Alguns teóricos defendem que atravessamos um ciclo. Afirmam que as civilizações se extinguem a si próprias, dando lugar ao nascimento de novas comunidades. Outros asseguram que a nossa civilização se encontra em pleno processo de despertar para uma nova consciência social. A revolução industrial e o advento tecnológico, aliados a séculos de inconsciência social sobre o factor sustentabilidade, trouxeram-nos ao ponto em que nos encontramos.
Ilhas de lixo perdidas nos oceanos, eutrofização das águas, desflorestação de florestas primitivas, erosão de solos, aumento da temperatura terrestre, degelo das calotas polares, espécies em risco e outras já extintas, animais mortos com o estômago cheio de resíduos de plástico, etc. É o resultado da nossa gestão danosa relativamente aos recursos do planeta Terra. O momento que atravessamos ficará marcado pela problemática que resultou em alterações climáticas. Hoje reconhecemos que os recursos se esgotam se não lhes dermos oportunidade de regeneração.
O antigo primeiro-ministro de Portugal e atual secretário-geral da ONU, António Guterres, tem alertado as nações para a emergência do combate às alterações climáticas: “As alterações climáticas são o assunto decisivo da nossa época, esta é a batalha das nossas vidas. (...) Os próximos anos vão ser um período crucial para salvar o planeta e alcançar o desenvolvimento humano sustentável e inclusivo. (...) As alterações climáticas são mais rápidas do que nós e, infelizmente, em muitas partes do mundo a vontade política para as enfrentar está a atrasar-se”. De facto, tem sido muito lenta a adesão dos líderes políticos ao factor sustentabilidade, continuando aprisionados a poderes económicos e hábitos sociais.
Se os políticos tardam a perceber a mensagem, a minha esperança é reforçada pela jovem Greta Thunberg. A sueca de 16 anos que, em 2018, após ondas de calor e incêndios que assolaram o seu país, instituiu as ‘Friday for Future’ (sextas-feiras pelo futuro). Substituiu a ida às aulas de sexta-feira por protestos junto do parlamento sueco: “Senti que não havia sentido em ir à escola se não houvesse futuro”.
Tem percorrido o mundo, dando voz a um planeta doente. Atrás de si, cresce um movimento de jovens que se juntam à causa ‘Não há planeta B’. A ativista está nomeada para prémio Nobel da Paz, e anseio que a academia sueca reconheça o valor do seu movimento.
Greta ficará na história como a jovem que se fez ouvir entre as Nações, afirmando-se entre políticos com discursos eloquentemente arrebatadores, silenciando plateias e intimidando a humanidade. “Vocês não têm maturidade suficiente para dizer as coisas sem rodeios. Até esse fardo que deixam para nós, crianças (..). Eu preocupo-me com a justiça climática e com o planeta vivo”.
Greta tem um transtorno do espetro de autismo. Para a sociedade normativa, a pessoa com autismo tem uma incapacidade, pois não se encaixa no padrão definido. Sob essa perspectiva, uma pessoa com incapacidade não tem a mesma utilidade social que os seus pares. No entanto, a mesma sociedade que distingue perfeitos de incapacitados, tortura as diferentes espécies e conduz o planeta ao ponto de ruptura.
Se a incapacidade de Greta a torna tão consciente, todos deveríamos sofrer do mesmo transtorno incapacitante...
A humanidade parece estar a despertar para a evidência de que não é o topo de uma cadeia, mas sim parte de uma rede. Esta é a nova consciência social da qual depende o futuro do planeta e de toda a vida que nele existe.
Sejamos autistas como Greta Thunberg!