As ‘notícias’ que aqui e ali vamos vendo, cirurgicamente publicadas a propósito do dinamismo encandeante do Europarque, encerram em si uma tentativa desesperada para convencer, sabe-se lá quem, que aqueles anunciados 50 hectares de solo feirense estão bem e se recomendam.
Nada mais falso. O Europarque continua a trilhar os caminhos de uma aparente sina de morte lenta e é a materialização pura de dois fracassos:
- uma megalomania, que ninguém travou, de Ludgero Marques, que acreditou obstinadamente num projecto maior do que alguém (incluindo ele próprio) conseguiu alguma vez perceber, mas que encontrou num ‘cavaquismo’ sedento de cimento erguido e de inaugurações o aliado perfeito;
- uma gestão autárquica que vem demonstrando não possuir a imaginação suficiente para potenciar aquela infraestrutura e defender a Autarquia do perfeito sorvedouro de bens públicos em que se tornou.
É verdadeiramente lamentável que um espaço com aquelas características e valências nada mais tenha hoje para se gabar do que ser um ponto de encontro de corredores ao fim-de-semana (ficando-se, na verdade, sem saber se são muitos ou poucos a menos que lá se vá contá-los: as mesmas ‘notícias’ onde se lê que o número de atletas chega a atingir 250, também referem que “às vezes” são 500, mas nas fotografias que as acompanham dificilmente se contam mais do que 30…) e um restaurante – ambos tendo como cenário um espaço imenso (e muito bonito – estaremos a esse respeito todos de acordo), mas pessimamente zelado.
Porque o Europarque, hoje, é mesmo só aquilo que é, não obstante o actual presidente da Câmara Municipal ter já tido a ousadia de dizer que o dito “fervilha de actividade”, portanto em clara consonância com aquelas ‘notícias’ (ou será vice-versa?) com que vamos sendo brindados e que asseguram que “aquele lugar de eleição transpira vida” – declarações relativamente às quais qualquer feirense devia ter o dever de pedir satisfações.
Mais recentemente, a propósito de uma prova de triatlo ali realizada, aventou o autarca a ideia de o Europarque estar a tornar-se no Parque da Cidade de Santa Maria da Feira. É certo que não foi esse o intuito que levou à sua construção, mas ainda mais certo parece ser que ninguém sabe muito bem qual foi. E, assim sendo, a ideia até parece caber naquilo que o espaço tem para oferecer. Desde que, claro está, se aprenda com erros e se estanque de forma definitiva a decrepidez galopante na qual vemos o Europarque afundar-se, tendo como pano de fundo um Visionarium abandonado e um Jardim Planetário Carl Sagan já sem planetas e consumido pela vegetação – uma perfeita vergonha sem responsáveis, da qual se pagam duas facturas: uma financeira e outra cultural.
Se é verdade que Emídio Sousa e companhia (muito limitada, ao que parece) não serão os únicos responsáveis por este Europarque decadente, são seguramente responsáveis pelo despudor com que apregoam, ao som de uma agonia ensurdecedora, a sua vitalidade fantasiosa. E ficamos no meio disto tudo sem perceber se choca mais o deserto de originalidade da autarquia feirense na busca de soluções, ou aqueles aparentes malabarismos pacóvios disfarçados de notícias, que nenhuns efeitos práticos têm que não sejam o de tresandar a investida publicitária inconsequente, desnorteada e reveladora da mais profunda falta de visão.