Quem trabalha e reflete sobre gestão do território, conhece os encolheres de ombros, acompanhados de “Pois é complicado! O meu Concelho não é acessível, mas já fazemos rampas e rebaixamos os passeios junto às passadeiras. Tem que ser aos poucos, temos mais prioridades...” Como se fosse possível optar por cumprir deveres legais, quando der jeito e “em momento oportuno”, ao gosto do edil feirense. Respostas descomprometidas, como se tivessem todo o tempo do mundo para ponderar e trabalhar sobre o assunto, ignoram a perda de oportunidade. Continuam sem compreender a importância de atender às necessidades das pessoas com mobilidade condicionada.
Na Europa e no resto do mundo, somam-se exemplos de cidades que se destacam pela qualidade de vida que oferecem, a capacidade de sustentabilidade e beleza. As mais competitivas, designadas como cidades do futuro e sustentáveis, são aquelas que apostam na acessibilidade para todos. A aposta surge, não como resposta a exigências legais, mas como forma de servir e captar as diferentes faixas etárias, ao longo de gerações.
Washington, São Francisco, Nova Iorque, Copenhaga, Estocolmo, Amesterdão, Viena, Tóquio, Londres, entre outras... Afirmam-se no mercado internacional, a sua atratividade resulta de vários aspectos. Entre os pontos fortes, a organização do espaço público e o acesso a diferentes modos de mobilidade são decisores. Nestas cidades o espaço público oferece eficiência, fluidez e conforto.
O turismo é um dos sectores mais importantes da economia à escala global. Ingleses, americanos e alemães procuram cidades confortáveis para desfrutar as suas avultadas reformas e poupanças de vida. O turismo mais rentável é o sénior e, consequentemente, adaptado a pessoas com algum tipo de incapacidade (física, sensorial ou cognitiva). Este perfil de cliente é o mais interessante, por ser fiel onde se sente bem acolhido, prefere viajar em grupo, distribui-se homogeneamente ao longo do ano e permanece mais tempo no destino.
Em Portugal o clima, a gastronomia, a história e a afabilidade dos locais, são preponderantes. Os municípios portugueses mais procurados, por este cliente, são aqueles com melhores condições de acessibilidade. Lisboa, Porto, Vilamoura, Quarteira e Albufeira são exemplos de cidades portuguesas que já identificaram a importância de adaptar o espaço público para pessoas com mobilidade condicionada.
O Porto recebeu um grande impulso durante as obras do Porto 2001 e com a introdução do Metro, tendo vindo a estagnar por decisão do executivo permanente.
Na capital, a equipa do Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa esforça-se por implementar o conceito sustentabilidade, atendendo às (in)habilidades físicas e sensoriais da população.
O Concelho de Loulé, há cerca de 10 anos, decidiu infraestruturar Vilamoura para que passasse a ser acessível a todos. Peões, bicicletas, automóveis e baías de estacionamento estão à mesma cota. As faixas dos diferentes modos de mobilidade são separadas por estacionamentos, pequenas áreas ajardinadas e pavimentos diferenciados. O resultado tem sido tão positivo que pretendem alargar a área de intervenção.
Em Quarteira tem sido reforçado o investimento para atrair turistas seniores e pessoas com mobilidade condicionada, acompanhando a vizinha Vilamoura.
Ao assegurar o conforto e segurança para todos, em todas as fases da vida, no espaço público, transportes e serviços, estamos a investir no que de designa por ecologia urbana.
Não aceitar este facto resulta em oportunidades perdidas e negação de direitos humanos.