentido, face às razões aduzidas.
No entanto, acredito sinceramente, que chegará o dia em que mesmo os “exploradores” mais renitentes se aperceberão de que não param de se expor ao ridículo quando pretendem fingir-se de cordeiros na pele do lobo.
Vou ficar concomitantemente a desejar muito sinceramente que todos os “explorados” se libertem finalmente da letargia.
Lamentável também, nesta absurda questão, que a entidade que devia aparecer na primeira linha na defesa de toda “a população, clientes e utilizadores” se remeta a um silêncio ensurdecedor. Afinal numa deplorável, mas coerente linha de conduta que vem adoptando neste lamentável imbróglio, cujo prolongamento só é justificável por um estranho comprometimento.
Esta empresa não é digna de crédito, tendo vindo a lesar o interesse público desde o primeiro instante deste malfadado contrato. Com muitas centenas ou mesmo milhares de euros a serem desviados dos cofres da edilidade. Com evidente prejuízo para todos nós.
Mas, como lembra a Sara Oliveira, “o que importa é que a normalidade está de volta e a malta já sabe o que fazer às moeditas que andavam a ganhar mofo na carteira ou nos bolsos das calças. Toda "a população, clientes e utilizadores", como a própria empresa chama a todos os que contribuem para a sua riqueza, vão continuar a meter moeditas nas maquinetas sem saberem o destino dos 40% que deviam entrar no erário público. A normalidade tem destas coisas.”
Fica assim bem claro, nesta surpreendente declaração unilateral da normalidade - infringindo mesmo todas as regras do bom senso preconizadas pela DGS e pelo próprio Presidente da República – que a P. Parques nunca agiu na defesa dos interesses da “população, clientes e utilizadores” como supostamente quereria dar a entender.
Aliás, no meu entender, dá até um péssimo exemplo, aproveitando o desassossego e cansaço provocados pelo confinamento imposto pelo estado de emergência, depois transformado em calamidade.
A P. Parques com esta decisão inexplicável e à revelia das entidades responsáveis deixou cair a máscara!