BE –Apesar de ter perdido percentualidade (-0,43%) e eleitorado (-396 eleitores), o Bloco de Esquerda conseguiu ascender à condição de terceira força política do Concelho; importante, é que nem as perdas residuais (Bárbara Pinto apontava a «melhores resultados que há 4 anos») conseguem denegar que o partido alcançou o ponto de consolidação no concelho com maior peso eleitoral no distrito de Aveiro. Ainda assim, a perda de eleitorado e a redução da representatividade obrigam a avaliação e reflexão profundas.
CDS –Repercutindo a avaliação do próprio candidato («desastroso seria ficar abaixo dos 3.000 votos») os resultados alcançados pelos centristas são verdadeiramente decepcionantes. Com apenas 2.275 votos conquistados (-845) e a percentagem a cair 1,07%, face aos resultados de 2017 (em aparente contraciclo nacional) fica mais enublado o cenário da promitente recandidatura de Alecsander Pereira em 2025. Falta uma vaga de fundo aos centristas…
PCP/PEV –Os 1.627 votos conquistados (-327 do que em 2017) correspondendo a uma fatia de 2,33% do resultado global, reportam a uma perda percentual de apenas 0,38% face às eleições anteriores (2,71%), então sob a sigla da CDU. Porém, e face à tendência de esvaziamento do peso comunista junto do(s) eleitorado(s) a nível nacional, dificilmente poderá ser assacado responsabilidades maiores a Isabel Gomes, não sendo de surpreender ao seu reaparecimento em 2025, na senda do que tem sido a matriz do PCP.
CHEGA –Se para Miguel Cruz um bom resultado seria «vir a ser a terceira maior força política do concelho», os escassos 1.979 votos captados num universo de 66.597 validados para efeitos de atribuição de mandatos, então, terão de ser assumidos como um fracasso. No entanto, os 2,83% de eleitorado conquistados conferem-lhe o benefício da dúvida, estabelecendo uma linha ténue entre as possibilidades de estarmos em presença de um epifenómeno e um advento político. Mas para já, Miguel Cruz está com IL, PCP/PEV e PAN nos rectrovisores.
IL –O entusiasmo contido de Carla Abreu («tudo o que seja acima de 2%, será um excelente resultado», dizia ela ao CF) deu-lhe margem para emergir desta sua primeira experiência com o sentimento de dever cumprido. Aos 1.886 votos conseguidos, correspondem os 2,7% de eleitorado, mais que dobrando os resultados nacionais (1,3%) alcançados pelo partido.
PAN –Ao fixar os 2.157 votos alcançados nas últimas eleições como paradigma para “um bom resultado”, Andrea Domingos não deveria estar à espera de um resultado tão incipiente (1,47%), que a expõe e penaliza um partido que se apresentou a eleições visivelmente desfasado da realidade local. Faltou chama onde sobrou incipiência.
PS –O decepcionante resultado obtido por Márcio Correia, mostra um PS absolutamente estilhaçado. Se dúvidas houvesse, com isto se perceberia quão profunda é crise (de valores e de identidade do PS santamariano. À partida, a estratégia de Márcio Correia parecia ter tudo a seu favor: o «timing» da candidatura cujos resultados (que, expectavelmente, só poderiam ser melhores que os alcançados em 2017) deveriam alavancar nova candidatura em 2025 (em teoria mais facilitada, dado que Emídio Sousa não poderá recandidatar-se). Mas com a verdadeira hecatombe que abala os alicerces dos socialistas fogaceiros, tudo é questionável, sendo de admitir que a possibilidade de «importar» uma figura nacional deverá de voltar a ser equacionada. (A não ser que Susana Correia seja capaz de polir a auréola na Assembleia da República…)
PSD –Mesmo perdendo quase tantos votos (2.206, que, afinal, não foram para o PS) como Márcio Correia (2.380), Emídio Sousa foi reeleito com uma maioria confortável, mantendo a relação de forças (7 para 4) no órgão executivo do município. E não pode deixar de se sublinhar outra evidência: em apenas duas candidaturas, Emídio Sousa alcançou dois dos melhores resultados de sempre obtidos pelo PSD (50,48% e 48,91%) bem acima dos melhores números conseguidos por Alfredo Henriques desde o princípio do século. Pode pois concentrar-se definitiva e legitimamente noutras metas – bem mais atractivas, em termos de realização pessoal: assento na AR e/ou algo mais, se o PSD conseguir voltar a governar.
O QUE AÍ VEM…
Não há quem não tenha percebido que, nestas eleições, não havia espaço estratégico para se desenhar cenários de alternância: Emídio Sousa já tinha o lugar reservado, não se vislumbrando outro defecho que não fosse a sua última reeleição. E, no contexto, até a única incógnita (a dos números) não passava de lana-caprina.
Na verdade, o máximo a que os candidatos das outras forças políticas poderiam almejar, seria desempenhar o papel de fiel da balança, fazendo-se eleger num cenário em que PSD e PS se ficassem por 5 mandatos cada. No mínimo, alcançar resultados honrosos, capazes de prenunciar crescimento a curto-prazo. A excepção era, naturalmente, o PS.
Mas nem o próprio Márcio Correia partia com outra ideia que não fosse obter um resultado que lhe permitisse recandidatar-se em 2025, mais-que-presumivelmente medindo forças com Amadeu Albergaria, o promitente delfim que se segue (a não ser que o PSD se livre de Rui Rio e consiga voltar a formar governo. Mas isso, são outros cenários, apesar de tudo, não-desconexos…). Tendo sabido resguardar-se em 2017, Márcio Correia até traçou a sua estratégia na perfeição, com sageza e calculismo assente em premissas adequadas à sua (também legítima) ambição. Mas o resultado agora obtido, deixa-o indubitavelmente em maus-lençóis:
1 - Não pode alcandorar-se à posição do herói que, vingando a afronta de 2017, regatasse a honra dos socialistas;
2 - Perdeu margem de manobra para se candidatar a um tão almejado tirocínio na AR;
3 - E não conseguiu ajuntar argumentário suficiente para voltar a liderar nova candidatura dos socialistas, em 2025.
Segue-se a inevitável travessia do deserto…
Em tempo:
Noutro patamar, é forçoso sublinhar três sinais de perigo para o PSD: a ascensão de David Neves, que contra todas as previsões conseguiu ganhar a União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande; a vitória da coligação ‘Mais Milheirós’, com Manuel Melo a voltar a vencer, perante nova falta de comparência do PS; e a periclitância que ameaça a posição laranja em Fiães, onde Valdemar Ribeiro foi eleito por uma ‘unha negra’ e perdeu a maioria-absoluta. Adivinha-se casa cheia, a cada sessão da Assembleia de Freguesia fianense…