Uma catástrofe sanitária abateu-se sobre nós. Meses antes, já se tinha declarado em outros países. Distantes que eram esses países e de costumes estranhos, todos, mas todos sem excepção, preferimos ignorar e seguir com as nossas vidinhas de sempre. Uma vida em que o máximo de tempo que dispensamos ao próximo é todo aquele que leva o nosso ecrã de telemóvel a desligar-se para poupar bateria.
Quando voltámos a ligar o telemóvel a notícia estalou-nos nos olhos e rapidamente são tomadas medidas, algumas, senão a maioria, já as devíamos ter posto em prática meses antes, pelo menos todas as que nos colocassem em prevenção e razoavelmente preparados.
O vírus, tal político interesseiro, chegou vitimando os mais sensíveis e o resultado é hospitais em sobrelotação e o número de mortes em crescendo, com os médicos, enfermeiros e auxiliares exaustos.
Em todo o mundo as sociedades encerraram actividades, refugiando-se em casa. Pelo que percebo, não tanto para evitar o contágio, mas para que o contágio não seja generalizado e paralise por completo os sistemas de saúde por esse mundo fora, num esforço comum para colaborarmos com os nossos heróis de sempre, médicos e enfermeiros e assistentes, que desesperadamente tentam salvar o maior número de vidas.
O mundo praticamente está parado e a actividade humana reduzida quase, senão mesmo, ao essencial. Até nos países governados por uns asnos imbecis, que apesar do que já acontece nas suas fronteiras, continuam a negar a realidade, prometendo o que sabem não ter poder para cumprir. A consequência vai ser uma factura elevada, que todos vamos pagar, sem excepção, os que os elegeram, os que nada fizeram e os que recusaram elegê-los, a estes populistas, ignorantes, mentirosos e egocêntricos.
De Paris a Nova Deli, de Nova Iorque (cidade famosa por nuca dormir) às movimentadas cidades chinesas, até às super-poluídas águas dos famosíssimos canais de Veneza, às belas praias do Rio… O mundo sofreu uma transformação, em especial onde a influência do Homem era predominante agora nenhuma ou poucas pessoas se veem.
Fomos obrigados a um confinamento. Simplesmente impressionante, nunca julguei ser possível, jamais acreditei que um dia iria viver na realidade aquelas histórias pindéricas, dos fantásticos filmes do fim do mundo, que Hollywood gosta de lançar tão ao gosto do americano.
O medo e ansiedade tomou conta de todos nós e se não é o medo do momento é a ansiedade provocada pelo confinamento e pela incerteza do futuro…
A fragilidade do Homem ficou evidenciada e o mais estranho é que foi por um inimigo sem exércitos, sem armas, sem poder nuclear, uma coisa que ninguém vê, ninguém sabe onde está.
Tenho a opinião que não é tempo de fazer contas, ou colocar mais em perigo a já fragilizada ordem que vivemos, mas se não forem estes os tempos para fazermos uma atenta reflexão sobre as nossas opções e as suas consequências, então o ser humano não merece o ar que respira nem o planeta que habita, muito menos as várias oportunidades que a natureza lhe vai oferecendo para fazer mudanças urgentes, para que a sua vida possa ser tão compatível neste planeta como a do leão ou a zebra, a sardinha ou a baleia, o cardo e a rosa…
É tempo de pararmos e refletir, sobre todas as nossas opções, a começar precisamente sobre as personalidades que elegemos para nos governar. Não vale de nada agora apontar este ou aquele governante, relativamente às suas atitudes, ou falta delas, as declarações imbecis e actos contraditórios. Foi a escolha que fizemos para a nossa representação, escolhemo-los livremente, sem nos preocupar que do mau havia sempre a possibilidade de optarmos pelo menos mau. Eles já eram o que são, nada mudou nesses indivíduos. As suas acções são uma consequência do seu carácter, não foram atingidos nestes últimos tempos por nenhuma loucura, já o eram e nós tínhamos consciência disso, até nos sentíamos um pouco atraídos por essa loucura.
Neste momento, que desejamos estar em união na luta contra o vírus, também não pode deixar de ser um momento sério de reflexão e análise sobre as consequências de todas as nossas decisões anteriores no que concerne à educação, responsabilidade cívica, respeito pelo ambiente, pelo próximo, o exemplo… Tudo o que se refere às nossas opções de vida.
Se não formos capazes de fazer esse exercício, então tudo Foi, É e Será sempre em vão.