Estávamos em 2012, e Pedro Passos Coelho, no seu primeiro ano de mandato, já demonstrava qual seria a sua visão relativamente aos altíssimos níveis de desemprego. Em maio daquele ano, o então primeiro-ministro dizia que estar em situação de desemprego não tinha de ser encarado como um sinal negativo, mas sim como uma oportunidade para mudar de vida.
Foi com esta insensibilidade que Passos Coelho desgovernou o país durante quatro anos. O desmantelamento desenfreado e indiferente de todas as conquistas sociais quebrava até o mais otimista dos cidadãos.
Quando a solução do primeiro-ministro para o desemprego era uma ideia que se traduzia num mero ‘desenrasca-te’, os portugueses sabiam que estavam por sua conta. Quem parece também estar por sua conta, pelos menos aos olhos do PSD, são os 42 trabalhadores que vão ser despedidos do Grupo Piedade até ao dia 6 de agosto de 2019.
O Grupo Piedade, pertencente ao grupo francês Oeneo, com sede em Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira, já demonstrou no ano passado, com o despedimento que se efetivou na PIETEC, que recorrer a estas práticas não lhe causa qualquer incomodo e o que interessa é o lucro selvagem que atropela as vidas de quem para si trabalha. Esta preocupante situação, para além do enorme impacto que representa para uma região que depende tanto deste setor, tem deixado alarmados os trabalhadores que temem a perda dos seus postos de trabalho.
Com isto em consideração, o Bloco de Esquerda (BE) apresentou na última sessão ordinária da Assembleia Municipal (AM), a 24 de junho, um voto de repúdio que visava condenar estas práticas e através do qual a AM manifestaria o seu protesto pela intenção de o Grupo Piedade proceder a mais um despedimento coletivo no Concelho.
Por altura da discussão deste ponto, no período antes da ordem do dia, o deputado municipal do PSD, José Manuel Leão, decide reavivar a ideia absurda de Pedro Passos Coelho e afirma que, embora estes despedimentos sejam de lamentar, acredita que através da dinâmica do Concelho seja possível a integração destes trabalhadores que irão enfrentar o despedimento. Por outras palavras, mais um dirigente do PSD que olha para o desemprego e diz: desenrasquem-se, isto até vai ser uma nova oportunidade!
Que o PSD em Santa Maria da Feira não demonstre qualquer tipo de solidariedade por estas situações e se posicione do lado de uma multinacional que faz do atropelo aos direitos laborais uma prática comum, não espanta o BE.
O que espanta o BE, e certamente muitas e muitos feirenses, é saber que mesmo depois de sete anos, uma ideia tão violenta como a ideia de que ser despedido é uma nova oportunidade continua viva e com adeptos. Ora esses adeptos, não só afirmam tal coisa com a maior das naturalidades, como nem sequer se associaram ao voto de protesto, o que resultou num chumbo do documento. Nem sequer uma posição simbólica de apoio aos 42 trabalhadores que vêm as suas vidas agora em suspenso, o PSD foi capaz de dar.
Quando os dirigentes políticos neste concelho não são capazes de fazer a mais elementar das ações de solidariedade para com os seus munícipes, é porque a política do vale tudo e a lei do mais forte impera em Santa Maria da Feira, e essa é a política que urge alterar. Um Concelho solidário e onde seja possível trabalhar com dignidade nunca vai ser possível enquanto o PSD estiver no poder.