Da gaguez ao extremismo, os portugueses foram ‘presenteados’ com um novo paradigma nos assentos parlamentares, mas nem por isso se vislumbra uma abordagem pragmática ao que aconteceu durante a campanha eleitoral, onde sobressaíram os clichés vazios em conteúdo e promovidos através de uma argumentação inócua, quando na verdade seria importante uma confrontação mais forte de ideias que espevitasse a audiência. Contudo, tal comportamento não é estranho ao comum português, pelo menos para o que não tem memória curta e que se interessa pela viabilidade do que cada um dos agentes políticos propõe.
Na generalidade, é mais importante exortar a gaguez da deputada eleita pelo “Livre” ou o extremismo mentecapto do deputado eleito pelo “Chega!”, do que tentar perceber que propostas cada um desses e outros candidatos têm para o País. Embora não percebendo as razões que levam alguém como André Ventura a ser eleito, estes dois elementos servem de exemplo para a constante tendência de se tentar ‘matar’ o mensageiro de uma ideia, quando, nem de forma experimental, se opta por analisar a mensagem, e atacá-la ou defendê-la mediante as convicções de cada eleitor. É a arte da acusação, é a escolha do caminho fácil, que acaba por ridicularizar quem está mais preocupado pelo facto de um deputado ser, ou não, gago. Há quem passe uma vida no parlamento a comunicar à velocidade certa, mas viajando por caminhos errados.
Entre esses caminhos, “com o Passos Coelho estava tudo mal, com o Costa está tudo bem”. E depois, “com o Passos Coelho estava tudo bem, com o Costa está tudo mal”. É esta bipolaridade que produz o arroz que o povo vai comendo. No imenso arrozal estático, que permanece no mesmo lugar há décadas, o arroz que se vai comendo alimenta dois polos no ‘chip eleitoral’ dos portugueses, representando a evidência do seu desnorte.
Da ditadura à liberdade, valha-nos a possibilidade de dizermos o que pensamos. Parece-me é que pensar custa muito. Se antes nada era possível dizer, agora que a liberdade impera, e bem, poucos são os que sabem dizer algo que consiga direcionar o eleitorado para lá dos polos existentes. Vamos comer arroz outra vez, a beira do prato é que é diferente.
Que António Costa é um animal político, amiguinho de alguns jornalistas, é. Que divide a oposição para depois a conquistar, divide. Mas tudo não passa de uma ilusão que acaba por se evidenciar nas ações pós-eleições, com o primeiro-ministro a tentar fazer acordos que salvaguardem o futuro de um partido, e não de um País. No final fica a ideia de que quem votou neste ou naquele, também votou em Costa.
De resto, a abstenção veio para ficar, e também, como tem sido recorrente, vai continuar a ficar com o ónus das más decisões de quem vota. Está tudo mal, não... afinal está tudo bem, ou está mal? Haja alguém que um dia consiga esmagar o grão que separa um polo do outro. Até lá, outra vez arroz.