“Quem de novo não vai, de velho não escapa”, ditado tão antigo quanto verdadeiro. Contudo, há pelo menos duas coisas que é necessário ponderar. Uma, a questão do prolongamento da esperança média de vida. Excelente, mas em certos casos nem tanto; pois esse alongamento nem sempre é acompanhado de qualidade de vida. Outra, a questão económica. Após o 25 de Abril no nosso país, instalou-se o Estado Providência que garante reformas e pensões a todos aqueles que já não podem mais trabalhar ou que estão incapacitados. Isto, juntamente com os outros benefícios que a democracia nos traz, deve-nos fazer ter sempre fé e manter-nos participativos no atual sistema político. Inclusive transmitir isso aos mais jovens.
Contudo, hoje em dia, poucos são aqueles que podem viver exclusivamente destes direitos estatais. Cerca de um milhão de idosos têm rendimentos bem abaixo do ordenado mínimo nacional. Ora, se considerarmos os elevados gastos inerentes à velhice, podemos concluir que é extremamente difícil para estes seres humanos conseguirem uma existência digna na última fase das suas vidas e naquela que o viço se esvai, juntamente com a saúde. A dependência acentua-se, normalmente acompanhada pela solidão resultante da evolução da sociedade, que atira os mais jovens para um mercado de trabalho extenuante e para uma subserviência a uma economia de consumo, que torna a vida ainda mais severa.
Tempo é algo precioso! Ainda mais pelo estabelecimento de prioridades, muito pouco prioritárias; ao invés dum equilíbrio saudável do tempo livre.
Tantas dicotomias!
Sendo que no meio está a virtude, como podemos viver felizes?
De notar que a avaliação da vida humana acontece aquando da morte, mediante a saudade que a pessoa deixa. A vida, tal como num filme, tem um final. Mas, se a pessoa deixar saudade é porque deixou um legado positivo. A possibilidade de construir uma obra, não tanto física, mas sobretudo no coração dos homens, é o que cá nos traz.
A nossa existência não nos pertence somente, mas também a quem nos rodeia. A existência egocêntrica que se tem vindo a instalar na sociedade atual, atira-nos para a infelicidade. Laços familiares não são garantias de afetos.
Vale pensar que para obtermos algo daqueles que nos rodeiam, temos que dar bem mais em troca. E nisto também devem pensar os futuros idosos. Nisso e numa mudança de comportamentos, que inclua a criação duma “capa” que nos proteja do Marketing agressivo e da publicidade que nos atiça as vontades e nos molda os comportamentos. As crianças devem ser mais protegidas ainda, para não entrarem neste esquema que só os fará seres frustrados e infelizes no futuro, com muita dificuldade em socializar. Gerar nestes, e em toda a sociedade a importância duma vida digna e confortável, e deixar de dar importância ao supérfluo, poderá ser muito positivo; para no presente, construirmos um futuro auspicioso.