É numa casa cheia de artefactos e peças de colecção de todo o mundo que encontramos Jorge Braga Brandão de Andrade. Nascido e crescido em Luanda, são as memórias ligadas à terra aquelas que mais se destacam. “Lembro-me da fazenda do meu pai em Angola, de como adorava sair da cidade e ir ao fim-de-semana para lá. Para mim, aquilo é que era bonito, estar no meio da natureza, dos animais, dos trabalhadores…”, diz.
Mas não só. Filho de um dos mais importantes empreiteiros do país, Antero Brandão de Andrade e Silva, teve a rara oportunidade de ter como brinquedo… um avião verdadeiro. “O meu pai, no ano em que o Homem foi à Lua, comprou um avião para nós brincarmos e estacionou-o no jardim. Era um avião da Força Aérea, que fazia o transporte do correio de Angola; o meu pai comprou aquilo na sucata mas trabalhava. Veio no jornal e tudo, uma reportagem sobre o avião que estacionou num quintal”, conta Jorge, rindo.
A família tinha ido para Angola precisamente porque a empresa do avô, em que o pai também trabalhava, ganhou o concurso para a construção do Aeroporto de Luanda. Era para ser apenas um trabalho, mas Antero de Andrade e Silva apaixonou-se pelo continente africano. “O meu avô voltou e o meu pai ficou lá a representá-lo; disse que não queria voltar para a metrópole, que não queria sair de Luanda”. Ligou-se à Força Aérea, fez campos de aviação e contribuiu para aumentar os poucos quilómetros de estrada asfaltada que encontrou no país.
A ‘loucura’ do campo
De três em três anos, a família vinha a Portugal de férias e esses são os tempos que Jorge lembra com mais carinho. “As minhas memórias mais antigas são da Vila da Feira, do tempo que passávamos de férias na Quinta de Santo António. Foram os momentos mais marcantes da minha vida”. Mais uma vez, no meio da natureza. “A loucura de andar com os caseiros, no meio das vacas, e ir para a ribeira… onde agora é o liceu e a Santa Casa da Misericórdia, eram as nossas ribeiras. As carroças de bois levavam as pessoas para ir trabalhar e ao fim da tarde recolhiam-nas”. Na ribeira, havia uma cabana em madeira pertencente ao avô. “Às vezes, fazia ali a minha sesta”.
Aos 10 anos de idade, a Vila da Feira deixa de ser local de férias para passar a residência quando, em Agosto de 1975, Jorge se vê obrigado, com a família, a fugir da guerra nas ex-colónias. “As memórias de África são tão poucas – a fazenda, a casa, o centro da cidade, a Baía, as igrejas – talvez pela forma como saímos de lá. Viemos traumatizados, saímos de um país em guerra, estávamos completamente abandonados, a nossa presença era mal-vista, vi coisas atrozes nos últimos tempos, violentas… Quando cheguei à vila da Feira e lançavam foguetes, eu ficava arrepiado, porque pensava que eram as bombas que estouravam em Luanda”, conta, de olhos semicerrados, as imagens como flashbacks indesejados.
Chegados a Portugal, a adaptação não foi fácil. “Portugal era um atraso de vida. Duas grandes cidades, Lisboa e Porto, e o resto era rural, uma pobreza extrema, não tinha nada a ver com a vida que se levava em Moçambique ou Angola; as pessoas eram analfabetas, foi um choque muito grande”. Até na escola, a realidade estava à vista de todos. “Em Angola, estudei no ensino público e não notava grandes diferenças entre as pessoas; aqui as diferenças sociais eram bastante marcadas. Havia uma separação nas salas de aula e notava-se pela forma como as pessoas se vestiam. Lembro-me de uma grande parte dos meus colegas ir, em pleno Inverno, descalça para a escola, e fazia tanto frio”. Mas talvez o mais difícil tenha sido a discriminação dos retornados. “Éramos apelidados, até por alguns professores, como ‘os que andaram a explorar os pretos em Angola’”.
Apesar disso, garante Jorge, a família, constituída pelos pais e sete filhos, era “alegre”. “Éramos uma família muito unida”, diz, sorrindo, sobre uma das famílias mais conhecidas de Santa Maria da Feira que, ainda assim, “mantinha uma vida normal”. “Nunca andei a estudar em colégios privados, os meus pais obrigavam-nos a encarar as coisas com normalidade. Ensinaram-me o cuidado que devemos ter com a família e as obrigações que o nascimento nos dá porque não nos dá privilégios, dá-nos obrigações. Essa educação marcou-me muito”.
Adeus Feira, olá África do Sul
Pouco tempo depois, outra grande tempestade se avizinhava na vida de Jorge Andrade. “O meu pai não aceitou o rumo que o país tomou e juntou-se a um grupo de pessoas que tentaram fazer uma contra-revolução para devolver o poder ao regime que vigorava. Não teve sucesso e ele ficou preso 100 dias”. O tribunal ditaria a absolvição de todas as acusações, mas bem mais feroz é o julgamento na praça pública. “Íamos para a escola e diziam que o meu pai andava a assaltar bancos. A família era muito conhecida, o nome saía nos jornais, a vila da Feira era uma vila pequena e a chacota… foi grande”. Chamavam-lhes fascistas. “Havia uma revolta, porque as bocas não vinham dos nossos colegas, vinham de pessoas com responsabilidade de dar educação e que deviam ter o senso de não responsabilizar os filhos pelos actos dos pais”.
A perseguição a Antero Andrade e Silva continuou e a família viu-se obrigada a fazer malas e seguir viagem novamente, dessa vez rumo… à África do Sul. “Foi doloroso. O meu pai deu-nos uma vida um pouco complicada. Estávamos a ambientar-nos na Vila da Feira, a criar amigos, e a meio do período lectivo dizem-nos ‘vamos embora para a África do Sul’. Não foi fácil”. O país e a língua eram estranhos e naquela cidade da Namíbia [Windhoek] todos os dias era servido um prato difícil de engolir: o racismo. “O Apartheid funcionava em pleno. Vínhamos de Angola, onde os pretos estudavam e conviviam connosco, nunca senti racismo; e ir para uma terra onde os africanos não podiam circular à noite… era incompreensível”, diz Jorge, lembrando a divisão racial, mas também o “ódio” entre os próprios brancos. “Os afrikaners, os alemães e os ingleses não se podiam ver uns aos outros, as escolas eram separadas, ninguém se misturava. Era uma terra deplorável. A África do Sul não deixou saudades”.
Desde então, nunca mais regressou aos sítios onde cresceu. “Não sou saudosista. Nunca mais fui a Luanda, nem tenho vontade. Iria ser um choque ver a casa onde eu nasci no estado em que sei que está. Construíram um hotel em frente, no centro da cidade, um dos maiores edifícios em Luanda, atrás da nossa casa e ela cedeu completamente, parece um caixote à beira de um edifício muito bonito”, diz, esforçando-se por limpar a imagem que se cria na sua mente. Já no que toca à Namíbia, há um regresso nas cartas, uma surpresa do companheiro de vida de Jorge. “O Paulo [Fonseca] está agora a organizar uma viagem à Namíbia. Estou curioso. Conhecemos bastante o país, o meu pai levava-nos muito a passear e estou curioso para ver o desenvolvimento, já vão mais de 40 anos”, afirma, falando sob uma perspectiva essencialmente turística.
Caminhar rumo à descoberta
Em 1981, assenta definitivamente arraiais em Santa Maria da Feira e, mais uma vez, custou a entrar no esquema. “Vivíamos como ciganos, o meu pai passava a vida connosco e com uma trouxa de roupa velha. Tinha aqui dois ou três grandes amigos com quem mantive ligação, mas os primeiros anos foram difíceis. Voltar a estudar português com alguns défices, não tinha história, o ensino da matemática era diferente… Obrigaram-me a fazer tudo de novo, tive de voltar ao 7.º ano”. Resultado? “Andei desanimado, não queria estudar, sempre um insucesso”.
Ainda chegou a ir trabalhar com o pai, mas as Obras Públicas não o convenceram. “Odiava aquilo, sempre tive a certeza de que não era o que queria seguir. Não fazia a mínima ideia do que queria ser, gostava do campo, ainda tive uma pequenina empresa agrícola com umas vacas leiteiras, mas o meu pai não alimentava esse sonho”, revela. A religião sempre foi fulcral na sua vida e, a aproximar-se da idade adulta, decide entrar para o Seminário. “Sempre fui muito beato”, diz, atribuindo os créditos à avó materna que o “obrigava a rezar o terço”. “Todos os dias, às 18h00, o terço era obrigatório. Ouvíamos primeiro a radionovela ‘Maria e Simplesmente Maria’ e logo a seguir dava o terço. Ouvia aquilo, mas não era obrigado, eu gostava de estar ao lado da minha avó”.
Seguindo o que sentiu que foi um “chamamento para servir Deus”, rumou ao Seminário onde ficou durante mais de um ano até que… as circunstâncias se intrometeram no caminho. “Não sei se fui eu que desisti ou se me fizeram desistir. No ano em que fui fazer o Postulantado em Lisboa, no seminário dos Passionistas em Linda-a-Velha, seguíamos todos para Espanha para fazer Noviciado. Quando me disseram que eu não ia, fiquei revoltado porque não vi porque é que era diferente dos meus colegas. Disseram-me que tinha de voltar para a Vila da Feira para o seminário, e eu decidi que não vinha, fiquei em Lisboa”. A sua fé, garante, é inabalável, mas não está isenta de dúvida. “Questionava muito, questionava tudo”, diz, até as regras e práticas da instituição, o que, obviamente, não caía bem entre os seus superiores. Hoje, Jorge ainda se questiona, sobre se tomou a direcção certa naquela encruzilhada. Tudo poderia ter sido completamente diferente.
Neste percurso, os pais e a avó foram uma grande influência, mas também o seu tio-Bispo, D. Florentino de Andrade e Silva, que tanto admira. “É um exemplo de pessoa, de fé, de homem. A presença do meu tio numa fase jovem, entre os 18 e os 23 anos, marcou muito a minha parte espiritual e a minha preocupação com os outros”. Jorge lembra, com afecto, as tardes passadas em Santo Tirso. “Apanhava a camioneta às 6h00 para chegar às 11h30 a Santo Tirso a tempo de rezar o Angelus. Almoçávamos, eu passava a tarde com ele e depois regressava. Essas tardes ensinaram-me o percurso do meu tio, a história dele, a história da igreja em Portugal, devo-lhe muito”. Uma conversa com Jorge de Andrade sobre religião é, na verdade, uma aula de História, dado o conhecimento e entusiasmo que sobressaem das suas explicações. “As bases da minha pessoa são: Deus, Ser Humano e Família. Não me estava a ver fora de uma instituição que marcou tanto a minha vida e continua a marcar”.
Ainda no seminário, conheceu um Professor que lhe deu um novo rumo. “Eu era apaixonado por História e ou seguia História ou Filosofia, e esse Professor, que dava essas disciplinas, fez-me apaixonar por Filosofia, e então segui esse curso na Universidade Católica de Lisboa”. O que o apelou? “Mais uma vez, perceber o Homem, o que somos, porque chegámos aqui e onde queremos ir. A Filosofia não nos dá as respostas, mas abre-nos o espírito para as respostas e foi isso que me cativou”. Também esta escolha, no entanto, acabaria por ficar pelo caminho. “Não acabei, fiquei com o 3.º ano incompleto, porque a vida obriga-nos a tomar decisões, não podemos viver toda a vida à custa do papá e da mamã. Eu tinha 20 e poucos anos, era um rapaz cheio de caprichos e tinha de ganhar para o meu sustento. Gostava muito de viajar, queria conhecer mundo, e na necessidade de vir representar o meu pai a Santa Maria da Feira, porque ele tinha voltado para Angola, decidi, com o meu sócio e companheiro de vida, abrir uma empresa na área do Turismo”.
Viagens personalizadas a ‘furar’ o mercado
Assim, em 1995, nasce a Quadrante – Operador Turístico, fruto de uma paixão imensa de dois jovens pelas viagens. “Tive sempre aquela ideia de que era uma agência de viagens que iríamos abrir, e convenci o Paulo, que estava a acabar o doutoramento em Farmácia, mas não queria exercer naquela área”. Sem qualquer formação em Turismo, levaram com muitas caras desconfiadas. ‘Perguntavam-nos ‘vocês vêm de onde: Abreu, Top Atlântico?’ Não vínhamos de qualquer empresa, éramos apenas pessoas que tinham a prática de viajar, viajávamos muito e desde a nossa primeira viagem tínhamos encontrado um défice no mercado português, de pessoas com conhecimento e sensibilidade para organizar viagens personalizadas, e foi assim que surgiu o Operador”, explica.
Inicialmente com baterias apontadas para a aventura – “umas levadas na Madeira, uns mergulhos com tubarões no Dubai” – foram as próprias agências de viagens que os acabariam por encaminhar para o nicho de mercado em que se especializaram. “Ninguém quis saber de nós para ‘aventura.’ Os agentes que nos contactavam sabiam que tínhamos visitado aqueles destinos, mas em regime de luxo e começaram a explorar esse nosso conhecimento”. Surge assim no mercado português uma oferta até então inexistente. “Começámos a pôr no mercado um produto completamente diferente. Havia as viagens organizadas e nós oferecíamos aos clientes a possibilidade de organizarem a sua viagem. Idealize e nós construímos”, era a ideia subjacente.
Mas não foi sucesso à partida. “Pensávamos que, como era algo que não existia, no dia seguinte toda a gente ia aderir às nossas viagens. Mentira! Ninguém quis as nossas viagens, tinham medo, ninguém nos conhecia, ‘estes tipos nem do Turismo são…’ Não correu nada bem no início”. Foi preciso ganhar a confiança das pessoas, vender o que os outros vendiam – Palma de Maiorca, Tenerife, Gran-Canaria – e depois mostrar-lhes o tal “produto diferente”. “Foi assim que começámos a entrar no mercado. A parceria com ‘A Volta ao Mundo’ [revista especializada] também nos deu bastante nome e uma confiança junto dos agentes de viagens, muito importante”. Jorge lembra uma das maiores peripécias do arranque da empresa. “Uma vez fizemos um ‘charter’ de passagem de ano e tivemos de andar a oferecer os lugares a amigos, fomos todos passar o fim de ano a Palma de Maiorca de graça, foi um flop total. Havia tantos charters, tanta oferta, o nosso era só mais um. 200 e tal lugares, deu um rombo na empresa… Quase nos fechou, mas nós demos a volta”, diz, satisfeito.
Agora, é só enumerar os triunfos. “Orgulhamo-nos de termos sido nós a lançar as Maldivas em Portugal, ninguém sabia onde eram as Maldivas, confundiam com as Malvinas; o Dubai, ninguém trabalhava com o Dubai, fomos nós que lançámos o Dubai no mercado português. A Costa Rica, para onde hoje qualquer pessoa, em sua casa, na Internet planeia uma viagem, fomos o primeiro operador a trabalhar com a Costa Rica. Tantos destinos, tantas companhias aéreas…”, afirma, falando da Emirates Airlines que, na altura, “nem entrava em Portugal”. “Andámos dois anos a negociar com a TAP para fazer um acordo de ligação”.
Tudo isso não foram riscos? “Não, foi uma certeza de que o futuro passava por ali, por aqueles países emergentes do Médio Oriente, países onde se via o desenvolvimento, a riqueza, que estavam a apostar muito na sua abertura ao mundo. Era um risco muito calculado. Tínhamos a certeza de que ia ser um sucesso e foi. O Dubai, as Maldivas, eram a nossa Palma de Maiorca”, declara, jubilante. E se tivesse de escolher uma viagem? “Viagens não consigo escolher, são todas fabulosas, sempre que saio de casa, saio com um sorriso”. Especialmente, se for em direcção à Índia. “Sou apaixonado pela Índia. Já perdi a conta às vezes que lá fui”. Na Índia, fascina-o sobretudo a cultura. “Quem for daqui com mentalidade ocidental, só vê pobreza; mas quem for de espírito aberto, vê uma civilização com mais de dois mil anos. Aí está a base da Índia. Aquilo é um mundo completamente à parte, uma civilização única, a forma como encaram a vida e a morte é tão interessante. Estou sempre a dizer aos meus sobrinhos que quero que depositem as minhas cinzas no [rio] Ganges”, diz, rindo e olhando o fotógrafo, o sobrinho Pedro Almeida, e o riso contagia a sala.
A nível profissional, confessa Jorge, o que mais o fez crescer foi a experiência como guia turístico. “Estar à frente de uma empresa foi tornar um sonho realidade, mas o que me mais fez crescer, como ser humano, foi viver 15 dias com 30/50/90 pessoas. Era muito novo e liderava grupos de pessoas mais velhas do que eu e que tinham um conhecimento do mundo maior do que o meu. Aprendi tanto com eles, devo-lhes tanto…”, afirma. Perceber pelo olhar que a pessoa não se está a sentir bem, que aquele lugar não combina com ela, pôr a necessidade do cliente à frente do desejo de visitar um local, foram tudo lições ganhas. “No fim de cada viagem, saía com cada lição de vida… Essa foi a parte mais bonita”.
O Correio da Feira e a sua ‘aprendizagem’
Em 2011, com a Quadrante já consolidada, Jorge decide arriscar num novo projecto. “Achei necessário encontrar outra empresa que me fizesse crescer de uma forma diferente da Quadrante e há muito tempo tinha o Dr. Paulo Araújo a dizer-me ‘talvez tenha aqui um projecto novo que é ideal para ti’. O tempo foi passando até que o Sr. Alcides Branco, o antigo proprietário do Correio da Feira, se decidiu a vender o jornal e entrou em contacto comigo. Eu alinhei no desafio com uma condição: o Orlando [Macedo] tinha de estar ao meu lado”. E assim se iniciou uma nova era de Correio da Feira.
Mas o caminho foi atribulado. “O desafio do Correio da Feira foi violento, porque comprámo-lo em plena crise internacional e numa crise que a área da comunicação social ainda vive. Não é um projecto fácil, mas é um projecto que apaixona”, garante. Nos primeiros tempos, diz, apenas administrava a empresa e deixava para Orlando Macedo, actual director do CF, a responsabilidade dos conteúdos editoriais. Mas quando este saiu, por motivos pessoais, Jorge “apanhou o Correio da Feira completamente a zero”. “Não percebia nada, fiz uma aprendizagem de dia-a-dia, fui aprendendo com as pessoas que lá estavam, a Sandra Moreno, o Rui Santos, o Albino Santos, e a caminhada fez-se”.
Alguns anos volvidos e tantos mares turbulentos, voltava a comprar o Correio da Feira? “Sim. Prefiro que o Correio da Feira esteja nas minhas mãos do que nas mãos de um partido. O CF é um jornal isento, está ao serviço dos feirenses, não está ao serviço de uma Autarquia ou de um partido político, não está ao serviço de ninguém politicamente. É um jornal aberto a todos os partidos e a todos os sectores da sociedade feirense. No risco de se perder o Correio da Feira para um partido político ou ficar para uma pessoa de fora da Feira, prefiro que o Correio da Feira esteja na propriedade de quem o detém”. E a responsabilidade de gerir um jornal com 121 anos? “É uma responsabilidade por aquilo que o CF representa na história regional e nacional e até na imprensa, mas o mais importante não são os 120 anos passados, o mais importante é o futuro dos jornais”.
E sobre futuro há tanto a dizer… “O que me preocupa é aquilo que estamos a fazer hoje e aquilo que os feirenses querem do jornal, porque continuo sem saber, não consigo apalpar o pulso aos feirenses”, diz, atirando: “Querem um jornal mas não querem tomar a sua cota parte na responsabilidade para uma imprensa isenta, livre”. Enquanto Jorge de Andrade existir, o jornal continuará “feirense e aberto a todos os que saibam respeitar o verdadeiro espírito democrático”. “Se um dia não puder suportar mais a despesa que o CF traz, haverá a necessidade de se procurar na sociedade feirense alguém que queira dar continuidade ao título; senão, temos de aceitar que as coisas nascem, vivem e morrem e o CF pode estar destinado a isso”. Mas salienta: “Há que ter consciência de que se o Correio da Feira morrer, morre porque os feirenses assim o querem, e não porque determinada administração decidiu fechar o CF”.
Nada mais do que o futuro
E o que ainda falta na vida de Jorge de Andrade? “Falta-me viver os dias que Deus me reservou, espero, com dignidade e saúde. De resto, falta-me a garantia de que você e os seus colegas têm futuro no Correio da Feira. Os colaboradores da Quadrante, se o pretenderem, têm futuro, a Quadrante garante o seu próprio futuro, basta eles saberem acompanhar as alterações dos tempos. Mas falta-me assegurar, com alguma tranquilidade, o futuro dos colaboradores do Correio da Feira”, refere. Dias passados com a cabeça no escritório, e nos colegas de trabalho, ou reservados para o núcleo familiar, onde se incluem a mãe e os cinco cães, sempre à volta do dono no espaço de todos os refúgios: o jardim. “A minha preocupação é o meu núcleo familiar e os meus colegas, porque eles são parte da minha família e estão a contar comigo, sempre a perguntar-me qual o novo projecto, qual o novo destino. Agora eu já digo ‘vocês têm de pensar, eu já estou a ficar velho’”, diz, terminando a entrevista com uma chávena de chá e uma homenagem à terra, na forma de doces de Coimbra.