No jornalismo, os «alçapões» sucedem-se em todos os percursos. Curtos, médios e longos. Todos estão sujeitos a encontrar no caminho um qualquer alçapão, que pode não causar grande mossa, mas que deixa sempre algumas marcas.
Há cerca de 60 anos, mais afincadamente nos últimos 40, que sigo com enorme atenção, e ainda com maior interesse, o que se passa na imprensa regional, mais concretamente na imprensa do nosso Concelho.
Iniciei-me nas páginas deste secular semanário, e mesmo numa altura em que escrever certas verdades era tarefa perigosa, para quem escrevia e para quem as deixava publicar – lembro que, em 1972, a então diretora do jornal teve de enfrentar alguns poderosos de Fiães, por causa de um texto meu, mas fê-lo com uma elevação (e coragem) que desarmou os queixosos, por sinal daqueles que na altura eram considerados do «reviralho», isto é, eram poder, mas davam, como diz o nosso povo, «água para todos os bicos» – estive na fundação de um jornal que durante quase três décadas trilhou um caminho por todos (ou quase) reconhecido como imparcial (Terras da Feira), capaz de elogiar o poder, quando tal se justificava, mas nele «malhar» quando era imperioso fazê-lo, ainda passei por outros (Notícias da Feira, Líder, Comércio da Feira, Activo e Notícias de Paços de Brandão, todos desaparecidos) e continuo a prestar a minha colaboração, como sempre apenas pela paixão que nutro pelo jornalismo, à nossa imprensa regional.
Passado todo este tempo, e porque sei quão difícil é manter um jornal regional, sobretudo, quando o jornal não está «às ordens do poder», como acontece com o Correio da Feira, revolto-me quando, mesmo à vista desarmada, assisto a fretes que alguns jornais continuam a fazer ao poder instalado.
Todos sabemos que quem está no poder, por mais democrata que se apregoe, não consegue evitar sentir uma «raivazinha» por ver um jornal, que ele gostava de ter a seu lado, mas que não lhe faz fretes, e por isso faz desse jornal um exemplo de independência, em suma, um jornal que prestigia toda a comunicação social.
E como nós por cá... nem tudo está mal, e porque, não obstante alguns «sorrisos amarelos» de alguns poderosos - eles andam distraídos, e não se lembram que o poder, mesmo o político, é efémero - vamos (falo por mim, mas pelo que conheço dos responsáveis por este semanário que tem grandes responsabilidades na imprensa regional deste País, julgo poder falar por eles também) continuar a trilhar o caminho que julgamos ser o que mais se coaduna com uma imprensa regional que está ao serviço das populações ,e não deste ou daquele poderoso.
E pugnar pelas populações deste Concelho é alertar o poder autárquico para os males que a todos nos afligem.
Como para o estado caótico em que se encontra grande parte da rede viária do Concelho – já agora, o que tem feito o senhor presidente da Câmara para que o troço da EN1, que atravessa o nosso Concelho, seja, como há muito se justifica, melhorado, deixando de constituir um perigo para os que lá transitam, e o maior destruidor de suspensões de veículos, sejam eles ligeiros, sejam pesados? – para o lixo que impera nas ruas, para o exagerado preço que todos pagamos pela água, pelas enormes taxas que suportamos pela recolha (deficiente) do lixo e do saneamento?
E mais: o senhor presidente, numa entrevista sem perguntas incómodas, informa que o Município vai descer a taxa do IMI. Acordou tarde, senhor presidente. Há algum tempo colegas seus, de municípios vizinhos, já o fizeram. E não, como anuncia o senhor presidente agora, uma redução de uns míseros cêntimos.
Será melhor aguardar mais uns dois anos e no ano de eleições anunciar uma descida mais acentuada, aumentando essa descida em mais alguns cêntimos.
Aproveite, senhor presidente: as festas começam a cansar. Os santamarianos, sobretudo os que mais que festas, gostam de ver o seu Concelho, se não a fazer melhor, pelo menos a não fazer pior que os seus vizinhos, podem deixar de andar distraídos.