A falta de qualidade de vida no nosso concelho tem sido tema habitual no nosso jornal, destacando-se na última edição diversos trabalhos: artigos de opinião, reunião de Câmara, entrevistas, contestações de moradores.
Nas diversas situações, noticiadas pelo CF que relatam atentados ao meio ambiente, tendo como consequência a degradação da qualidade de vida dos habitantes, a ponto de levar alguns a querer abandonar o Concelho, há sempre uma semelhança: a posição do Poder Local. A sua actuação é de uma coerência exasperante, nunca se apresentam em defesa dos Feirenses, nunca em defesa do meio ambiente, nunca em defesa da qualidade de vida no Concelho.
No caso da ETAR de Espargo, independentemente dos gravíssimos erros do passado, alguém nos dias de hoje escutou ou sentiu alguma solidariedade do presidente da Câmara e seus vereadores? Népias. “…o problema não é da Câmara da Feira, é um problema de exploração.” Não percebo o que isto quer dizer. Foi um poder extraterrestre que entregou aquela “fossa” à Simria?
O presidente da Junta, ao menos que encabece esta luta ao lado dos moradores, em defesa do meio ambiente e pela qualidade de vida de uma freguesia à sua responsabilidade. É o seu dever e é isso que dele se espera.
No caso da empresa Luís Leal e Filhos, qual a posição do presidente e vereadores? “Não temos competências…” Sim nós já vamos descobrindo que sim, que os senhores não têm competências, em especial na área do ambiente, onde mais se nota a nódoa. Mas dado que desejaram o Poder e comprometeram-se com o povinho, pelo menos esforcem-se para encontrar competências e defender os Feirenses que juraram servir. Que tal um vereador com outra sensibilidade para as questões ambientais? Poderia ser útil para o Concelho. Não, não, eu sei; colidia com muitos outros interesses, imagino!
“A Câmara não tem autonomia para fazer medições de ruido”.Pois não tem, nem lhe interessa. Se tivesse, estava a Câmara desgraçada, capturava-se na sua própria malha. Ou não sabemos todos que a Câmara é a primeira a violar a lei do silêncio, do direito ao descanso e da propriedade privada? Por isso não lhe interessa ter os tais medidores de ruído. Se por cada evento realizado à frente da minha casa se fizesse um teste desses e a Câmara fosse condenada a pagar-me mil euros por hora, de abuso, posso dizer-vos que estava milionário. O Ronaldo, à minha beira, seria brincadeira de criança...
No centro da cidade são os próprios governantes locais a desrespeitar o meio ambiente com as autorizações de eventos que violam os nossos direitos mais básicos. São indivíduos desprovidos de sensibilidade para este assunto, a não ser que dê uma excelente fotografia para a titularmos com um assunto da moda.
Caso típico, a vereadora da educação com o pelouro do desporto, que autorizou e promoveu corridas e eventos que tiveram como pano de fundo a nossa saúde, assunto que não podemos desassociar do meio ambiente, o mesmo a que não olharam a comiserações quando foram poluidores sonoros assassinando o descanso dos residentes no centro da cidade. E quando finalmente conseguimos sair à rua, o que presenciamos? Ruas, carros e paredes tingidas por tintas arremessadas a tudo e atodos pelos participantes brincalhões, as mais importantes artérias da cidade repletas de plásticos, milhares de garrafas e sacos a voar ao sabor do vento, acabando Cáster abaixo. E assim ficou durante dias. O evento a que me refiro era «pelo ambiente e pela nossa saúde», recordamos incrédulos. Mas na ideia da autarquia, ficou bem. Deu uma fotografia óptima e é um excelente cabeça de cartaz para uma vereadora moderna, divertida e que quer mostrar-nos que está preocupada com estes assuntos.
Para terminar só nos faltava que um feirense com responsabilidades políticas e sociais viesse afirmar: “os problemas ambientais existem em todo o planeta, não apenas em S. Maria da Feira.” Para desculpabilizarmo-nos ou elogiarmo-nos, sempre buscamos os maus exemplos do vizinho. Coisa de politiquices de trazer por casa, dos que nada fizeram ou fazem em prol da Feira, muito menos pelo Feirense que, desesperado, necessita da intervenção dos seus eleitos, senão mesmo do maior partido local. Que fazem estes senhores? Viram-lhes as costas e em histeria berram numa tentativa de desviar o cerne da questão, apontando o dedo a quem se atreve a denunciar a inércia da Câmara: “propaganda eleitoral”. Género carpideiras pagas em funeral: "quanto mais berrar mais recebo."
A urgente necessidade de qualidade de vida e de um meio ambiente saudável não é propaganda eleitoral, é uma REALIDADE URGENTE, deveria ser exigência prioritária dos Feirenses. Campanha eleitoral é o que os políticos no poder executam, com promessas que nunca cumprem e com obras que não executaram, mas dão por terminadas.
Nós os Cidadãos
A verdade seja dita que normalmente só despertamos duma letargia que comodissimamente nos aflige (portugueses) quando nos tornamos vítimas do desrespeito, do abuso e do desinteresse. Só reagimos quando o lixo chega à nossa porta e o barulho nos entra em casa. Até lá, viramos a cara para o lado e deixamos as vítimas abandonadas aos abusadores. Assim somos, não me excluo!