Estamos a pouco mais de um ano das autárquicas. Nem mesmo a pandemia, que tanto preocupa a maioria dos portugueses, impede que aqueles que alimentam pretensões políticas iniciem a corrida ao poder que mais perto está de todos nós: o poder autárquico.
Mais uma vez, o que constitui regra, até agora sem exceção, apenas dois partidos aspiram à conquista do poder na Câmara Municipal da Feira. Há mais de 40 anos no poder concelhio, o PSD vai continuar a apostar num candidato ganhador. Naturalmente que o atual presidente será o seu candidato, situação nada surpreendente, até porque o atual edil nunca escondeu ser essa sua intenção, antes de pensar atingir outros patamares na política.
Mesmo com um mandato algo cinzento, nunca parecendo capaz de clamar para o seu concelho obras há muito prometidas, mas sempre adiadas – veja-se o caso, por exemplo, da via Feira-Arouca, ou até, do sempre esperado ‘túnel da Cruz’ –, nem capaz de fazer valer a força do concelho na Área Metropolitana do Porto (alguém o ouviu pedir a extensão do metro do Porto até território feirense?), Emídio Sousa será sempre um candidato difícil de vencer, até porque este último ano de mandato mais não vai ser que um ano de propaganda eleitoral.
Deixemos o PSD, que tem o seu candidato escolhido, não se prevendo ‘guerras’ entre os seus, mesmo que haja quem esteja atento, e se mantenha na calha para, a seu tempo, substituir Emídio.
Com algum crescendo no Concelho, não parece que o BE consiga candidato capaz de entrar na corrida à presidência da Câmara Municipal da Feira, o mesmo se podendo dizer do PCP e do CDS, que não lhe ficarão muito atrás.
Resta o Partido Socialista. Derrotado com estrondo nas primeiras eleições autárquicas (1976), quando tinha como candidato uma personalidade com prestígio nacional e concelhio (Alcides Monteiro) o Partido Socialista nunca, até agora, foi capaz de retirar o PSD do poder no Município. E se a derrota nas primeiras eleições foi uma grande surpresa, nas eleições que deram a Emídio a presidência da Câmara, o Partido Socialista perdeu uma grande oportunidade de substituir no poder Alfredo Henriques. Sabendo que Alfredo teria de abandonar, por imposição da lei, o PS deveria ter feito muito melhor. E não está em causa o valor do então candidato, mas, sim, a postura das estruturas concelhias do partido.
Não vencer as eleições de 1976, e as que deram a Emídio a sua primeira vitória, foram golpes nas pretensões de um partido que, normalmente, é o mais votado no Concelho noutros atos eleitorais. Nem mesmo os resultados altamente gratificantes de António Cardoso, em duas das suas candidaturas – perdeu para Alfredo Henriques por pouco mais de três centenas de votos – conseguem amenizar a desastrosa política concelhia levada a cabo pelos socialistas feirenses.
E agora? Será capaz o Partido Socialista de escolher alguém capaz de fazer frente a Emídio, capaz de retirar o poder ao PSD? A avaliar pelo que se vai ouvindo tudo vai ser igual ao anterior. Não parece que os socialistas do Concelho estejam interessados em destronar o PSD.
Sem querer entrar em prognósticos, muito menos em lançador de nomes presidenciais, sugiro dois nomes. Um deles é o de António Cardoso. O ex-deputado foi o único que ameaçou destronar Alfredo. Perdeu por poucos, mas perdeu. De qualquer modo seria um candidato a ter conta. O outro? Apenas digo que se trata de um economista de reconhecida capacidade, com enorme currículo a nível bancário, que não sendo militante socialista, é dessa área, e com grande poder de mobilização de eleitorado em todo o território santamariano, sobretudo em Arrifana, Mozelos, Santa Maria da Feira e Fiães. Com ele (Ramiro Resende) como candidato, o Partido Socialista poderia, finalmente, aspirar a chegar à presidência da Câmara Municipal da Feira.
Nota – Não sou, nunca fui, nem pretendo ser, cronista político. Mas como sigo com atenção o pulsar do meu concelho, não me inibo de comentar assuntos que julgo de interesse desse concelho. Como é, aliás, o que atrás fica expresso.