Alcide Campos Brandão
Em tempo próximo e numa tarde de espiritualidade precisada de concentração sossegada e de reflexão interior de oração, dirigi-me, com certa dificuldade no andar, à Igreja da Congregação Passionista. A Igreja fica situada no Lugar da Cruz, em Santa Maria da Feira, e perto de minha casa; portanto na terra onde nasci, baptizei, comunguei, casei e vivo. em profundo respeito por tudo o que vivifiquei e consigo ainda realizar e testemunhar.
O dia apresentava-se com tempo agradável e solarengo, bem convidativo a uma caminhada de pequena distância, até porque precisava de tirar a prova real ao resultado de uma intervenção cirúrgica a uma perna. Após a cirurgia ficou um pouco lenta e eu aproveitava o exercício, procurando retomar o equilíbrio do movimento da locomoção normal.
A prova real não estava a dar certa e a caminhada tornara-se cansativa, mas lá fui continuando. No percurso tive de atravessar um túnel que divide a minha terra há anos, uma qualquer operação cirúrgica que nunca resultou em pleno e que conserto algum mereceu a atenção de quem manda com acerto e responsabilidade de cidadania.
Lá fui caminhando com dificuldade, mas com força de vontade, e ao atravessar o dito túnel apareceu uma pequena camioneta que ocupava toda a largura do espaço e me obrigou quase que a ficar colada a uma das paredes.
Com o coração a trabalhar mais depressa pelo susto imprevisto, reparei que mesmo na frente dos meus olh0s e escrito na parede, sobressaíam estas palavras: GREVE GERAL.
Imediatamente começou a passar-me pelo pensamento o abandono em que se encontra Santa Maria da Feira … E logo me veio à ideia esta situação de medo: E se os túneis que dividem Santa Maria da Feira, o rio sem vida que a atravessa correndo para o mar, os espaços onde se fazem as festas que ficam sem arrumação, o espaço verde junto aos moinhos no centro da cidade – eles próprios completamente sem vida para apresentação de funcionamento tão antigo e rico e que tão úteis foram para a minha terra, ao moer a farinha para o pão que matou a fome de tantos feirenses –, as construções que ficam ao tempo em degradação e aspecto medonho e ainda os relvados e jardins da cidade sem asseio nem beleza, fizessem greve? Se todos eles, se todos esses espaços esquecidos e desviados da sua função que é servir sendo úteis e aprazíveis à vista, fizessem uma greve, uma greve geral?
Como ficaria Santa Maria da Feira?
A resposta a esta interrogação deixo-a ao cuidado do imaginário dos estimados leitores, pensando no que essa greve provocaria.
E eu digo, com preocupação e tristeza: Que falta de higiene ambiental, numa terra tão bonita como é Santa Maria da Feira!
Só nas festas se deve alindar, assear, limpar e ornamentar? E as festas têm o direito de destruir o que é belo? Penso que não. Esse propósito deveria ser tido e cuidado todo o ano, para que houvesse o sentido da organização própria da natureza. É preciso arrumar, é preciso limpar, é preciso decidir com carinho, tendo gosto e respeitando para não haver observações menos agradáveis sobre os mandadores que parece não terem tempo, não terem vontade, não terem determinação, mas unicamente medo de tratarem correctamente a sede do Concelho e assim se prestarem a interrogação de quem vê e sente:
SERÁ BANDONO OU DESMAZELO?