Comecei este texto sem saber sobre o que queria escrever. Pensei que ao começar a colocar palavras numa página de word o tema acabaria por chegar. Não sei ao certo como se chama este tipo de escrita, mas é a contrária àquela em que o escritor já sabe previamente do que vai ‘falar’, claro.
Já mudei de parágrafo e ainda não está bem claro onde é que eu quero chegar. Cá para mim, vai tornando-se notório que, por estes dias, há um só tema sobre o qual é quase obrigatório falar/escrever, mas que eu estou a tentar evitá-lo. Obviamente que falar sobre aquilo que nos está a acontecer é necessário e útil – só assim nos podemos proteger, estando bem informados. Mas também torna-se saudável algumas escapadelas a essa inevitabilidade, para bem da nossa saúde mental.
Como é que eu me escapo, por vezes? Com feel-good-movies. Aquelas comédias românticas que nos agarram e transportam para um mundo leve e descontraído (na maior parte das vezes) e que no final, lá está, deixam-nos esperançados – em relação ao amor, à humanidade e ao respeito pela diferença (entre outras coisas).
Neste sentido, entre os alguns filmes que eu vi nas últimas semanas, destaco um que por acaso não vem dos Estados Unidos da América. Vem de Espanha e chama-se “Las Leyes de la Termodinámica” e é perfeito para quem, como eu, é uma espécie de nerd de documentários científicos – principalmente os destinados à Física. Neste filme, cuja investigação, suponho eu, deve ter sido exaustiva, rigorosa e ao mesmo tempo criativa, pessoas em relacionamentos amorosos são comparadas a planetas à volta do Sol, por exemplo, e em que o protagonista é uma espécie de ‘chato fixe’ (sei que isto não é uma tipologia da psicologia, mas é a melhor forma de eu rotular o protagonista). Para os apaixonados amadores da Física, digo desde já que Newton é para lá chamado, mas também a parte quântica dessa disciplina e mesmo Einstein – há um acompanhamento histórico paralelo entre a história da Física e o enredo do filme.
Por acaso já fui aluno de uma disciplina intitulada “Termodinâmica Macroscópica”, e lembro-me que nesses tempos (já no século passado) já eu ia brincando com essas pontes possíveis entre o mundo das ciências exatas e as não exatas. Acho que o C.P. Snow gostaria de ter visto este filme; ele que em 1959 apresentou uma palestra em Cambridge chamada “As duas Culturas” e que versava sobre o afastamento entre os cientistas e os intelectuais das humanidades. Para quem gosta tanto de números como de letras, tanto da obra de Shakespeare (por exemplo) como da segunda lei da termodinâmica (por exemplo também), aqui fica a sugestão para ver este filme.
O director e argumentista chama-se Mateo Gil e merece, na minha opinião, que o seu nome esteja aqui escrito. Será que o mundo romântico pode ser resumido à… Física?
Dentro do possível, divirta-se. Dentro do possível, consegui não falar sobre… aquilo…