Espécie de sortilégio, em noite amena, a jornada ficou marcada, desde o início, pela inexcedível simpatia com que o Correio da Feira foi recebido. Mário Zambujal, o carismático presidente do Clube de Jornalistas e o seu antecessor Eugénio Alves, desde o primeiro momento que fizeram sentir à equipa deste semanário que estava ‘entre iguais’, num registo sensitivo que perdurou ao longo de todo evento.
Numa gala em que as intervenções dos premiadose pautaram por momentos de grande significado, tendo como nota comum, a defesa de uma Comunicação Social forte e independente, caberia ao Presidente da República introduzir o desassossego, ao questionar a possibilidade de o Estado intervir em ‘apoio’ dos media, interrogando-se acerca das consequências que dali pudessem advir. Se mais não for, a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa veio alertar as consciências para a necessidade de encarar de frente os desafios de subsistência de uma comunicação social forte e independente, e agitar o país político, tendo marcado a agenda a ponto de vários vozes oriundas de quase todas as forças partidárias o terem procedido, ao longo da semana passada, em declarações de tendentes à tomada de medidas de apoio aos órgãos de comunicação, face ao momento de crise que se atravessa.
(+ um) Contributo Para o Historial Concelhio
Orlando Macedo
(Director)
Foi imerso num turbilhão de sensações que subi ao palanque de entrega dos Prémios Gazeta, para receber ‘três Prémios’: um, o abraço caloroso e sincero do Presidente da República; outro, o do reconhecimento público, por parte dos meus pares; e, o mais importante – porque gerador de todos os outros – o mais alto galardão para a Imprensa Regional portuguesa, traduzido no ‘Prémio Gazeta - Imprensa Regional’.
O primeiro, recebi-o na pele de director deste semanário, mas assumi-o mais-além, enquanto ‘resistente’ activo nas trincheiras da tão mal-amada Comunicação Social Regional. Ninguém me passou procuração, mas naquele momento, senti-me em representação não só deste formidável Correio da Feira, como e também, de todos os que lutam e lutaram transparentemente por manter vivo o espírito de uma informação de proximidade, junto das suas comunidades, num registo social e histórico que nada nem ninguém pode substituir. E aqui, cabe um aceno para as centenas de títulos de imprensa regional desaparecidos deste o início deste século…
O segundo, vindo dos meus pares, Jornalistas, teve o sabor especial da tradução do reconhecimento da qualidade, quer da orientação, quer do tratamento de conteúdos com que semanalmente chegamos aos nossos Leitores. Ouvir, na apresentação, realçar-se a pluralidade e independência informativas do Correio da Feira, apontando-o como exemplo, tratou-se de uma honra única e sensitiva, que assumo pessoal e colectivamente sem falsas modéstias e tanto mais significativa porquanto ninguém tem mais competências que um Jornalista, para avaliar outro(s) Jornalista(s).
Por último, o climax traduziu-se no momento quase indiscritível do recebimento do Prémio, das mãos do Presidente da República, num acto que fica para os anais da história regional, não só deste Correio da Feira, como para o do próprio concelho de Santa Maria da Feira. Trata-se de algo único, prestigiante… e incontornável.
(É da mais inteira justiça realçar um facto: nada disto teria sido possível, sem o apoio inexcedível da Administração deste Jornal, que todas as semanas luta, ombro-a-ombro, para manter vivo este símbolo histórico da Comunicação Regional nacional)
A Precariedade em Cada Palavra
Daniela Castro Soares
Na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2017, uma palavra destacou-se das restantes: precariedade. Em todos os magníficos discursos dos jornalistas galardoados, saltaram à vista as dificuldades gritantes de uma profissão que é serviço público mas não é tratada como tal.
Há rostos por detrás desta precariedade, há emoção em cada frase entoada, há uma revolta que ninguém cala. Essa revolta acompanha-nos nas perguntas não respondidas, nas entrevistas desmarcadas, nos insultos gratuitos, nas ameaçadas escondidas, nos salários em atraso, nos estagiários que se sucedem e nos vox pop com caras que se recusam a aparecer.
Tudo isto não passa para o público, o leitor, que muitas vezes nem lê a notícia, apenas as gordas, e que encontrou nas redes sociais o espaço perfeito para criticar sem se informar. Há uma voracidade de informação que não permite a sua análise e que se vem juntar aos já tantos obstáculos desta difícil profissão. O desânimo é inevitável e percebemos que às vezes o amor (ao jornalismo) não chega.
Por tudo isso, o discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, soube a pouco. Pedir-nos para resistir, quando nada mais fazemos no nosso dia-a-dia, é como pedir a um homem com sede no deserto, a visão já turva e as pernas fracas, se pode ficar mais algum tempo sem água. Poder pode, mas corre o risco de, quando a água chegar, ele já não a poder beber. E também nós, se as condições em que trabalhamos não melhorarem, corremos o risco de um dia já não podermos noticiar. E que mundo será esse?
O Prémio Gazeta de Imprensa Regional foi uma distinção ímpar para o Correio da Feira e um alento para os seus jornalistas e colaboradores, já se notando os frutos que dele advêm. Mas não se iludam. O Prémio deu-nos o tal ‘brilhozinho nos olhos’, é verdade, mas os nossos estômagos (e o nosso frigorífico) continuam vazios, sem conseguir conceber um futuro risonho exercendo a profissão que não escolhemos amar.
Reconhecimento para regozijo do Jornalismo
Marcelo Brito
Os jornalistas, e todos os profissionais de Comunicação Social, sabem que são poucos os motivos para sorrir. O atual momento do setor, dependente de investimento público ou de uma quantidade considerável de empresas disponíveis a apostar em publicidade, não é culpa apenas daqueles que perderam o hábito de comprar o jornal ou que decidiram não renovar a assinatura anual. Há culpa dos próprios agentes, aqueles que procuram o já vulgo sensacionalismo. No entanto, é em cerimónias como a da semana transata, da responsabilidade do Clube de Jornalistas, que reúnem alguns daqueles que defendem os valores e os princípios exigidos pelo Jornalismo e reconhece-os.
É o caso do CORREIO DA FEIRA, galardoado com o Prémio Gazeta de Imprensa Regional, uma das maiores distinções, em Portugal, atribuídas à Comunicação Social. É gratificante, muito, porque ‘este já cá canta’, mas não entremos em euforias. O leitor assíduo deste periódico deve ficar satisfeito por ter a oportunidade, e não o trabalho, em ter acesso e ler a informação mais credível do Concelho da Feira. Mas não pensem que é fácil produzi-la.
É bom, em brevíssimos anos de experiência, fazer parte de um projeto que conseguiu alcançar um Prémio Gazeta. Talvez sejam precisos mais 120 anos de atividade para este semanário arrecadar outro e é bom termos essa consciência. Um reconhecimento fruto do investimento de quem gosta e reconhece, e com capital, mas principalmente da equipa que ajudou este semanário a não estagnar.
Comunicação social em crise é uma democracia em risco
Nélson Costa
A presença do Correio da Feira nos Prémios Gazeta 2017, os mais prestigiados do jornalismo português, iniciativa anual do Clube de Jornalistas, fruto da distinção para a Imprensa Regional é naturalmente um motivo de orgulho para toda a equipa desde semanário com 121 anos de vida, em particular para a sua equipa de jornalista, mas deverá o ser igualmente para as gentes de Santa Maria da Feira.
Dos vários discursos proferidos na sala do Pestana Palace Lisboa Hotel pelos distinguidos para os Prémios Gazeta 2017, a nota dominante foi a crise e as dificuldades por que estão a passar os meios de comunicação – fake news, precariedade laboral, agravamento dos problemas financeiros, etc. Entre outros, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou que “há uma situação de emergência” nos meios de comunicação social portugueses e que “já constitui um problema democrático e de regime”. Já o presidente do Clube dos Jornalistas, Mário Zambujal, salientou que “o valor maior do jornalismo é a sua credibilidade”. Duas inferências se podem retirar destes discursos (como de outros). Os Prémios Gazeta são apenas atribuídos aos que exercem o jornalismo defendendo o rigor, a responsabilidade e a ética exigidas à profissão porque uma comunicação social em crise é uma democracia em risco. Não há democracia sem uma imprensa rigorosa e isenta.
Assim, os feirenses ficam conscientes (se dúvidas houvessem) que o Correio da Feira está cá para “resistir” (citando novamente o Presidente da República) às dificuldades na defesa dos valores éticos do jornalismo, na defesa da sociedade e da democracia.