Como o Correio da Feira revelou na semana passada, o senhor presidente da Câmara decidiu subscrever um atentado aos princípios democráticos, ao recusar-se a debater os assuntos do município com outros eleitos, decretando que a partir de agora só fala com os colegas de partido. Aos vereadores da oposição talvez responda por escrito, mas só no caso de as questões lhe chegarem ao conhecimento, pois ele também já disse que não lê toda a correspondência que mandam para a Câmara.
Na história podemos encontrar exemplos muito semelhantes ao que se vive na Câmara da Feira, em que certos estadistas, políticos, filósofos ou cidadãos, refugiando-se na desculpa e da necessidade de repor a ordem, ou fazer os outros, (geralmente quem se nos opõe) respeitarem o poder que representam, suspendem o regime democrático vigente.
Todos esses exemplos, com raras exceções, redundariam em pouco tempo em regimes onde os primeiros passos trémulos da democracia foram suspensos, acabando abolidos.
Na história recente recordo ao leitor, e especialmente ao senhor presidente da Câmara que o Dr. Salazar só pretendia pôr as contas do país em ordem e acabou por lá ficar 35 anos e mesmo depois de destituído, ainda acreditava ser o presidente do conselho de ministros. Não vou entediar os leitores com o que aconteceu a determinados direitos dos portugueses, durante as décadas em que vigorou esse regime do século passado.
Fique tranquilo Dr. Emídio, porque não o comparo ao Dr. Salazar. O senhor não tem categoria para tanto, e seria um insulto ao homem e até à historia.
A única comparação possível, focando-nos mais na atualidade, seria aos chefes tribais, por exemplo, os que hoje ameaçam desencadear nova guerra na Líbia.
Dois generais, patrocinados por influências estrangeiras lutam para “agarrarem” o poder. Evidentemente que nem os generais nem os patrocinadores destas guerras tem a menor preocupação com os cidadãos, aqueles que pretendem governar e a quem apelam para lutarem em seu nome, preocupam-se unicamente com os seus interesses e com o poder. O povo, esse não conta, até porque um número significativo morrerá, outro permanecerá ao serviço e outro se calará incompreensivelmente perante a estupidez e mediocridade, entregando-se no conforto possível das suas casas e vidas devastadas. Exemplos que a outra escala, também por cá temos, no nosso concelho, como é sabido.
A primeira justificação que apresenta é para alegadamente evitar respostas menos precisas, um atestado de estupidez que atribui aos seus próprios vereadores, que parecem insistir em responder à Oposição, quando deviam solicitar tempo para análise do assunto em questão. Portanto são mesmo uns irresponsáveis, incompetentes, a necessitar da protecção paternal do senhor Presidente, deduzimos nós. O Dr. Emídio é que nunca diz imprecisões.
Com o objectivo de refrescar a memória, vou solicitar à redacção uma recolha para depois pedir à Direcção do Correio da Feira a sua publicação. Mas posso já recordar-lhe uma dessas suas argoladas que são pura demonstração do respeito que tem pelos Feirenses e suas instituições.
“Respeito muito a imprensa, em especial a imprensa local, aqui representada pelo jornal Correio da Feira, apesar de nem sempre concordar com o que dizem” (Emídio Sousa, no 120º aniversario do Jornal Correio da Feira). Simplesmente sem comentários. Não vou agora refrescar-lhe a memória com todos os atentados que tem realizado desde dessa data contra a imprensa livre, a tentativa de amordaçar o Correio da Feira, semelhante com a que pretende realizar agora com a Oposição nas reuniões de Câmara.
De seguida e para de novo justificar a sua decisão antidemocrata e desrespeito a milhares de portugueses e Feirenses, defende-se com valores e princípios que o próprio Emídio Sousa não respeita e nem se preocupou em fazer respeitar, como: “o presidente da Câmara sou eu”. Sempre desrespeitaram a Oposição, ao não facilitar o “acesso a processos que se perdiam nos enormes corredores do edifico da Câmara”, como referia a jornalista do Correio da Feira Daniela Soares. Recordo que já uma vez tive a oportunidade de dizer ao senhor presidente da Câmara que o Correio da Feira é um excelente registo histórico, gravando as nossas coerências e incoerências.
O que pretende o presidente?
Fazer passar que a Oposição não lhe dá outra alternativa que não seja suspender a Democracia: “São uns tipos intratáveis, arruaceiros e perdem-se em discussões inúteis e vazias sem contexto útil”
É nisto que querem que acreditemos, mas é mentira. Podia ser verdade se o presidente e sua equipa colaborassem para que o ambiente entre poder e Oposição fosse um saudável momento de trabalho em favor do Concelho e beneficio dos Feirenses, mas foram os primeiros a levá-los ao desespero e nesse momento saltou-lhes a todos o chinelo baratito do pé. E agora pretende aparecer o presidente, o Dr. Emídio Sousa como o garante do bom funcionamento das regras democráticas. Logo este senhor que de democracia só entende quando não tem Oposição ou ninguém que o confronte com as suas incoerências.
E porque não abandonaram a reunião, os vereadores do Partido Socialista, em forma de protesto? Questiono-me. É uma resposta para a líder da Oposição. O que me surge dizer é que virar as costas e bater com a porta é muitas vezes o caminho mais fácil. Ficar e lutar, poderá ser encarado inicialmente como sinal de fraqueza, mas nem sempre é verdade. Vou aguardar com expectativa a resposta dos vereadores da Oposição.
Para terminar gostava de deixar uma palavra à Comunicação Social. A atitude inqualificável do presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, na minha opinião é um desrespeito a um valor basilar da Democracia: o Diálogo, que quando civilizado conduz à confrontação de ideias que gera a criatividade…
Quando esses valores são desrespeitados os senhores são chamados a intervir em defesa da Democracia e dos seus valores. Ficar a assistir para registar e informar com isenção é um dos vossos papéis fundamentais, mas não é o único. Sempre que a Democracia esteja em perigo espera-se, esperamos todos, que a Comunicação Social dê o seu contributo na hora certa com as atitudes correctas. Os Feirenses contam que os senhores jornalistas estejam atentos e à altura do acontecimento.