Muito já escrevi em defesa da Via Romana/Estrada Real/Caminhos de Santiago que atravessa a zona do Ferradal – Fiães, no entanto, ainda há pessoas de proa do nosso poder político que não sabem a diferença entre uma Via Romana e uma Calçada Portuguesa.
Fica a lição: uma das Vias Romanas que atravessa o concelho da Feira é a Via Romana que ligava Bracara Augusta (Braga) a Olisipo (Lisboa). Esta construção remonta ao período em que a mobilidade dos exércitos romanos era de máxima importância para o crescimento e manutenção do império. É certo que a civilização mudou com os tempos e que essas Vias Romanas foram transformadas em estradas de asfalto. No nosso Concelho grande parte dessas vias deu origem à EN1, que fez com que o Concelho tenha crescido e se tornado o maior do Distrito de Aveiro. O restante troço da Via Romana ficou entre as freguesias de S. João de Ver, Fiães e Lourosa. Nesta última, a Via também foi totalmente asfaltada até à Autoviação Feirense, restando apenas pequenos troços por asfaltar em Fiães e S. João de Ver. Em S. João de Ver há um troço de cerca de 800 metros da Via Romana classificado como Imóvel de Interesse Público, no lugar das Airas. Em Fiães a Via Romana teve até há alguns anos, cerca de 300 a 400 metros onde ainda era visível a Via Romana, mas assim que se iniciou a construção da zona industrial do Ferradal/Monte Grande parte da Via foi soterrada, ficando a Via Romana a uma profundidade entre 2 e os 3 metros.
Sabemos do interesse da edilidade em tornar uma parte da Via Romana que ainda existe em estrada de tapete (entre as ruas Natália Correia e a Rua Padre António Vieira) – algo a que nem eu nem o PS Fiães nos opusemos. O que foi e é uma bandeira para mim e para o PS Fiães é que a pequena sobrante do troço da Via Romana seja requalificada ou reconstruída, marcando-se de alguma forma naquele local a existência daquela que foi a Via Romana que ligou outrora Bracara Augusta a Olisipo; e, ao mesmo tempo, fazer naquela zona um pequeno parque de lazer envolvendo a fonte e o antigo lavadouro – tornando aquele local um ponto de referência para os Fianenses, mas também para as centenas ou até milhares de caminheiros que por ali passam com destino a Santiago de Compostela ou Fátima.
Tomada a lição importa agora dizer o seguinte: são incompreensíveis as afirmações proferidas pelo vereador Topa Gomes na última reunião de Câmara. Com profunda desonestidade intelectual, o referido vereador disse que aquele troço da Via Romana no Ferradal é apenas uma Calçada Portuguesa. E, mais grave ainda, disse que esta sua afirmação se baseava num parecer da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN).
É preciso esclarecer: o dito parecer não faz qualquer referência a uma Calçada Portuguesa, muito menos diz que aquele troço não é parte da Via Romana. O que o documento diz, e se cita, é o seguinte: “(…) em recente visita ao local com Técnico do Município e da Junta de Freguesia, constatou-se a presença de parte do traçado da Via Romana/Estrada Real Ferradal, embora sem a presença de qualquer vestígio físico”. E diz ainda: “Assim, relativamente à pretensão do Município relativamente àquela área, e tratando-se de ações de limpeza e valorização do traçado e da zona envolvente – fonte, considera-se viável, desde que sejam implementadas medidas de salvaguarda que visem acautelar qualquer acção que coloque em risco a sua integridade física (da Via Romana), entendendo-se assim, necessário proceder a uma caracterização daquele troço viário bem como o acompanhamento arqueológico dos trabalhos”.
Creio que o vereador Topa Gomes, até pela formação académica que tem, não disse estas barbaridades por ignorância… No entanto, queremos que tenha consciência de que não andamos todos a dormir e que a postura do Município em relação ao património histórico não poderá ser o espelho da veleidade das suas afirmações.