Na penúltima reunião de Câmara, durante a discussão sobre o Relatório de Contas de 2018, pedi desculpa pela expressão que iria usar para resumir o documento – “o Rei vai nu”. Na altura um Vereador reagiu à minha expressão, dizendo que na época liberal que atravessamos o Rei pode ir nu se assim o entender. A essa reação respondi: «sim o Rei tem o direito a ir nu, mas pelo menos, compete-nos o dever de o informar que, na realidade, vai nu.» Seria grave deixarmos o Rei acreditar que enverga uma fatiota à medida das suas aspirações, aplaudindo à sua passagem um fato que nunca existiu. Fica na consciência dos Vereadores do PSD alimentar a ilusão e aceitar que o seu “Rei” vá nu gabando-se do brilho e cores das suas vestes. Não podem exigir a mesma atitude aos Vereadores do PS e restantes partidos com assento na Assembleia Municipal.
Quem esteve presente na última AM e, mais tarde, ouviu as declarações do Sr. Presidente à RCF, dizendo que Margarida Gariso teria ficado nervosa e despeitada por causa dos, supostos, elogios proferidos relativamente ao Relatório de Contas de 2018, percebe bem que “O Rei vai nu” e ninguém o informa.
O autarca perdeu a noção da realidade. No seu mundo imaginário é Rei e veste o mais belo trajo, algum dia visto. No mundo real, assume tiques ditatoriais que não se arroga a impor as suas vontades à Vereação Socialista e demais membros da AM. Alguém o devia informar que a sua taxa de execução é negativa, ficando-se pelos 44% e que a grande maioria do investimento feito parte dos privados. Esta é a dura realidade, tem as contas em dias, graças ao PAEL, e paga aos fornecedores a 13 dias (conforme as regras do próprio PAEL). No entanto, não pode implementar o passe único, acompanhando assim os municípios vizinhos da AMP conforme seria suposto, porque se esqueceu de infraestruturar as diferentes formas de mobilidade, nomeadamente o transporte público.
O “Rei” gaba-se dos feitos do privado, mas devia analisar porque motivo a taxa de execução municipal tem saldo negativo. Fala em despeito do PS e relembra elogios que se aplicaram exclusivamente a contas, omitindo as duras críticas que recebeu de todos, incluído do próprio PSD (obviamente mais leves do que dos restantes partidos).
Não existiu despeito algum, contrariamente ao que Emídio Sousa afirma e tenta fazer crer, para camuflar o motivo que levou a equipa de Vereadores do PS a abandonar a última reunião de Câmara. O Sr. Presidente usa como muleta a ilusão fabricada pelos seus assessores de imagem, para esconder a execução negativa, e empenha-se no controlo da informação que é dada à oposição.
Defendemos a realidade em vez da ilusão. Não percebemos os motivos pelos quais:
- Não são dadas as respostas pedidas pelos Vereadores do PS:
- Não temos um único Centro Coordenador de Transportes;
- Temos Zonas Industriais que parecem ter sido abandonadas pela Câmara;
- Temos um território retalhado, sem planeamento ou estratégia de ordenamento;
- Temos freguesias descaracterizadas, onde não se percebe onde é o centro e sem passeios para a circulação pedonal;
- Cada freguesia aplica as suas regras e materiais no espaço público; etc.
Salva-nos o investimento privado, o PAEL e as festas, já que a taxa de execução tem saldo negativo e o território sofre os danos provocados pela ausência de visão.
Em Santa Maria da Feira a Coesão Social e Territorial não passam de mitos urbanos usados para costurar o traje imaginário do “Rei” que vai nu. Deixai-o ir!